Área particular. Mantenha-se afastado!

Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Voltando?

Saudações à todos!

Estou fazendo uma releitura para estudar a possibilidade de dar continuidade à Jazebel.
Aceito colaboração. Preciso de revisor e ilustrador.

Alguém se habilita?

Obrigado,

Szir GanoN

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 009]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 009]

Jezebel, jogada, desfeita. Era uma poesia parnasiana nas mãos de um concretista. Algo quase surreal. Tudo para dar errado, por isso, vinha dando tão certo.
O mundo rodava em uma órbita sem igual, nunca antes sentida.
Ela, uma apaixonada por flamenco, só conseguia lembrar de Carlos Saura e sua mais famosa película de Peteneras. Um canto triste, melancólico embasado em complexa forma poética.
Carlos dizia: Sentenciado estou à morte se me vêem falar contigo.

Após breve sono – e ela não entendia como dormia tão fácil e profundamente ali – ela desperta com o cheiro de comida.
Não havia visto, mas à sua frente estavam:
1. Duas vasilhas, uma de cão e outra de gato, repletas de alimento.
2. Um punhado de corda.
3. Uma navalha.

Jezebel não soube o que pensar. Olhou para todos os lados e nada de Dom Demétrius. Nenhum barulho, movimento de som. O silêncio gritava tão forte que era possível ouvir as intensas ondas cerebrais batendo na praia da insegurança, convidando um surfista viciado, o medo, a tubar em seu meio ou manobrar em sua crista.
A comida era bonita, aspecto saudável, cores deliciosas, cheiros impagáveis e arrumação de bistrô francês. Um prato alternativo.
O tempo passou para aquela mulher. As vasilhas não se mexeram, a corda não serpenteou seu corpo e a navalha não abriu uma boca para sorrir e lhe dizer “oi!” qual as criancinhas do comercial da operadora de celular.
O medo era maior que a fome, que era maior que a razão.
Olhava para a comida ainda quente e o desejo era de experimentar. Mas e aí? E se comer significasse ter que usar a corda e aceitar o corte da navalha?
Tantos couros de pele pendurados... Será que foi assim que os conseguiu? Será que as peixas morriam pela boca e não pela fome de sexo?
Jezebel era só pensamento. Sua face estava vermelha, seus olhos rodavam freneticamente no globo ocular, sua pele clareava, escurecia, clareava, fumegava.
Ninguém? Sozinha? Um jogo de abandono?
Sua mente começara outro motim. O intuito era sabotar a submissão que comandava o barco e sair em exploração. O quadrado onde estava era uma ilha, logo depois o mar de suas vontades e mais adiante o continente pronto a ser tomado, explorado e assumido. Ela não ousaria. Não tinha disponibilidade para tanto.
A fome foi ativada com o cheiro da comida.
A fome foi ativada com a cor da comida.
A comida foi ativadora na fome de Jezebel.

O tempo passou, a mente desesperou e nada aconteceu. Nada.
Dom Demétrius não apareceu, não apareceu música em som, vento em esperança, vultos em confabulação. Nada.
Ela queria. Sim, Jezebel não suportava a solidão. Ainda mais de estar vazia como estava.
A comida esfriou e qual um cão treinado não a comeu. Comida só das mãos diretas do Dono e Senhor de si.
A corda era de juta, a navalha, antiga, era de fio preciso. Apurado. Daquelas que ainda usam tira de couro para amolar. A tira estava junto, era acessório na embalagem.
20 metros? Não dava para saber quanto de corda havia ali.
Um cheiro! Jezebel sentia o cheiro do perfume Daquele homem. Enfim, Ele chegara! Qual um cão farejando seu Dono, ela o percebeu. Se arrumou, ajeitou-se no chão, ajeitou a roupa que não tinha, os cabelos que ali estavam e orgulhava-se por não ter comido nada, mexido em nada. Estava feliz. O rabo mexia freneticamente. Era incontrolável. Se a dois segundos atrás ela queria matá-Lo, agora bastava seu perfume para querer amá-Lo.
A posição escolhida foi de joelhos, testa no chão, sola dos pés para cima, mãos com as palmas para cima, humor em riste, esperança acima de tudo, todo o mundo para cima, acima, em riste!

O cheiro fica mais forte. O rabo abana mais.

O tempo é de quem tem o tempo, oh senhor.
T empero agridoce
E staca de madeira seca
M ulher nas luas das luas que vem
P ossibilidades vociferantes, vorazes
O nde tudo é nada, nada o é. Tempo.

O tempo passou, a posição incomodou, Jezebel esperou. O perfume ficou tão forte que Ele parecia estar à sua frente, mas ao levantar a cabeça nada via. Não O via. Sentir era viável, ver impossível.
Jezebel, pela primeira vez chorou sentida. Chorou com a verdade das lágrimas que lhe banhavam os seios. Os dois.
Sua pele aquecia e esfriava, seus olhos enchiam e esvaziavam. Seu mente não perdôou nada.
Quem era Ele para brincar assim com ela?
A vontade foi de gritar, quebrar tudo, extravasar.
Não. A vontade foi de ir embora sem olhar para trás.
Não. A vontade foi de não ter vontade alguma. No fundo toda aquela mescla de tudo e nada, tempo e espaço a burilava os sentires. Um liquidificador onde as matérias primas perdem-se em valores. Partículas do que foi, disponibilidades, nem sempre sabidas, do que será.

Jezebel não sabia o que fazer. Não fazia nada. Queria fazer tudo.
O jogo não era mais Dele.
O jogo não era mais dela.
Então de quem era o jogo, afinal?
Do tempo, senhores.
Só o tempo jogava. Só o tempo administrava os desejos e as vontades.
Só o Tempo expurgava as verdades inflamadas em cada um.
Tanto Dom Demétrius quanto Jezebel estavam a mercê do tempo. O senhor de tudo.
Fosse perdido o tempo, não haveria tempo que compensasse.
O choro ia alto quando Jezebel ouviu passos. Calou.
De um salto olhou. Nada viu. Agora o Tempo passará a batuta para o Nada?
Mais passos. Mais fortes. Mais rápidos. Mais perto. Mais perto. Mais perto.
Seu coração acelerou, seus olhos sintonizaram a pouca luz do ambiente, seu peito se abriu. Ela acreditou.
Numa dobradinha digna de craques de um futebol já esquecido, Tempo e Nada organizavam tudo. Jezebel não sabia se era bola, jogador, goleiro ou trave. Árbitro ela não teria condições de ser. Não queria ser. Naquela situação, não saberia ser.
Jezebel chegou a um ponto - Tempo! – em que não sabia o que pensar.
Jezebel cegou a um pingo – Tento! – em que não sabia o que pesar.
Jezebel chegou a um passo - Tango! – em que não sabia onde pisar.

E Demétrius, onde estaria, afinal?
Seria Ele o controlador de tudo aquilo?
Teria, Ele, o controle até mesmo do Tempo e do Nada? Jezebel deu-lhe força para tanto? Sua força chegara a esse complexo tango de valores, passos e porturas?

Jezebel tinha a sensação de estar constantemente vigiada. Será que, de alguma forma, Ele a via?
Onde estava Aquele homem? O tempo estava correto? Ou será que a demora fazia com que todo o tempo se perdesse em nada?

O silêncio era tamanho que dali seria possível ouvir o cair de uma agulha no Tibet.
O silêncio era tamanco de gueixa, balde de lavadeira, instrumento de percursionista. Você sabe exatamente o que é, mas nunca arrisca um palpite. Seria arriscado demais.

Entendi. O Silêncio era o terceiro jogador naquela seara. Um mercador astuto que aparecia justamente na hora de fechar negócio.
O mundo estava mudo ou ela perdera o sentido da audição?
A fome não existia, os sentidos persistiam, as vontades iam e vinham, mas Dom Demétrius não aparecia.

Jezebel levantou-se. De pé.
- Quem mandou que levantasse, submissa?
Ela tomou um susto ao ver que Ele estava atrás dela. Camuflado na parede. Esteve ali por todo o Tempo? Mas como, se ela não ouvira sua respiração? Seguramente se Ele estivesse ali por todo o tempo, ela teria ouvido os batimentos de seu coração. Se bem que um homem como aquele não devia ter coração.
- Senhor.
Ela mesclava felicidade, espanto e mais nada. Seu tempo chegou. Acabara a dor. Um alívio instalou-se em seu peito, um peito abriu-se para o alívio que instalava-se. O Nada gritava que não queria sair do jogo. Ela o sentia também.
Agora Tempo e Nada voltavam a normalidade. Mas que normalidade!? Jezebel estava sob o dominio Daquele homem por somente um dia, uma noite e, agora, meio dia. Isso é tempo? Tempo suficiente para ter padrão? Quem é o Tempo? Quem é o Nada? E o Silêncio? Quem são esses cavaleiros, senhores?
Jezebel O olhou, fitou nos olhos daquele homem que a cada segundo a arrebatava mais.
- Jezebel, oras... Você não comeu, cão. Exclamou Ele em tom irônico, afinal ficara feliz pelo adestramento indireto ter funcionado.
Ela respondeu com um abaixar de cabeça, com um olhar perdido, com a cabeça nas nuvens e o coração em prantos. Ele estava ali. Ele!
Dom Demétrius a olhava, olhava para as vasilhas, olhava para a corda, para a navalha. Olhava para Jezebel.
O que via?
O que viria?
O que seria?
Qual o jogo agora? Qual?
Tempo? Nada? Silêncio?
O que viria? Espaço? Tudo? Sons?
Jezebel olhava para o chão, para Dom Demétrius, para seus pés. Para si.
- Uma pena não ter comido enquanto não estava quente, Jezebel. Talvez queira algo mais animal, mais você, não, cão?
Ela abaixa a cabeça, Ele continua com sua voz tranqüila, seu ritmo quase valsa, seu timbre quase tango.
Ela O ouve. Num ritmo luz, numa cadência relâmpago, “Allegro ma non troppo”
É, aquela partitura era difícil de executar, incomum de tudo que já havia visto, vivenciado, possibilitado.
Jezebel, era um misto de encantamento, dor e sentir.
Jezebel, era um misto quente que, se frio, não teria o mesmo sabor. Como um calor pode fazer tanta diferença?
Explicitamente, Dom Demétrius era o maestro de todo aquele sentir. Com uma batuta fina, quase invisível, Ele orquestrava de forma magistral. Ele controlava até os pensamentos daquela mulher que sempre, ao ler sobre a ditadura, dizia que, naquela época mataria uns mil. A sua frente tinha somente um e ela era incapaz de mover músculo sem a ordem direta Dele.
Um concerto!
Bom para público, para músicos, para Jezebel.
- Vamos seguir, Jezebel!
Ele lavanta a voz, anima o som e preenche o ar com uma luz diferente.
Pega a corda, pede que Jezebel O acompanhe para uma outra parte do salão. Ela O segue. Não deram mais que uns dez passos para chegar a um quadrado vasto, de desenho místico no chão e espaço suficiente para um transar de mãos, corpo, corda e o nascimento de um shibari.
Shibari, aliás, era o grande tesão de Jezebel. Nunca o recebera, sempre sonhou com ele. Era sabido que o Shibari de Dom Demétrius era artístico, bem trabalhado e repleto de misticismo.
Ela queria aquele momento, seu coração se alegrou. O Nada fora definitivamente expulso de cena. A Emoção fora convidada de honra (e glória!).
Agora sabia que as vasilhas eram para serem consumidas, a corda para o shibari, mas e a navalha?
Ela não pensou mais nisso quando Ele lhe ofertou uma venda e, gentilmente, pediu que a colocasse. O fez.
- A partir de agora perde um dos seus sentidos mais ilusórios, Jezebel. A visão é uma menina rebelde que insiste em manipular quem a vê. Ela é como uma luz que cega a uns e faz ver a outros.
O grande segredo é a permissão que cada um se franqueia e o quanto aciona os outros sentidos.
Se permita ouvir mais, sentir mais, cheirar mais. Tatear com o corpo.
A falta de olhar lhe fará perceber os muitos ritmos, ritos e cores das músicas do mundo, Jezebel.
Não é a falta de olhar que lhe fará não ver, mulher.
A venda, em verdade, foi um carinho. Jezebel sonhou tanto com aquele momento que ter os olhos vivos faria com que o coração puxasse a morte em batimentos freneticamente descolorados.
Seu corpo suou quando a juta lhe pesou no pescoço para o primeiro passe.
Uma puxada, um aperto, mais uma passada.
Jezebel achou que iria desmaiar.
Não se sabe o porque, mas Dom Demétrius apenas disse:
- Dance, jezebel. Dance com a corda, mulher.
Ela dançou, senhores


