Área particular. Mantenha-se afastado!

Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte Pausa]


O que ainda há para ler?
1. O jogo na masmorra Dele. Final de sexta-feira;
2. O dia de Sábado;
3. Domingo e fechamento;
Mas... só no ano que vem!
*sorriso*

Boas Festas!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 004]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa – [Parte 004]


Quando ela ficou completamente nua e resolveu relaxar, se é que isso era possível naquela situação, Ele – de fato – começa seu jogo.
- Por favor, Jezebel, (disse com voz firme, porém meiga, apontando uma das várias caixas que foram feitas na parede) abra a caixa de número um. Só então ela vira-se acompanhando o jato de água e nota que tem 25 caixas numeradas atrás de si. Abriu a um. Uma bela embalagem. Ela reconheceu o logo e a cor. Era de uma daquelas lojas que eles pararam no caminho. Mas como foram parar ali? Ela o viu sair sem nada, não lembra das embalagens quando voltou ao carro, mas estava perturbada demais para observar algo assim. Antes que pudesse pensar mais... – Abra Jezebel. Ele ordenou.

Era um sabão líquido em uma embalagem pequena e muito bonita.
Sua cor era um creme-rosado-brilhante. Seu cheiro o de madeira de carnaúba depois de uma chuva moderada seguida por sol forte. Sua textura de quero abraçar.
Ela o pegou nas mãos, se virou de frente para Ele. Sentado, mandou que ela lavasse os cabelos com ele.
Assim foi feito. De longe, ele coordenava a água que ia de morna a quente.
- Abra a caixa dois, por favor. É o condicionador.
Ela pensou que ainda tinham 25 caixas e que se fosse abrir uma por uma, a noite iria passar somente no banho, mas pela postura e calma Dele, estava claro que não havia motivos para pressa. Melhor ceder e não correr.
- Enrola os cabelos com esse condicionador e abre, por favor, a caixa oito, Jezebel.
Ao que parecia Ele sabia exatamente o que havia em cada caixa daquelas. Jezebel excitava-se diante da maestria do momento, porém ao mesmo tempo se perguntava se Aquele homem não errava nunca.
Ela fez o que foi ordenado e ao abrir a caixa oito deparou com um sabonete bem pequeno, a cor era de ouro, o sabor de frutas da estação, a textura de poder, o peso da cobiça. Estava claro que era algo caro, desejado por muitos, tido por poucos.
Ela o pegou e quando se virou Dom Demétrius estava, de pé, à frente dela.
Olhando-a dentro dos olhos pausadamente mandou que ela lavasse o corpo com aquele sabão.
Não afastou-se. Olhava a tudo de forma constrangedora, atenta. Ela passava o sabonete, sentia algo sem igual, um frescor, uma carícia de mãos de fada, uma vontade de mais.
Passou sem correr, Ele de frente. Ela tentou virar-se um pouco e com uma cane, que ela ainda não havia visto, Ele a volta à posição anterior. De frente para Ele. Exposta.
Por todo o tempo ela mesclava. Horas estava com a cabeça totalmente baixa, horas levantava, de um salto, e buscava Seus olhos. Ele estava ali. Acompanhava cada movimento, cada gesto.
- Só o corpo, Jezebel. Não use esse caro sabonete para os seios, mão e pés.
Quando ela acabou, dizendo que acabou, Ele a manda passar em locais específicos.
- Não Jezebel, seu pescoço não recebeu a visita do sabonete... Agora, por favor, (sempre com educação e bons tratos) passe na lateral do tronco.
- Não, Jezebel, de baixo para cima... Isso. Assim você colabora com a drenagem linfática e massageia a pele com a finalidade de aumentar e melhorar a circulação.
Falava com propriedade e por ser homem, ao dominar tal tema, constrangia a submissa. Sem saber o que fazer, ela pedia desculpas e obedecia.