Não tenham dúvidas. Para ver o Shibari na íntegra, acessem o video acima. Ele mostra, com riquezas de detalhes toda a sessão de shibari.

(continua na próxima semana?)
(Volto para ilustrar e revisar durante a semana)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 008]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 008]

A mesa era plena. Algo que, no nordeste brasileiro, chamariam de “pequeno almoço”.
Jezebel estava incomodada, Dom Demétrius não parava de olhá-la. Seus seios eram belos para sua idade, firmes, bem desenhados, de auréolas definidas, mamilos pontiagudos, convidativos. Tão róseos quanto um final de tarde com pôr do sol de luz redondamente avermelhada em amarelo tingindo azul. Aberto e vivo.
Dom levanta-se com uma pequena caixa na mão. Ela já estava ali quando chegaram, mas como muitas coisas naquela mesa, não fora notada.
Ao chegar a frente de Jezebel, a abre e deixa escorrer várias agulhas. De todos os tipos e tamanho. O apetite de Jezebel escorre diante da visão. Ela tinha verdadeiro pavor de agulhas. O medo era tamanho que chegava a tomar calmantes para fazer um simples exame de sangue. Sim. Fazia os exames dormindo. Isso saia mais barato que suar frio diante da possibilidade de se ver invadida por aquele objeto práteo-perfuro-agoniante.
Seu corpo tremeu, o coração disparou de uma forma tão violenta que a vida teve ímpetos de sair de si.
- Rápido! Vamos todos! Corram!
Alguém gritava dentro de si para todos os outros orgãos.
A cor da pele (sempre muito bem colorada devido aos bons tratos) foi a primeira a pular ao mar. Escorreu.
Sua cabeça perdeu os cabelos, que deixou agulhas no lugar. Eram pontadas intensas, vivas, sem a menor noção de ritmo. Cabelos e pele são amigos. Tinham que ir juntos. Escorreram.
Os ombros ainda tentaram fazer a proteção das couraças, curvaram de encontro, um ao outro, caíram com o peso da chegada, e expansão, do exército do medo.
Marcha de mais de mil homens. Pressão, barulho cadenciado, olhares fixos, mas perdidos no salão de dança onde valsam os menos enebriados.
- Morte! Vamos para a morte! Era o coro daquele batalhão invisivelmente visível.
- Soldado do medo onde vaaaai você?!
Gritava, cantando, o vibrador sargento.
- Eu vou mataaaaar ou vou morrer!
Respondiam em coro forte, único e sob a percussão do coração.
A terra tremia abaixo de Jezebel.
A terra temia,  à baixo Jezebel!
Dom Demétrius não precisou fazer absolutamente nada. Só deixou as agulhas caírem na mesa. À frente dela. Só. Mais nada. Foi ela quem fez tudo. Sozinha. Dentro.
Ele sabia que acionara um botão importante.
Passou por trás dela, sentou do outro lado da mesa, ao lado dela, com a distância de uma cadeira. Uma entre os dois. A olhava com sorriso de canto de boca. Ela olhava para Ele, para o chão, para si. Não. Ela não conseguia olhar para as agulhas. Um monte. Várias! Dava para dizer que tinha umas trinta, mas ela via um milhão. A mesa era só agulhas, em sua mente. Seus olhos, que não escorreram com a debandada de "alguns outros", mostravam muito mais do que havia; afinal, sua função era olhar e não processar.
O cérebro, o comandante de um navio que afundava aos poucos, tinha muito para resolver diante dos fatos e os olhos eram masculinos. A prioridade eram as mulheres (a sanidade e a emoção, por exemplo) e as crianças.
A música no ambiente era erudita e incidental, mas não se ouvia nada. Melhor, ela era ouvida pelo corpo daquela mulher que desesperava mais e mais a cada novo segundo.
- Fala algo, Senhor, por favor.
Um suspiro? Um sinal de vida e luz? Ou uma cápsula de sobrevivência, inacreditavelmente, ainda disponível?
Dom Demétrius era experiente. Não respondeu. Não com a fala. Olhou para as agulhas, olhou para aquela forte e, por isso, náufraga mulher, sorriu suavemente. Nada falou.
Ela gemeu um canto gregoriano que chegou a ouvir a si mesma. Suas pernas, que assim já estavam, fecharam ainda mais. Seu coração descompassou. Seu suor. Desceu! Ela molhou-se toda. Sim. O suor queria escorrer para, também, abandonar o navio.
Dom Demétrius joga uma toalha e sinaliza que ela use. Ele evitava a linguagem da fala e abusava da corporal. Dos sinais. O que ela sentia era primitivo demais para chegarem à elegância da comunicação verbal. O que ela sentia era o mesmo que o homem de amanhã sentirá e que o de ontem sentiu: Pavor. Um sentimento que foi descoberto muito antes de fogo e roda, mas que muda o homem assim que se instala, de forma consciente, na prima descoberta.

Homem. Mesmo com a roda e fogo, tu só o será - homem - quando descobrir seu próprio medo e se apavorar ao perceber que ele roda em fogo.

Ali, naquele campo de batalha, ela era vítima e algoz.
O elefante até pode ganhar do rato, o gladiador dos leões, o homem de bem do sem lei, mas a história mostra que nem sempre é assim. Mas... quem era Jezebel naquele contexto? O rato astuto ou o elefante passivo (e grandandão)? O gladiador com medo e pensando mais na sobrevivência que na batalha? Ou o leão que, por puro instinto, só pensa em derrotar o que se move à sua frente? O homem de bem que tem regras, uma imagem e postura engessada ou o sem lei que assume como única premissa estar vivo? Santo Agostinho dizia: A necessidade desconhece leis.
Quais eram as necessidades de Jezebel? Quais leis precisaria desconhecer para ser e estar são e salva de si mesma? Era ela! Ela era tripulação, navio e mar! Não era a tempestade, mas era toda a outra parte do quadro. Até moldura.
Ela saltou muito mais que alguns metros quando Dom Demétrius esticou o braço e chacoalhou as seringas.
Seus olhos arregalaram. Outro gemido. Esse seguido de um canto de gueixa. Só um suave grito acompanhado pelo vibrar de cordas quase sem ritmo. Algo não compreendido pelos ocidentais e tão apreciado pelos povos do oriente.
A saliva não passava por sua garganta, afinal aquilo era entrar e todos queriam sair, lembra? O navio estava sendo evacuado.
Ele mexe nas agulhas. Pacientemente as espalha, parecia procurar alguma em especial. Ela balança a cabeça em negativa, junta o queixo ao peito. Um ato de possível resignação, mas aquilo não durava. Se no momentoA o cérebro entendia que era um jogo, no momentoB ele se perdia e estudava todas as possibilidades (negativas) e só via o pior: ser furada pelo práteo objeto que seu vil metal a possibilitou negar.
Com uma agulha, de insulina, bem pequena, na mão Ele olha para os olhos daquela mulher rato, ou elefante, e fala, descontraído e totalmente alheio ao desespero dela. Usa o verbo depois de longo período usando outras prosas em versos.
- Essa é a menor que tem, Jezebel.
Ela confirma com a cabeça. Confirma sem, de fato, saber ao que confirma. Sem notar que não tratava-se de  uma pergunta. É mulher estressada. Cega, Crua. Cem gloss.
- Seus seios são sabotadoramente sensuais. Belos...
Ele deixa o final no ar e isso foi o suficiente para que ela entrasse em pânico de novo. Ondas imensas empurravam aquele navio, a noite contribuía para um cenário de completo caos, os barulhos, das pessoas, era apavorador. Todos os seus sentidos reclamavam atenção do cérebro e ela não conseguia administrar com toda aquela pressão.
Ele aproxima a agulha de Jezebel.
- Senhor, por favor, eu tenho trauma com agulhas. Não posso com elas, por favor.
Ele a olha, sorri sadicamente.
- E?
Pergunta Ele qual criança testando a paciência da mãe e estudando possíveis limites.
- Aí, Senhor, por favor. Eu não dou conta disso, Senhor, por favor.
A mão Dele para a mais de dois palmos de lonjura, mas o corpo dela continua empurrando a cadeira para trás. Fez isso por quilômetros. Sem parar. Sem olhar para trás seu corpo dirigiu aquela cadeira, nas estradas do medo, feito um piloto em fuga. Seu suor era tamanho que o vestido estava totalmente molhado.
Proposital ou não, o tecido era daqueles que mudam de cor ao ter contato com a água. Será que ele, o vestido, também queria abandonar o navio e começara a evacuar cor por cor? Correr quilômetros, sem parar, na estrada do medo?
Jezebel era de uma confusão mental tamanha que não viu que Dom Demétrius havia largado a agulha e fora, com o dedo, acariciar seu mamilo direito. Ela saltou. Levou a mesa consigo. Derrubou a xícara de café, espalhou o pão, derramou o leite. Adianta chorar? Não. Mas Ele a olhou fixamente e ordenou com a firmeza de um cirurgião:
- Chora, Jezebel.
Com a precisão de um torneiro mecânico (que analogia, não?) ela chorou. Compulsivamente aquela mulher era de um pranto incomum.
O choro não vinha de dentro, afinal todos já haviam abandonado o navio. O choro vinha como se fosse um ciclo onde ela reciclava o suor do corpo, o absorvia, e devolvia como lágrimas.
Ela estava gelada, confusa.
- Chora mais, mulher.
Ele mandou, ela desesperou. Não sabia ao certo porque chorava, mas Ele sabia que era por conta da agulha que furou-lhe a mente. O jogo psicológico.
Seu dedo, para todos, seria somente um dedo, mas para ela era um feroz rato-leão-homem sem lei. Um inocente (será?!) elefante-gladiador-homem de bem.
Entrou fundo, dilacerante. Tão forte e tão devagar que foi impossível não sentir o rasgar da pele, a drenagem das forças, o fogo do ferro. A descoberta do tal fogo e roda. O pavor de existir.
A agulha (dedo?) entrou sem pedir licença, não mandou batedores para abrir caminhos e fechar os principais cruzamentos. Sim. Ela - a Ministra das relações das dores interiores, a agulha - era autoridade, tinha status de Chefe de Estado, mas veio sem avisar. Quebrou o protocolo e entrou tão sem música e sol adentro que a dor fez um espetáculo mambembe. Tão improvisado que somente as crianças achariam graça, na praça. Ela era adulta. Chorou.
O fio do passo, o frio do aço, o filho do ato, o físico do parto era tamanho que todas as luzes do palco se apagaram. Simples assim: acabou a peça.
Esperar? Aplaudir? Cada um sabe de si. Mas só se houver consciência para isso.

Jezebel ainda chorava quando Dom Demétrius levantou, a levantou e a tirou para dançar.
Em seu ouvido sussurrou: - Você morreu... Agora já pode dançar livre de si mesma.
Ela, intimamente, sorriu, deixou-se levar e achou-se louca em toda aquela sanidade.
O bailar era sério, Dom Demétrius era um condutor, em todos os sentidos, prestimoso, cordial, elegante e justo. Não deixava folga para erros e a dama sempre sentia-se segura diante desse fato.
A dança começou ao lado da mesa e acabou em um enorme salão. Um daqueles apresentados quando ela entrou.
Jezebel estava molhada, suada, ainda tremia. Estava longe das agulhas, mas muito próxima à sensação de medo. Aliás, o medo foi um dos poucos que não abandonou o navio.

A música tocava o esguio corpo daquela mulher, o bailar a acalmava e fazia, aos poucos, resgate de todos os sobreviventes daquele tragedramático naufrágio.
- Tenho sede.
Ela não entendeu aquele sussurro. Optou a imitar os orientais fora de suas terras que, ao ouvir algo que não compreendem, ficam calados e agem como se nada fosse dito. Calou.
- Ainda tenho sede...
Agora ela ouviu, seu corpo tremeu, afinal estava em uma operação de resgate e qualquer mudança de clima poderia ser fatal para os poucos sobreviventes.
Ele a rodopia forte, tão forte que o cérebro pensou em desconectar do corpo. Impossível.
Grita com o aumentar da música: - Sede!!!
Ela, claro, assustou com aquela reviravolta de estado. Um vento sul, sem norte, tão forte que acaba com toda sorte.
Às voltas e rodopios, às músicas e trocadilhos Ele só fazia repetir que ainda tinha sede. Sinceramente? Parecia um vampiro que acabara de beber litros e litros de sangue e, revigorado, queria mais de sua vítima.
Aos rodopios Ele passa próximo a uma das, muitas, velas que ornavam o local e iluminando seu próprio rosto se faz Shakespeare. Olhar de drama. Voz de drama. Ar de verdade. Era um drama. Ele tinha sede.
Com uma das mãos, sem parar de dançar, segura a vela, une seu corpo ao daquela mulher e, com a outra mão puxa seu vestido. O vestido foi submisso ao aceitar o rasgo que lhe foi ofertado.
O barulho do romper das fibras foi instigante(mente) sedutor. Um só puxão. Suave. Um só rasgo para que o dado vestido se deixasse ir naquelas mãos. Mais um e já não havia mais bela peça inteira. Jezebel estava nua. Rodopiando, um tanto perdida, já que não havia nenhuma das mãos do cavaleiro condutor em si. Dessa vez não havia mesa à sua frente, cordas que lhe prendessem as mãos. Podia correr. Quem disse? Os olhos Dele não saiam de dentro dos olhos dela. Era por ali que a dança fazia seus pares. Era dentro que a música da Dominação tocava seus envolvidos.
Não haviam mortos nem feridos. Eram os dois. Olho no olho. Ambos, cada um à sua maneira, nu. Cada um do seu lado. Só. Juntos.
De um salto, Ele a vira. Param de dançar. Agora seu corpo seria o salão para a dança da vela que, com seu calor, deixaria seus pingos. Agora era a vez de outro naufragar naquele Triângulo das Bermudas.
Jezebel fora colocada de pé, abaixada o suficiente para expor suas costas.
A vela fora colocada deitada, suspensa o suficiente para expelir suas crostas.
Um pingo. Um “aí”.
Outro pingo. Um balançar.
Pingo. Reação.
Ação, contra-ação.
Ela tentou andar. Seco. Ele a mandava ficar, voltar, virar, rodopiar.
Era irônico em algumas observações. – Para, Jezebel, volta, Jezebel. Parece pipoca! Sente a vela, Jezebel. Sinta-se, Jezebel.
Eram tantas as Jezebeus que uma só nunca daria.
Seu corpo, antes nu, agora tinha uma nova repaginação. Os pingos da vela. Ela, a vela, na hora do pânico, transferira, para Jezebel, todos os seus tripulantes.
Diferentemente do que ocorrera com ela, que ninguém socorreu os seus, ela socorrera a vela e abrigou todos os seus pintos.
Dom Demétrius a levou para uma parede vazia, pediu que assumisse a posição de revista (mãos no alto da parede, pernas abertas e afastadas...) e lhe colocou uma venda. Ela esperava por tudo. Acreditava que já havia passado por tudo.
Ali, vendada, ela ficou por um sem fim de tempo. Descalça, sem roupa, sentindo o peso do suor, da cera, do medo ela ficou.
Quanto tempo? O que é tempo em um lugar como aquele? O tempo desconhece lugares assim. Seu medo pode fazer cinco minutos virarem uma eternidade, seu prazer pode fazer uma eternidade virar apenas alguns poucos minutos.
Ela não ouvira passos, não percebera movimento. Um novo naufrágio se inicia? Ela, usou o microfone (interno) para pedir calma a todos os passageiros e acionar a tripulação.
Uma importante – e influente – “socialite”, senhora Impaciência Psica Surtado, esposa do Sr. Excelentíssimo Pânico Surtado. Uma das maiores fortunas daquela sociedade. Começou a andar de um lado para o outro e, como tinha uma corja de séquitos, muitos iam com ela. Aquele ato quase inicia um ato de pânico do Sr. Pânico, mas parece que Dom Demétrius não queria isso. Antes que ela o chamasse pela décima vez. Sim. Ela chamou “Senhor” algumas vezes. Não se mexeu, não saiu do lugar, mas chamou. Nove vezes. Ele aparece através da figura de um forte barulho e vento.
Um chicote de muitas caudas fazia a corte e o favor de tirar-lhe a cera das costas.
Jezebel recebeu a visita do Susto, mas senhor desespero não embarcou. Em verdade, ela ficara feliz. O jogo de abandono é um dos piores para quem tem a necessidade de controle.
Com Jezebel não era diferente.

Uma passada precisa e a cera saía. Não havia dor para Jezebel, pois o chicote não queria sua carne. Estava a enamorar a cera, não tinha olhos para outras. Não queria pele, e tão pouco se importava com um possível concorrente. O suor. Esse vinha abundante, ocupava todos os espaços e forçava passagem até por onde não havia convite.
Ela gemia diante do vento causado pelo chicote e da pressão que, embora sem dor (repito), havia sobre si.
Nenhuma palavra fora trocada naquela dança de chicote, cair de cera e suar de corpo.
Nenhuma palavra fora trocada naquela dança de chicote, cair de cera e suar de corpo.
Nenhuma palavra fora usada na queda da transa do chicote, sair de cena e suar de porto.
Jezebel sentia um tremor agradável, um frescor bem vindo e via a lua brilhar satelizando a órbita de seu prazer.
O chicote para, o barulho some, o vento não volta.
Suavemente a mão daquele homem passa por entre suas pernas, toca seu sino e avisa o horário da missa das seis.
O toque, em seu sino, era tão suave que a vontade era pressionar contra. Ele não permitia e afastava diante das investidas dela.
Ela delirava com aquilo. Era bom, era frescante, prazente e ensurdecedor. Ela não se ouvia quando gemeu alto, gritou forte e bateu os pés contra o chão para puxar aquele que seria um de seus melhores orgasmos do dia.
Ela escorreu pela parede, abandonou o próprio barco, mas dessa vez o motivo foi nobre. Pura falta de forças e completo estado de exctasy.

Dom Demétrius afastou-se e a deixou em seu momento. Sentou e apreciou aquela Ópera da China, aquele teatro de sombras. Espetáculo único. Butoh!

(continua na próxima semana?)


Dom Demétrius e Jezebel chegou ao meio. Que tal escolher a próxima série?