- Por favor, não peça desculpas, esses conhecimentos não são para qualquer um.
Ela acredita que tem que revidar e não ficar calada.
- Realmente eu não tenho tempo para aprender essas coisas, Senhor. Tem outras urgências.
- Oras, Jezebel... Ignorarei o fato de ter me chamado de desocupado e seguirei por outro caminho com uma pergunta: Quer dizer que por trabalhar, não precisa se cuidar? Virou européia, mulher? Se enche de perfume para livrar-se da obrigação do banho?
- Não Senhor, o que eu falei foi outra coisa.
Ela não acaba de falar e a cane vai em sua bunda. Ela não esperava e saltou, afastou-se e olhou com ódio.
Ele sorriu. – Então fora ser desocupado, agora também sou mentiroso? Volte aqui, Jezebel, quero bater mais.
- Senhor, em nossas conversas eu falei que não era masoquista.
- Pois é, Jezebel (Ele vai na direção dela e bate mais algumas vezes de forma seguida. A cana assobia no percurso entre o ar e as pernas de Jezebel) eu lembro muito bem que eu falei que era sádico.
Ela fica muda, sente a dor, se curva para amenizar a ardência, olha para Ele e resolve não debater, afinal Ele mostra que além da força, tem disposição para usar a ferramenta mais temida no meio.
- Uma bela maneira de começar, hein!
Ela não segura a língua e solta a dor em uma frase.
- Uma poesia não tem começo, meio ou fim dado pelo poeta. Quem afere, confere e fere isso é o leitor, Jezebel. Se você, minha parceira nessa viagem, diz que comecei bem, agradeço (se curva com ironia), mas ainda não comecei. Você nem mesmo acabou seu banho.
- O que o Senhor quer que eu faça. Ela tenta mudar o rumo.
- Caixa 15, por favor. Ela se afasta, abre a caixa, sem poesia pega o sabão que está lá e espera a ordem. Não ouve nada e se vira.
Exatamente nessa hora recebe um jato de água bem em seu rosto. Forte, preciso e que a afoga por avos de segundos.
Demétrius estava sentado, afastado. Seus passos não eram ouvidos, mas seus atos percebidos.
- Lave os pés, submissa! A voz foi firme.
Assim ela o fez.
Olhava-O e fazia, perdia o equilíbrio e fazia. Se fazia.
Na cabeça de Jezebel tudo aquilo era novo. Sim, já havia jogado algumas muitas vezes, mas aquela meticulosidade, aquele estilo, aquela oscilação, aquela troca de valores, segurança e ritmo eram únicos. Ela debutava.
A água surgia comumente após o uso do sabonete, a mangueira ficava discretamente escondida em suas longas e magras pernas cruzadas.
- Caixa 21, Jezebel.
Ela abriu, outro estilo de sabonete, outro cheiro, outra textura, outro brilho. Ela se virou de pronto e logo Ele ordenou que ela usasse nos seios. Somente nos seios.
Aquela dança de sabonete, aquele observador a sua frente poderia dar a sensação de presídio, de punição, mas Jezebel sentia frescor, sentia-se cuidada como nunca. Era um momento dela. Não haviam telefones tocando, pessoas pedindo, cobrando ou querendo pagar. Os íntimos ficaram de fora, tão de fora que ela estava só. Como nunca ficou.
- Feito! Ele disse levantando-se.
Agora vamos testar as minhas habilidades massoterapêuticas, Jezebel.
A caixa 25 era imensa. Ele mesmo a abriu. Uma maca foi tirada lá de dentro. Com uma habilidade pouco vista, Ele abre a maca e pede que Jezebel deite com a barriga para baixo.
Ele usa os produtos que estão nas caixas 22 a 24.
Ela fica apreensiva, não sabe o que vem.
Ele prepara uma combinação de produtos na cubeta e os leva a seu corpo.
Jezebel tem um misto de medo e prazer. Os produtos eram para uma esfoliação e ao mesmo tempo que ela se deliciava com Suas mãos subindo de suas pernas até seus glúteos imaginava que algo viria.