Mestre Riachuelo - Sádico e Sedutor 
ou
Sub_Miss_A - A eterna busca de uma princesa

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 007]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 007]

Estrondo foi o barulho que veio do nada. Água por todos os cantos acordava Jezebel meio a um susto com uma metragem cúbica infinitamente maior que todos os oceanos juntos.
A música era alta, as luzes estavam todas voltadas para seu rosto.
Água! Água! E mais água!
Ela sufocava, não sabia o que fazer. De um salto tentou levantar e buscar um canto, um abrigo, um seguro porto seu.
Estava amarrada. A confusão mental não deixara-a ver que as amarras eram físicas.
Sonho?! Eu pensaria em pesadelo. E daqueles que nem quando acordamos acaba.
Completamente perdida, diante de tanta água só restou gritar. Grito de mulher. Estridente, alto, vivo. Mulher.
Seus pulsos marcavam com a corda, seu corpo molhava com a água. Vinha de cima.
Seu nariz ardia, seus olhos doiam, sua boca tremia e logo ela pode ver Aquele homem com uma corda na mão, um chicote na outra e um sorriso sádico tão à mostra que parecia produto de luxo em loja de excelência. Estava nos lábios.
- Dormiu bem, Jezebel?
A água parou. Já era sábado. Ela O olhou e não respondeu. Ele continuou.
Espero que tenha dormido bem. O seu dia será intenso e estar descansada fará toda a diferença.
O chicote bate, firme, bem ao seu lado. Ela pula, ele sorri.
Qual criança que descobre um novo brinquedo, Ele brilha nos olhos e deixa o chicote descer de novo. E de novo. E de novo. Cada vez mais próximo, cada vez mais junto ao corpo daquela mulher que ainda não acordara e sentia-se perdida.
Como aquele doce de homem de ontem, pode se transformar no monstro de hoje? Ela pensava e O olhava fixamente. Ele não parava de bater com o chicote na cama e o caminho desse couro duro, trançado seguia rumo ao seu corpo.
Pela força e pressão da cama ela sabia que não suportaria. Pela cara Daquele sujeito ela sabia que o chicote desceria com o ar da dor, a força da marca, o calor do fogo e a ardência de um vulcão.
Vulcão arde? Sim, vulcão, quando é dentro de você, arde de fazer doer calado. Arde qual traição de gente fiel que trai inesperadamente, inadvertidamente. Traição arde. Chicote arde. Sadismo não arde. Faz arder. E muito mais que traição ou chicote.
- Acorda, Jezebel! Gritava Ele em tom de brincadeira. Nesse mesmo tom batia o chicote.
- Olha, Jezebel. Ele está indo de encontro a sua pele. Ele a deseja, mulher.
Seus olhos estavam fixos, quase uma hipnose, próximo a uma persona louca e desequilibrada que apaixona-se mais pela peça que pelo ator, mais pela poesia que pelo poeta, mais pela luz que por sua fonte.
- Senhor, por favor, Senhor.
Ela começara a esquivar o corpo, defender a pele. Juntar poeta e poesia em um só contexto.
- Por favor, o quê Jezebel? E batia com o chicote em direção a carne. Não parava. Não diminuía a força, não facilitava. Parecia não ser um jogo de faz de conta. Era a hora da verdade? Qual verdade?
- Ah, Senhor... Eu falei que não sou masoquista, né? Sua voz tremia, seu corpo, que antes estava molhado da água que o banhou, agora estava molhado e quente. Do suor que vertia.
- E eu falei que era sádico. Seu sorriso era pior que suas palavras.
- Ah, submissa, por favor...
Ele a imitava o tom, batia mais forte.
- Vai, vamos fazer um acordo, pode ser?
Ele levanta o chicote qual um policial levanta sua arma para o céu afim de negociar com o bandido.
Ela o olha, mas teme responder. Ele a olha e espera uma resposta. Ela não fala. Ele sorri. Faz menção de descer o chicote e ela pula. Ele sorri de novo e outra ameaça.
- Senhor!
Para Ele o prazer não estava no bater. O maior prazer estava em ouvir o coração de uma submissa bater tão forte que até um surdo ouviria. Seu prazer era o vibrar do motor de uma mente que liquidificava emoções à frente das sensações. Ele queria, mesmo, o fogo gerado pelo cérebro e atingia o corpo por entender que ele era uma porta legalmente constituída e judicialmente empossada.
- Oi, Jezebel, fale filha. Sim. Embora não apreciasse jogos de infantilismo, Sua voz era patriarcal. Um sádico padre a serviço escravo da paróquia que o acolhera (em nome do Pai).
Ela deixa passar o tempo, seu peito estufa, esvazia e lota de novo. Esperança?
Ele, sem tirar os olhos dos olhos dela, deixa o chicote descer na cama. Dessa vez foi mais barulho que força e o ouvido é o órgão mais medroso que o homem pode ter. Ela saltou mais alto e falou.
- O Senhor não propôs um acordo?
Ele bate, dessa vez bem mais próximo. Ela sente o fogo no rabo do chicote, sua pele esquenta, seu coração dispara, seu corpo salta e sua chave de alerta de pânico dispara. O alarme soou dentro e fora: cada um deve cuidar de si. Ela gela, o corpo precisa iniciar o processo de auto preservação, suas pernas travam, sua mente fica confusa e, intermitentemente, manda-a sair dali, ela puxa seus punhos na tentativa de sair da corda, todo o seu corpo adormece.
- Propus, e...?
Ela responde ágil, não queria saber onde o chicote desceria em sua próxima viagem.
- Porque eu quero um acordo, Senhor. Eu quero. Juro que eu quero. Aceito qualquer coisa, Senhor. Olha... não faz assim... Ah, Senhor, eu sou boazinha, olha! Senhor, fala comigo, Senhor. Eu estou nervosa. Ai, meu Deus...
Ele sorria. Adorava ver o pânico instalado, a mente aberta, os olhos saltando e o homem perdendo a única coisa que o difere de outros animais: o raciocínio lógico a bem do poder de negociação.
- Qual acordo quer, Jezebel? Ele fala duro, seco, mas o ar de sorriso ainda impregna o ar qual um incenso indiano entra em todos os cantos e deixa sua marca. Massala!
- Então, Senhor. Quero um acordo. Eu quero. Quero sim, um acordo. Por favor, vamos fazer um acordo, né?
Ela não percebe, em sua loucura, que fora Ele quem propôs o acordo, logo tinha que ser Ele a apresentá-lo. Ele, Senhor de si, diverte-se com tudo e segue a valsa daquele casamento entre submissa e medo de uma dor desconhecida.
- Fale, Jezebel. Eu a ouço. Pode falar, a ouço sim, afinal você é boazinha, né?
Ela não percebe a ironia e que Ele a imita em tom, olhar e postura.
- Sim, Senhor, eu sou muito boazinha. Sou sim, eu não faço besteiras, eu sou gente boa, sou uma menina legal, Senhor.
- Então me diga qual é o acordo, Jezebel.
Ela se perde completamente. Ao buscar um acordo na mente, não havia nenhum. O que fazer? Morrer? Sumir? A exemplo de outras vezes, e fora dali, simplesmente dar as costas? Nada daquilo era possível. Tudo aquilo tinha que ser pensado.
Ficaram mais de dois minutos olhando-se. Ele com ar de sorriso, ela com ar de pânico.
- O Senhor que disse que tinha um acordo, Senhor. A sanidade volta a banhar seu cérebro.
- Ah sim! Fui eu! Pois não!
Ele tripudia.
- Então, quero bater, sabe? Sou sádico. Mas entendo que você não é masoquista (Ele senta ao lado da cama e alisa seus seios, ela salta com medo de um possível alicate com os dedos). Pensei em dar uma chicotada só e pararmos. Até porque quero tomar café, sabe, Jezebel?
Sua postura, seu olhar e até o brilho de sua pele mostravam um homem gozador, mas tranqüilo. Um sádico em busca da compreensão de uma vítima não masoquista.
Ela não sabia o que responder. Assustara-se com o aparente desequilíbrio daquele homem. Sim. Ele parecia ser capaz de fazer o que queria fazer. Seria preciso centro e jogo de cintura para que Ele, com ela presa, não surtasse e fizesse o pior.
- Olha, só, Senhor... (ela, na medida que a corda permite, o alisa. Em verdade estava tão imersa quanto Ele e a loucura era o padre que faria aquele casamento) O Senhor é bonito, né? (ela desconversa e mostra seu fascínio por tudo que acontece) Eu não sou masoquista, Senhor. Não agüento nada. Sou uma falácia quando o assunto é BDSM (Ele só a olha. Só deixa vazar o sorriso de canto de boca). Pronto! Eu sou uma mentira!
Ele não responde nada. Olha para seus seios, afasta sua camisola e olha para sua vulva. Ela tem o corpo arrepiado e temendo o pior busca, com as palavras. mudar o Seu foco.
- Senhor, me desculpe. Eu vim aqui porque me falaram que o Senhor era uma boa trepada, que era um bom papo e eu vim para lhe conhecer melhor. É isso! (pareceu que ela tinha tido uma luz. Achou ouro!) Eu quero mesmo é ser sua amiga.
Ele a olha, para de mexer em sua camisola, puxar seus pentelhos de leve, olhar o bico de seus seios. A olha. Nada diz. Ela fica vermelha, arrepia mais, esquenta mais. Se perde e sem saber o que falar, apenas meneia a cabeça e mescla pergunta com afirmação.
- Né?
Ele sorri de mostrar os dentes, levanta e solta, com força, o chicote bem no centro de sua coxa. Ela aperta bem os olhos, cerra os punhos, espera o pior. Em frações de segundos o chicote diminui sua força e pousa em suas coxas tão suave quanto um experimentado comandante pousaria um imenso avião em uma pista qualquer. O hábito fez o monge.
Ela sente o chicote acariciar seu ventre, não acredita que não doeu. Solta um grito. Alívio? Bem provavelmente era o grito que estava reservado para a dor que viria. O corpo não sentiu, mas o cérebro a registrou. Ardia muito, doía sem parar.
Ele se curva e com força, pressão e agilidade, enfia a mão entre suas pernas. Seus dedos (três?) foram firmes abrindo espaço até chegar ao centro de sua gruta. Com a mesma forma e rapidez que entraram, saíram.
- Olha Jezebel, você está encharcada.
Ele fala, olha os dedos e os cheira.
Ela fica totalmente constrangida. Não seria mais fácil bater logo de uma vez? Ela pensava.
Sim. Para algumas mulheres submissas é mais fácil apanhar, sem apreciar a dor, que ver e ouvir que seu prazer é, também, seu.
Na mesma hora o corpo de Jezebel responde a essa investida e seus pés pairam, um sobre o outro, qual pés de moça envergonhada.
Ele viu a isso também.
O chicote recuou um pouco e voltou a descer. A um palmo de sua coxa esquerda. A meio palmo de sua coxa direita, alguns dedos de sua coxa esquerda, dois dedos de sua coxa direita, um dedo da esquerda, um dedo da direita.
- Senhor! Ela grita.
Ele curva-se e sendo muito ríspido para seu rosto a uma respiração do dela.
- Por favor, submissa, nunca. Eu disse nunca Me interrompa quando eu estiver amando meu chicote.
Ela não entende a totalidade do que Ele fala, mas assente com a cabeça, Ele se afasta e começa tudo de novo.
Antes deposita um ovo de pavor em sua mente.
- Vou bater até chegar a sua coxa, Jezebel. Quando chegar, quero um grito de morte. Porque vou bater para matar. Quero que me acolha como sádico e receba a minha dor como conviva especial na festa de teu prazer. Goze comigo esse momento único e abrace meu chicote como seu melhor amante.
Não esperou resposta e desceu o chicote. Uma. Duas. Três e mais próximo. Quatro e quase escostado. Cinco e o vento do encontro do chicote com a cama gera um furacão de prazeres. Seis e ela desmaia dentro de si. Sete, ela quer a dor. A espera como ordenado, a quer como conviva especial. Oito, ela abandona seu corpo impulsionada pelo foguete do pânico que penetrou sua festa sem convite algum. Burlou a forte segurança. Nove! Raspou, ardeu, deu para sentir o que seria o próximo, mas... ela já não estava ali. Talvez um erro. Dez!
Ela salta, chora. Por não estar ali, fora trazida de volta nas carruagens da dor. Mil viagens. Ela conseguiu estar viva, mas contorcia todo o corpo. Viver é sentir e sentir é estar vivo, mas quem disse que viver era bom?
Seu corpo queimava mais que fogueira de inquisição, seu cérebro lhe cobrava o centro e a culpava por ter prazer naquilo, por ainda estar ali. Sua vulva vertia porra. Ela percebeu o gozo, mas não teve coragem de assumi-lo. Podia parar de gemer de dor e iniciar o gemido de cor. O arco-iris, como sempre, surgia após a forte chuva.
Por ela, teria escondido tudo, não revelaria nada. O momento era dela. Só dela.
Mas Ele era astuto, sabia ler o corpo e com voz suave comandou – Goza mais, Jezebel. Não pare de gozar.
Ela O olhou, assustou-se e atendeu. Deixou verter seu melhor gozo, se permitiu ir em sua melhor viagem. Embarcou, sem passagem naquele cruzeiro. Jurara nunca ir à aquelas ilhas, mas ao chegar, não queria mais sair.
Ele bateu mais uma. Ela mesclou dor e prazer.
Ele bateu mais uma. Ela quase não sentiu dor. Só o prazer.
Ele bateu mais uma. Ela queira pedir mais.
Do chicote veio a vela. Seus pingos eram quentes, desciam pontuais, cobriam pequeno espaço por vez.
Ela sentia e entendia aquilo como um carinho. Se contorcia buscando mais prazer. Precisava de um pouco mais daquela droga que a fazia voar. Virava, voltava, mas não arriscava abrir os olhos. A viagem era longa, profunda demais para prestar atenção a caminhos.
Da vela veio a mescla com o chicote.
Seu corpo doía, sua mente gemia, mas seu bem estar era algo inconfundível. Ela estava bem.
Não sentia só prazer ou só dor. Sentia o que vinha e o grande barato foi poder sentir a ambos.
Ele não se aproximou dela, ninguém se aproximou. Ela foi contorcer-se e viu que não estava mais amarrada. Como? A dor era bem vinda demais para ela prestar atenção a caminhos, lembra?
- Se toque.
Esse foi o comando seco, mas claro e difícil de não atender.
Sua mão esquerda foi para a vulva. Sim, ela era de escorpião. Era canhota. Sua mão direita, para os seios. Para Jezebel seus seios eram fundamentais para seu prazer. Quase uma roda d’água que muitos gostam de ver e não percebem que sem ela não adianta moinho ou água. É o meio do termo.
Não demorou para ela sentir o chicote e percebê-lo como realmente um conviva especial naquela festa. Agradecia pela senhora vela estar presente, pois a admirava de longa data. Ao senhor prendedor logo ofereceu cadeira, garçons e comodidade. Às cordas, jogadas ao seu lado, convidou para o meio do salão. Fora dançar com elas.
Velas, chicotes, prendedores e cordas. Tudo sobre seu corpo. E ela se tocava. E ela gozava sem parar.
- Goza forte, Jezebel.
Ela começa a gemer sem sentido, se contorcer de balançar a cabeça e se (de)bater.
- Goza para mim, submissa
Ela não se entende. Como a voz daquele homem podia ir tão fundo? Tão dentro? Tão certa?
Seu orgasmo foi único. Seu corpo saíra e voltara de sua mente mil vezes.
Ela visitou a Mansão dos Mortos sem precisar de meditação alguma. Apertou tanto seus seios que pareciam estar próximos a uma explosão. Rebolou com força incessante, levantou os quadris, abaixou. Apertou os seios tanto, tanto, tanto. Nas pontas, nas bases. Um, os dois com uma única mão.
Se bateu como quem queria mais. Se permitiu a permissão. Foi!
Gozou tão forte que o corpo morreu após o ato.
Ela estava alto e despencou na cama. Não aterrissou como aquele comandante, baixou qual um meteoro jogado de outro planeta.
Desmaiou ali. Se largou.
Dom Demétrius assistia a tudo e via seu prazer refletido na poesia dela. Sorria e agradecia a Si mesmo pela oportunidade de ser um espectador especial – e único – naquela cena sem igual.

Ao perceber que ela voltava à Terra, Ele a convidou para o café. Ela, voltando, acordando e sentindo a intimidade do ato, pergunta que horas são.
- Hora do café, Jezebel, e você já está atrasada.
Ela, intimamente, toma um susto, afinal acabara de amar Aquele homem como nunca amou nem mesmo a si própria. Pensou que, algumas vezes, um pouco de carinho é bem vindo. Logo se deu conta que Ele era carinhoso e parceiro.

Rapidamente ela se levanta. Atordoada e perdida não sabia o que fazer.
Ele a guia dizendo para seguir para a área de banho. Logo veio à mente dela o banho que havia tomado e receou acontecer de novo.
Ao chegar no local de banho, Ele solicita que ela pare, pega uma mangueira e começa a banhar-lhe o corpo. A água estava mornamente boa. Um refrigério para aquela alma já penada e sem rumo.
Suas mãos percorrem o corpo daquela mulher como quem alisa uma jóia rara. Uma verdadeira adoração. Algo deveras incomum para Jezebel, uma vez que nunca pensou em um Dominador dando banho em sua peça.
Antes que ela falasse algo, Ele explica. Não. Não precisava, mas Ele explicou.
- É o Dono do cavalo quem deve dar os primeiros banhos nele, assim como a mãe banha seu filho.
Aquela frase fez o coração de Jezebel tremer. Será que aquilo era um ritual de posse? Ela era Dele? Será?
O sabonete usado era macio, cheiroso e elegante. O toque tão preciso que seu corpo tremia diante da cada passear, diante de cada investida.
Ela não sabia se podia, mas silenciosamente gozou inúmeras vezes. A maioria delas quando Ele pediu que colocasse as mãos na parede, abrisse as pernas e ficasse quieta. A posição de revista mexia com Jezebel de uma forma incomum. E isso em seus sonhos, agora imagine pessoalmente. Na realidade.
Para ela, tudo era um sonho lindo.
O banho durou quase uma hora. Para muitos, se isso fosse um filme, seria um banho comum, sem nenhum apelo sexual, sem toques sexuais, sem conotação sexual, sem grandes respirações, sussurros e gemidos. As luzes diferenciariam-se, o posicionamento da câmera seria sempre em partes, poucas vezes no todo. Sépia, meia luz, tom sobre tom, nada forte de ver. Tudo na penumbra do sentir.
A cena seria de um homem banhando uma mulher. Algo sem graça (para alguns).
A graça estaria nos olhos dos cinéfilos que, diante de seu preparo, saberiam ver a comunicação corporal e a viagem solo de cada um.
- Por favor, Jezebel, seque-se, vista a roupa que já esta separada e venha para a mesa.
A roupa estava em um belíssimo cabideiro do século XV. Madeira. Verniz feito com uma técnica que, invariavelmente, comia as mãos do marceneiro depois de algumas dezenas de fabricações. Só era feito para reis, pois só por eles valia o esforço de perder as mãos. A peça única nele era um vestido longo. Só o vestido, eu escrevi.
Amêndoa alaranjado, com pedras variadas. O decote era primoroso e a costura algo ímpar. Especial.
- O Senhor não quer que eu o lave? Jezebel queria retribuir o carinho.
- Quero que entenda que isso não é uma relação onde a balança tem o mesmo valor quando sem nada. Por favor, vista-se.
Ela abaixou a cabeça e sentiu o aço daquelas palavras lhe tirar uma gota de lágrima. Pensou que podia ficar calada, mas acolheu que somente queria retribuir o que recebera.


A mesa era grande, bem posta, tudo muitíssimo bem arrumado.
Jezebel não conseguia aquietar-se. Até aquele momento aceitou sem peso os acontecidos, mas ao ver a mesa ficara claro que mais alguém auxiliava naquele jogo. Ele não saira de perto dela nem um minuto, ao ir para o banho a mesa estava completamente vazia. Ao voltar, não somente estava repleta de alimentos, como tudo fazia a fumaça que ia ao ar.
Falo? Não falo? Ela entrou em uma roda viva.
- Senhor, me desculpe, mas...
- Por favor, Jezebel, coma. Ele não deixou que ela concluísse. Ela calou.
Calou por dois segundos, mas Jezebel era uma mulher que fora servida a vida toda e não suportaria ter uma dúvida latente.
- Tem mais alguém aqui?!
Para não ser interrompida foi direta.
- E se tiver, qual o problema?
Ele devolve com igual força. Ela não ganhou o saque na cortada. Ele rebateu e a bola quicou bem na ponta da mesa.
- Só queria saber, Senhor.
A bola caiu, ponto para Ele.
Ele não respondeu, seguiram naquela divino café até que Ele se levanta do lado A da cabeceira da mesa, caminha até a cabeceira oposta, onde ela estava, e lhe puxa o vestido. Ela leva um susto, suspira e Ele expõe seus seios.
Volta algumas cadeiras naquela mesa de doze lugares e senta no meio do caminho. Sorrindo qual moleque após travessura. Ela envergonha-se.
- Para uma mulher da sua idade, Jezebel, seus seios são belos, mas fica claro que tem plástica aí. O que é uma pena, pois mostra o quão a mulher não trabalhou seu envelhecimento e o quão usa o dinheiro para comprar juventude.
- Me desculpe, Senhor, mas acho que investir em plástica não é correr atrás de juventude, é envelhecer tendo o que o seu dinheiro pode comprar.
- Pois é, Jezebel. Eu penso que se não existissem os Direitos Humanos o homem, hoje, estaria usando o outro como escravo e matando aqueles de que não gostasse. E sabe qual seria a desculpa? – Ela não responde, Ele segue – Que se pode fazer tudo que seu dinheiro pode comprar.
Ela teria um milhão de respostas, mas naquele único dia aprendera que existe a hora de falar e de calar. Aquela era de calar. Silenciou sem peso e o peso fora para o ar.
- Bem, deguste seu café. Está gostoso, Jezebel.

Definitivamente Ele sabia como provocar.


(continua na próxima semana?)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 006]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa – [Parte 006]


Jezebel sentiu um frio na espinha diante daquelas boas-vindas, mas pouco podia fazer. Dom Demétrius, sabiamente, não a amarrara, assim a corda ficava em sua mente. Não movia-se por conta de estar presa, não mexia cegamente. O Seu olhar a amarrava. Sua voz era oscilante, vibrava de uma forma que parecia ter microfone e alto falantes ali. O som vinha de todos os lugares. Era estranho. Ao mesmo tempo sua voz era suave, entrava macia por seus ouvidos e, qual música, a embalava. O suor era por conta da posição incômoda. Jezebel era metidona a mandar todos cuidarem da saúde. Vivia dando cartões de academias para uns, yoga para outros, mas ela mesmo só fazia a doação. Conhecia o local, fazia um discurso pró saúde, ficava amiga de todos que passavam pela sua frente, dava um jeito de saberem de sua posição social na cidade e, com isso, a bajularem e pagava o período mínimo, mas claro, sua agenda não a deixava ir a lugar algum. Era do trabalho para casa (e de casa para as festas). Seus joelhos, também, aproveitavam o momento para mostrar que a idade chegara. Doíam com ferocidade, gritavam alto, claro e forte. Sua coluna fazia cada vértebra mostrar a que veio. Jezebel, de joelhos, mãos para trás, cabeça baixa, seios um tanto a mostra, suando. Era a fome por equilíbrio que fazia, por conformidade, seu corpo vibrar.



- Melhor isso que estar morta, não Jezebel? - interrompeu seus pensamentos, Dom Demétrius.
- Perdoa, Senhor, não ouvi a pergunta.
Sua voz tremia. Até para falar, a posição mais almejada por dez entre dez submissas, era incômoda.
- Ouviu sim. Pode não ter entendido.
- Sim, Senhor. O Senhor sempre tem razão. Eu não entendi. Àquela altura não dava, para cheia de dores e incômodos, ser lady. Jazebel deixou a paciência ir com o sal de seu suor. Paciência trocada pela dor da posição.
Dom Demétrius ou era um sábio ou era um tolo. Simplesmente ignorou o ar ríspido e provocativo da voz de Jezebel e continuou.
- Melhor sentir todo esse incômodo causado por essa posição que estar morta, não Jezebel?

Ele sorri com a voz. Não o sorriso mostrado, o sorriso sentido qual perfume de rosa no desabrochar. Ela não responde. O olha e espanta-se ao ver que Ele está confortavelmente sentado em uma daquelas cadeiras de armar que chamam de “cadeira de diretor”. Só que mais bonita, melhor trabalhada, de cores elegantes. Parecia nunca ter sido usada de tão limpa e, aparentemente, nova. Mas como ela foi parar ali? Ele não abriu nada, a única saída era bloqueada por ela. Atrás deles, duas paredes na lateral e um grande armário na frente, mas esse armário só tinha portas pequenas, pequenas gavetas e a cadeira, mesmo fechada não caberia neles. Ainda que coubesse, ela não O viu abrir nada. Não! Dessa vez estava atenta! Jezebel confundiu-se. Dom Demétrius sentava-se confortavelmente e parecia ler seus pensamentos. Parecia sorrir com os olhos. A olhava com pupilas brilhantes, lábios umedecidos de uma forma que parecia usar batom, rosto tranqüilo, mas centrado, postura confortável e elegante. Pernas tão abertas quanto um homem de fato deve sentar. Ainda usava o costume, ainda tinha a roupa impecavelmente alinhada. Era, sem dúvida, um homem que nasceu para o poder.




















- Jezebel, conversa comigo.
- Senhor, não agüento mais esta posição, Senhor.
- Não? Por que? O que sente?
Ela solta o ar de seu sorriso, sorri no ar. – Se eu começar a contar, não paro mais, Senhor.
- Conte. Quero ouvir. Quero que não pare.
- Força de expressão, Senhor.
- Pois é, Jezebel, o mundo tem dessas coisas. Falam porque querem falar, mas quando pedem para realmente falarem o que queriam falar, eles calam. Usam de figuras de linguagem para justificarem suas lags de raciocínio. Ela o olha dentro dos olhos. Ele a encara, não se intimida e continua.
- Jezebel, será que animais, supostamente mais inferiores que a gente. Quero dizer, que você, usam figuras de linguagem? Será que um leão diz: - Porra, leoa, faz tudo que minha função aqui é só cuidar do território (ou seja, fazer xixi). Será que ele diz isso? Ela sorri da tirada e Ele continua.
- Aí a leoa vira o bicho. É mesmo, será o que o bicho “vira o bicho”? Mas vamos ao foco. A leoa, vira o bicho e o Senhor leão mijador, afrouxa e diz:
- Pô, mulher... meu lance é outro. O que eu quis dizer era outra coisa. Marcar território era só figura de linguagem.
Jezebel não achou graça. A piada terminava nela e a posição atingia seu ápice em dor.
Seu suor era frio, a sensação de desmaio aumentava, sua mente estava confusa, seus pés adormeciam. O pior: havia uma unha encravada que impossibilitava melhor apoio. Ninguém sabia. Ela não iria contar.
- Senhor, por favor. Eu preciso sair dessa posição, Senhor.
- Por que precisa sair da posição que todas querem ficar, Jezebel?
- Porque acho que vou desmaiar.
Seus olhos brilham, Ele aproxima-se. Olha o conjunto atentamente e, seco, fala:
- Desmaie, Jezebel. Me dê esse prazer.
Ela vê tudo escurecer, os músculos soltarem, a cabeça rodar, mas respira fundo e não desmaia.
- Sabe qual é a diferença de uma mulher comum para uma submissa, Jezebel?
- Qual, Senhor?
Ela não O vê, mas faz as vezes de estar bem, estar firme.
- Porque uma mulher na sua posição ou já teria levantado ou já teria desmaiado. Uma submissa, a mesma que diz querer servir, não entrega-se àquele que oferta sua submissão, de fato.
Afinal o que é ser submissa senão ser você mesma em essência?
Jazebel não estava para debates, qual boi em abate, que olha para o seu executor com cara de pedido de piedade, ela tomba. Seus ossos fizeram forte barulho no chão. Seu rosto bateu forte, firme, duro. Não houve câmera lenta qual filme recordista de bilheteria, mas teve drama.
Ela não conseguiu apoiar-se e a queda foi dura.


















Ainda na masmorra, em uma larga, confortável e bonita cama. Outra roupa (mais fresca), visivelmente de banho tomado, maquiada, cabelos arrumados. Conto de fadas! Ela acordou. Olhou para o alto e havia um espelho. Outros. Dos lados. Em volta.
Olhou para Dom Demétrius, Ele sorriu.
- Ah, me desculpe Senhor. Eu desmaiei, né? Há quanto tempo estou aqui, Senhor?
- Sim, teve uma linda e cinematográfica queda.
Ela se olha, sente o seu perfume, o banho e a mudança de roupas. Insiste:
- Há quanto tempo estou aqui, Senhor? Sua voz era fraca.
- Aqui nunca houve tempo, Jezebel. Aqui o tempo vem em nossas palavras. Se não falamos, ele parou. Há quanto tempo está em você, submissa?
O ar estava pesado. Aquele homem gentil assumia uma voz sádica, um ar de desinteresse e postura de pouco caso.
Sua roupa também mudou. O terno impecável (e belo) deu lugar a uma gola pólo, calça jeans desenho clássico, alinhada e a um sapato mocassim. Ainda elegante, porém mais despojado.
Ela o olhou. Olhou-se através dos espelhos e inundou-se com uma onda de choro. Estava perdida e não conseguia achar-se nos olhos Dele.
O choro veio forte, mais forte que antes. Ele levanta. Ela chora. Ele a olha pelo espelho, ela soluça. Ele se move. Ela acompanha com os olhos. Ele sorri. Ela se mexe e vê que está amarrada.
O choro some tão rápido quanto veio. A descoberta das cordas faz aquela mulher represar mais que seu choro. Ela segura seu sentir.
Sua mente vaga, divaga, ela se perde.
Será que estou na presença de um psicopata? Vou morrer?
- O que fará comigo?
Ela pergunta movimentando os braços presos, as idéias soltas. Queria fazer prosa-poética, mas daquele jeito nem mesmo quadra infantil, com suas rimas pobres, sairia fácil.
Ele sorri. Não um sorriso sádico. Sorriso de homem que quer o que não pode ter, mas que terá porque quer o que não pode ter e terá.
- A usarei com um misto de boa vontade com vontade nenhuma.
Jezebel soltou seu corpo na cama. Soltou mesmo!


Viu o sádico na capa do homem. Sua mente até questionou, amedrontou, mas seu sábio corpo não teve dúvida alguma. Relaxou como quem diz: pode vir! Vira bicho e me faz virar fêmea e desperta meu cio. Ela não conseguiu sintonizar seus pensamentos. A vulva molhou. Não. Não foi isso que chamou sua atenção. O calor estava concentrado ali e isso a tirou do centro. Algo novo. Inusitado. Soturno.
Ele aproximou sua mão esquerda (seria canhoto, aquele Senhor?), das pernas de Jezebel. Devagar. Aproximava e olhava-a. Qual uma automática porta de uma loja em desesperada liquidação, abriu-se bem antes Dele chegar. Sim, Ele sentiu o calor.
Sua reação? Poder. O sorriso, de canto de boca, que lustra o poder do homem que pode. Ponto.
Ele não a tocou. Fez melhor. Deixou que o calor de sua mão conversasse com a energia de entre suas pernas. Ela fechou os olhos. Estava mais ali que em qualquer outro lugar e ficar de olhos abertos seria sair dali para algum outro lugar. Não queria. Pela primeira vez naquele dia, sentia o frescor de sentir-se dominada. Não pela força, não pelo medo, não por si. Por seu prazer.
Ele havia entrado nela. Abaixo os muros que cerceiam a mina! Afora as águas que impedem qualquer explorar! Não. Sua mão ainda escrevia poesia no sabor do aquecimento daquela mulher. Não precisava, naquele momento mais que isso. Melhor. Naquele momento era isso o tudo que o nada devia ofertar. E Ele era Mestre, sabia exatamente como fazer. Seu rosto era fechado, mas não pesado. Seus olhos cerrados mostravam que Ele fora atrás dela e que não queria sair dali para lugar algum. Ambos fecharam os olhos para ficarem mais ali. Mais dentro. Ele na mina, ela na parede qual diamante esperando o corte. A seiva que somente o seringueiro sabe fazer.


















A luz baixou, uma música suave, lounge, começou a tocar. Dessa vez Jazebel não se importou como a magia da produção gerava efeitos. Estava poesia demais para pensar em métricas, rimas e formas. Queria apenas flanar. Era o seu primeiro vôo e, como o Senhor havia ensinado (Sim. Na paixão, há ensinamentos, na dor, adestramentos e no fervor, fibrilamentos), não havia tempo dentro de um tempo que não há. Quanto tempo? Diante de tanta poesia não houve tempo, houve troca. Um balé tão perfeito que parece ter sido feito, ensaiado e apresentado a um Imperador. Aos poucos ela sentiu um vento frio lhe cumprimentar os lábios. Sua calcinha fora puxada com tamanha delicadeza, charme e precisão que ela sentiu, mas não sentiu. É quando estamos sem sentidos que sentimos o sentido, diria Dom Demétrius, mas nada disse. Não com vozes de cordas a vibrar em gargantas. Disse mais. Com seu corpo, falou ao corpo dela. E ela ouviu cada palavra. Um recital que de tão concorrido foi apresentado somente a um. A ela. Indivíduo individual único. Esse é você, rapaz! Um dia falaram isso. O vento ia frio, firme, tão constante que não parecia de boca alguma. Pulmão não segura tanto. O hálito era de homem macho, a pressão era de Deus-fêmea, tamanha a precisão. Jezebel ouvia claramente a música que aquele vento tocava. Odalisticamente contorcia músculos, rodopiava cintura e entendia, sozinha, o que era ser mil em uma, uma à mil. Seus pés eram tocados, igual. Ela percebia que aquilo era mais que prazer. Era mais que ela. Nada foi feito igual antes. O que era aquilo? Se não há tempo para que pensar em espaço? Seu corpo sabia seguir o ritmo daquilo tudo, ela apreendeu a soltar e ao invés de guiar, permitir-se ser guiada. Por seu corpo. Dom Demétrius não era um homem de pouca cultura e saber, logo entendeu que o momento era dela. Aceitou, sem medir forças, e concentrou energia no fazer sentir daquela mulher. Ela respirava forte, mas sem forças. Não era algo que mexeria com a libido de espectadores de filmes de excitação. Era algo que burilaria o perceber de sacerdotes. Era energia que, embora vindo do centro sexual, vinha pura. Era uma cena. De longe, duas pessoas paradas. De perto, duas pessoas paradas. De dentro, nada no centro-par. Tudo era tão ímpar que o encaixe não podia ser mais preciso. Uma obra de cubismo que tinha tudo do impressionismo surreal. Dali e Picasso fazendo (não dividindo, fazendo de compor, por e criar) o mesmo quadro, usando o mesmo esquadro. Não existiria, nunca, examinador com habilitação, habilidade e capacidade para analisar a obra. Competência é algo que nasce, meio a qualquer coisa e pode ser visto como coisa alguma. Quem tem visão, vê. Quem não tem acha bonito, mas ninguém tem coragem de jogar fora. Uns por reconhecerem o valor, mesmo sem saber qual, de fato, é. Outros por reconhecerem o peso, embora não pensem em pegar. O sopro tântrico entrava naquela mulher e fazia sua kundalini subir, descer, oscilar. Demorou muito tempo até que o tempo atingisse seu mais alto sabor. Da troca, da dança da mão com a energia dela, do sopro de Sua boca em boca, aquela saiu um feixe de luz. Jezebel gritou quando sentiu dedos em si. A música era tão suave que aquela balada-rock a assustou. Embora dentro da mesma medida, a assustou. Um susto que a despertou para uma viagem maior.
- É preciso sair do lugar para chegar a lugar algum.
Sim, Ele disse isso.
Sim. Ela, embora totalmente fora do corpo, ouviu.
O toque não precisou ser pleno, foi rápido e de precisão cirúrgica.
Um dedo, rápido.
Dois dedos, zap.
Três e quatro dedos.
Não. Ela nunca passara do um, sentia-se incomodada com dois, abominava três e achava sem noção quatro.
A noção não estava mesmo ali e isso há algum tempo no lugar que não tinha tempo algum.
Seu líquido fornecia mais que lubrificação. Era a permissão carimbada em três vias e assinatura reconhecida em cartório.
Dom Demétrius olhava aquela mulher de olhos arregalados, corpo no ar, cintura contorcida e sentia seu prazer ser mais seu. Era o preço por tê-la ensinado a ir além do jardim e olhar mais atentamente as flores. Agora ela sabia que existia perfume, textura, cor e desenhos. O jardim era mais que um quadro, era uma paisagem composta dentro de nós. Com cordas sem fim.
- Quantos dedos, Senhor?
Aquela louca que se fingia de mulher queria saber. Ela assumia sua real faceta. Um ser disposto, disponível e à disposição para uma plena exploração de prazeres.
- Três? Quatro? Sim. Ele trepava com a mente daquela mulher e não daria tudo tão fácil assim.
- Ah!
Ela estava perdida. O minúsculo jardim era grande demais para ela.
- Três? Quatro?
Ela repetiu essa pergunta algumas muitas vezes (até fora dali, de tudo o que mais ecoou foi áqüea resposta). Ele não respondeu. A olhava com cara de riso, dentes a mostra, olhos brilhantes. Mais que diamantes. Mais que o ambicioso – e suicida! – garimpeiro pode brilhar.
Sua mão era grande. Sim. Grande e daí? Quando se tem prazer, o tamanho importa menos que a excitação gerada naquele momento.
Entrava, saía, voltava a entrar.
Jezebel brilhou inúmeras vezes. Sob a luz da ribalta fez sua glória de uma glória nunca gloriada antes. Gloriosa ventura, aqueles que, a essa altura, ainda conseguem voar.
Mil vezes foram as quantas de seus espasmos.
Mil voltas em estádio lotado.
Mil ladainhas em busca de uma graça e glória (olha ela aí de novo).
Ela não dava conta e ciência de que seu corpo já não agüentava mais. Mas ia. Só ia. Ela não sabia voltar e se Ele ficasse ali, ali seria a sua morte. Verteu toda a água da represa. Seca, gemia sem fim, eram os nós, as cordas.
Sem fim, gemia seca.
Dom Demétrius não parou como começou. Tirou a mão que apertava os bicos de seus seios, puxou todo Ele de dentro de si. Levantou.
Qual um homem que acabou de chegar da rua, sorriu em cumprimento e ofertou uma água que estava em uma bandeja próxima.
Não, a bandeja não estava ali. Chegou enquanto eles estavam ali?
Ele bebeu a água sem se importar com a chegada dela. Poucas coisas ainda importavam depois daquele sentir.
- Agora dorme. Precisa.
Não disse mais nada. As luzes, automaticamente e sem movimento algum Dele, se apagaram, a música mudou para a mesma de ninar criança e se fez breu naquele lugar.
Jezebel estava em outra sintonia. Nem mesmo conseguiu responder o óbvio “Sim, Senhor”.
Adormeceu. Era uma ordem.
























(continua na próxima semana?)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 005]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa – [Parte 005]





Jezebel assustava-se com tudo. Sua mente jogava mais que seu corpo. Qualquer movimento, qualquer ação fazia com que sua mente fosse muito mais além que seu corpo. Naturalmente, a submissa tinha predisposição a temer a morte, tudo era sinônimo de morrer. Depois dos dentes ela ainda experimentou várias camisolas. Ele a fazia vestir, desfilar, mostrar, comentar e tirar. Foram mais de 10 camisolas. Umas lindas, outras bregas, outras mais comuns. Ela cansava, Ele pedia mais. Cada camisola um tempo, cada tempo, um esforço, cada esforço diminuía sua reserva de energia. Em uma situação comum, ela até apreciaria esse jogo, mas a postura de Dom Demétrius, Seu olhar, Seus pedidos de posições que podiam ser vistas como constrangedoras e seus comentários explorativos, reveladores, alguns até chulos, faziam com que ela sentisse o uso na pele. Ele não escondia que tudo ali era para o Seu prazer. Se ela tivesse prazer seria bom, mas se não tivesse, não seria problema (ao menos para Ele, não). A sala era enorme, havia uma passarela de pedras muito bem feita. Pedras coloridas que faziam um mosaico no chão. Era nele que ela passeava com cada uma das camisolas. Depois de experimentar muitas, Dom Demétrius diz que uma ficou boa e levanta-se. De um salto, coloca uma coleira nela, força sua ida para o chão, coloca uma guia.
- Vamos ver se de quatro essa camisola fica boa, Jezebel.
Ele a puxa pela passarela e ela, resistente no início, mas solta no final, vai. Não queria colocar os joelhos no chão, mas a um comando Dele, não somente coloca como abaixa a cabeça. Esse era um dos jogos que ela sempre dizia que não faria. Não via sentido em se comportar como um cão.
O problema era que, com Demétrius, ela conversou sobre tudo, menos sobre as questões de jogos propriamente dita. Não haviam combinado nada, nada foi fechado, acordado, selado. Era o jogo pelo jogo. A ela só restava jogar. Ele mandava que rebolasse, que latisse. Dava comandos secos como se dá a um cão. Não pedia para parar, apenas puxava a coleira. Uma volta naquela passarela de uns 13 metros, duas voltas, três, mais, mais. Ela estava cansada, com os joelhos doendo.
- Senhor, não agüento mais.
- Então é agora que começarei a me divertir, Jezebel. Vamos dar mais algumas voltas. Por favor, me siga.
Ela não tinha escolha senão seguí-lo.
Mesmo o chão estando impecavelmente limpo, a camisola já tinha marcas de piso, amassados de uso e alguns pequenos rasgos. Os seios de Jezebel, embora pequenos, já haviam saído do lugar algumas vezes. Ela dava o jeito dela para ajustar, mas saíam de novo. Mesmo a posição não favorecendo que Ele visse, Ele via a tudo e se divertia por dentro.
Depois de algumas voltas, Ele a conduziu para o mesmo tanque onde ela escovava os dentes e a mandou repetir o ato. Da mesma forma e qual um dejavu, Jezebel seguiu. Escovava os dentes sem muito entendimento da ordem, do porquê. Apenas obedecia.
Enquanto escovava, Ele batia em sua bunda com as mãos. Chegou a levantar seu vestido, mas somente olhou e bateu mais ainda. Jezebel tinha um misto de repulsa, prazer, vontade de mais, vontade de mais nada. Intimamente algo lhe dizia que aquele era seu caminho, mas seu orgulho social, seu brio de mulher, sua tão comum postura de master a fazia refletir. Embora meio a dor, ao desconhecido e seu turbilhão de sentires, ela pensava. Mas todas as vezes que O olhava com o intuito de reclamar, seu coração apertava e seus olhos baixavam.
Não, Jezebel não estava dominada, mas estava dominando-se. Seu caminho era trilhado na dor do prazer de outro. Um outro que podia ser qualquer um, mas que ali era um Senhor. Um Senhor que nem mesmo podia receber o título de posse e ser chamado de seu.
A submissa deu um tempo para que o ritmo diminuísse, para que a ardência cessasse, mas isso não ocorreu. Aquele homem mais parecia uma máquina de bater e batia. Inicialmente protegeu as nádegas com as mãos, mas diante da ordem para recolher as mãos e a forte ardência, ela virou-se. Com um rosto similar a um animal em fúria e pronto para um contra ataque ela O olhou dentro dos olhos. Firmemente. Ele estava sorrindo e ironicamente pareceu ler seus pensamentos. E ao contrário do esperado, que seria conduzí-la a um acolher, Ele a incitou contra si mesmo.
- Vai, Jezebel. Solta sua fúria e ataca-me.
Ela não falou absolutamente nada, mas seu olhos vertiam sangue de ódio, a luz do pedido de vingança, sua pele suava o líquido do veneno que brilha naqueles que cegam diante de necessidades mais animais que humanas. Ele segue.
- Vem, bicho! Solta-se na selva e atormenta seu adversário em nome da carne que alimenta a carne. Faz valer a regra da cadeia alimentar: mate para proteger, mate para comer. Mate!
Sua voz era mansa, irônica, firme e nada amedrontada. Ela entrou fundo naquela mulher, ouviu cada uma delas, sentiu a ironia, sentiu-se diminuída, humilhada e armou os ombros, fechou os punhos, trincou os dentes.
- Isso, Jezebel... Você não é humana, é bicho. Muito mais bicho que qualquer outro bicho. Odeie-me, me ataque. Só assim poderá me amar, me proteger. Só assim será mais que serviço, menos que serviçal. Um lampejo deu-se na mente daquela mulher. Viu sua situação, entendeu que aquela era sua posição e que Aquele homem jogava o tempo todo com seu intelecto. Recuou.
- O Senhor me vê como um nada, né?
- A vejo como um campo onde há mata, montanha, espaço.
- O que isso quer dizer, Senhor?
- Que pode ser nada, pode ser tudo. Depende de quem vê e não do que está.
Sem desviar os olhos dos olhos da submissa e num ato tão rápido quanto preciso, solta a cane em sua perna, e segue.
- É mulher, isso por direito, mérito e fato. Quem a olha pode ver uma mulher, mas igualmente pode ver um mundo de possibilidades. Uma amiga, uma mãe, uma parceira, uma empregada. Cada uma delas terá uma (ou mais) serventia, exercerá uma função. Aquele que vê pode pensar-te mulher, mas pode pensar em ti como tudo isso.
- O que o Senhor vê? E pensa?
Ele a olha dentro dos olhos, fica mudo por instantes, respira com barulho, estufa o peito e decide se a resposta será um carinho ou mais uma porrada.
- Vejo uma mulher. Penso em um universo de possibilidades.
Quando ela ia seguir o assunto, provavelmente perguntar mais, Ele a puxa pelos cabelos a faz ajoelhar, coloca seu falo para fora e a faz sugá-lo com força e pressão. O tamanho era suficiente para importunar, a situação na medida para incomodar. Jezebel estava sedenta de sexo. Até aquele momento achava que tudo seria somente dor física, mas Aquele homem a surpreende mais uma vez.
- Chupa, sua puta! Engole-me todo para, me bebendo saber quem sou e talvez achar o caminho de quem é.
Ela estava nervosa com a ausência de ar, as dores nos cabelos e a boca preenchida.
Ela estava nervosa com a essência de par, as cores dos repelos e a força preenchida.
Dom Demétrius não facilitou ao forçar seu falo goela adentro, Jezebel, mesmo sendo uma mulher sexualmente experiente, apreciadora do sexo mais selvagem e crente em sua disposição, arregalava os olhos e separava seu corpo de sua mente e de sua razão. O corpo suava tanto em calafrios quanto em ondas de prazer. Não constante, pior, em pulsos. Sua mente mentia ao afirmar que aquilo era errado, se perdia ao se perguntar se agüentaria mais um pouco. Só mais um pouco. Sua razão, em praça pública, qual um protestante em busca de rebanhos de ovelhas podres, mas que, qual fruta muito madura, ainda serve para um bom doce, discutia consigo mesma. Com o livro mais vendido em mãos bradava que aquele era o caminho da salvação, com o suor de um terno surrado, advertia que o caminho seria duro, mas compensador, pois deles seriam o reino dos céus. Uma loucura em qualquer estação que fosse. A razão ainda dizia para não ir, afinal “quando a esmola é demais...”. Mas quem disse que aquela mulher, com mais horas de cama que qualquer urubu do vôo, era santa? Não, Jezebel não era mais virgem, porém não queria ser taxada de puta.
O Senhor lia a tudo em seus olhos, percebia a inquietação de seus pensamentos, apelava para seu senso comum ao olhar em seus olhos e perguntar se ela queria que Ele empurrasse mais.
Fazer não era problema, Jezebel era refém de seu próprio prazer, o problema instalava-se quando Ele pedia sua cumplicidade.
Não. Ela queria somente obedecer. Ele podia fazer o que quisesse, desde que ela somente obedecesse. Não estava em seus planos pactuar daquele ritual macabro onde o ser humano virava realmente humano. Ela queria ser um reflexo da alta sociedade a qual fazia parte. Uma vítima. E não uma mulher que optou por ser submissa a si mesma.
Mas Ele não facilitava e enquanto ela não respondia, Ele não seguia com a asfixia. Apertava seus mamilos e os puxava para frente, para cima. A dor era parecida com o perfurar de uma agulha, algo que puxava as fibras mamárias e causava uma dor que ia da ponta dos mamilos até a espinha dorsal. Inicialmente fina, sintonizada e até gostosa, mas após passar a barreira dos seios explodia no peito e reverberava, aquecendo, toda a coluna. Doía, aquecia, ardia, queimava. Tudo em explosões, tudo junto, mas cada uma, um tipo de dor em um canal especifico. A analogia seria a de um conjunto musical. A música é única, a harmonia também, mas cada um faz o seu papel, ao seu jeito. Querem um gênero? Jazz! É a melhor definição! A bateria faz a base e cada músico conversa entre si, fazendo do seu jeito. Uns aos solos, outros às harmonias, outros em acompanhamentos (que dão base para mais solos, harmonias e acompanhamentos). Uma única música pode durar muitos minutos e, ao mesmo tempo, parecer várias. Acabou? Não. Jazz é um gênero que nunca acaba. Paramos de tocar, ouvir, mas não paramos de solfejar. Jezebel, cedo ou tarde, cansada ou descansada, aceitava a pergunta e dava sempre uma resposta positiva. De pronto, muitas vezes, Ele seguia e em outras gerava a clareza do ato ao confirmar a certeza da resposta. Ela queria morrer. Assumir que quer mais dor estando sem forças até para respirar?! Pequena pausa e o falo, sempre rijo, entrava com força. Saía babado. De longe, na masmorra, dava para ouvir suas tosses, pigarros e soluços. Música para ouvidos treinados. Treino para ouvidos musicais.
Os olhos daquela mulher eram fontes de rios de lágrimas, seu corpo tremia. Um pouco pela posição desconfortável, um pouco por toda aquela emoção.
Ele a puxa pelos cabelos, ela tenta levantar, mas recebe a ordem para seguir de quatro.
- Vem, cão!
Ele tinha mãos grandes, braços firmes. Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto transfigurado, seus cabelos levemente desarrumados e seu terno? Impecável. Um gentleman.
Se o referencial vem dos passos humanos, Jezebel não deu mais que 20 para ir do tanque até um canto escuro de velas, parede em concreto brilhante e acessórios estranhos.
Seus cabelos aliviaram quando ela se posicionou sobre um tapete.
- Fica, cão! Cão fica!
Jezebel sempre odiou jogos que envolvessem qualquer ítem que irracionalizasse sua mente. Querem saber o que ela sentia naquele jogo com Ele?
Prazer. O prazer da espera por mais, era seu companheiro de viagem e melhor amante nas noites escuras de sua mente. Sua mente, aliás, era uma floresta sem mapeamento que crescia sozinha e sem controle. Pragas eram comidas por insetos que eram comidos por pequenos animais que eram comidos por maiores animais que eram usados pelos homens. Como vêem, o topo da cadeia era algo sem pudor, que sabia falar e que usava sua força mental para sucumbir adversários e agregar investidores.
- Olha, cão!
Ela levanta a cabeça e olha à sua volta.
- Três paredes. Ele disse.
Uma com objetos, acessórios e ferramental na própria parede. Será usada de pé.
A do meio com armários. Tudo que é pequeno, transportável. Fica ali.
A outra é solo. Máquinas elétricas, eletrônicas e manuais.
Ela olha a tudo atentamente, Ele fecha seu discurso:
- Aqui é a porta do inferno. Seja bem-vinda, mulher.


(continua na próxima semana?)

Agora sim!

Sexta-feira, parte da tarde, sento para dar sequência.
Prometido!

*sorriso*

(duvido alguém acreditar que "isso" sai)