Os produtos pareciam uma lixa, firme, mas as mãos daquele Senhor eram suaves cadenciadas e bem vindas.
Quando ela menos esperou, recebeu um pingo de vela. Mesmo com seu corpo molhado a vela ardia, queimava, ia.
Vela, esfoliação, vela, esfoliação, cane. A maca tremia com Jezebel, as luzes foram diminuindo, a água banhou seu corpo. Com uma toalha, Ele secou suas costas.
Ela ouviu barulho de luvas sendo manipuladas e postas. O rasgar de plásticos era inconfundível.
- Por favor, Jezebel, fique de quatro.
Ela arregalou seus olhos, mas Ele não tinha acesso a essa visão.
Quando ela estava completamente de quatro, Ele tira da embalagem um anuscópio e começa a introduzir em seu ânus.
Devagar, foram-se todos os milímetros.
Devagar, Jezebel misturava desconforto com prazer. Aquilo era incomum, mas era bom. Era sujo, mas dava prazer.
Ele abriu um pouco mais o anuscópio e além de admirar tudo que havia lá dentro ainda comentava. Isso era o pior para ela.
- É, Jezebel, seu ânus é rosinha por dentro, mas ainda há restos aqui. Vejo bolinhos de restos fecais.
Claro que ela não respondia nada. O calor que fervia seu corpo diante de tais comentários era emudecedor. Não havia como falar.
- Aqui! Bem aqui do lado (Ele falava, apontava e tocava), tem os anéis que quando o pênis toca na vagina dá mais prazer a mulher. Hummm, estou entendendo agora.
Ela não movia um músculo.
- Ah, Jezebel! Você não tem como ver, claro! Peraí.
Ela não queria ver, em definitivo, ela não queria ver!
Os passos afastaram, mas logo voltaram com um barulho de rodas juntos.
Uma mesinha auxiliar, dessas que tem em consultório trazia uma pequena TV preto e branco. Logo Ele a ligou e passando algo frio no ânus da Jezebel, logo ela podia ver seu próprio ânus na TV à sua frente.
Ela não acreditava naquilo e acreditava menos ainda no que sentia. Era prazer. Um prazer ainda não sentido, vivo, presente, único.
Ele apresentava um ar que misturava a empolgação de uma criança e a perspicácia de um sádico.
- Olha, Jezebel! Aqui temos Cripta Anal, a Linha Dentada. Falava, apertava, puxava e batia no aparelho de acrílico que fazia com que seu ânus ficasse aberto.
Ela constrangia, mas intimamente gostava daquele exame minucioso.
Só não sentiu conforto quando sentiu algum líquido entrando.
- Ah, Jezebel, nem avisei. Me desculpe. Preparei um enema de camomila para fazer uma limpeza básica em seu rabo.
O líquido estava pendurado em uma vara parecida com as de soro, mas o balde era grande e não havia líquido que enchesse Jezebel.
Ela teve uma aceleração sem igual em seu coração, sua pele ruborizou, seus ombros fecharam, seus cabeços arrepiaram e sua pele vertia tanta água que não dava para chamar de suor e sim de chuveiro brotador.
Muita água entrou. A mangueirinha foi tirada do buraco aberto pelo anuscópio, a vara foi tirada de perto. Não demorou para Jezebel começar a reclamar de leves cólicas. Mais dois, cinco, sete, nove minutos e o anuscópio foi retirado de si.
- Olha Jezebel, é só descer com cuidado e ir ali naquele cantinho, dá para ver a latrina ali?
Ela não acreditou que teria que fazer aquilo na frente dele, de cócoras.
- Olha Senhor, na sua frente eu não consigo.
- Quem disse que não? Por favor, desça e vamos ver como “ele” se comporta, Jezebel.
Totalmente ruborizada ela desce. Vai agachada até aquele vaso sanitário, com marcas para os pés, posto no chão.
De cócoras, a cólica fica mais forte, porém ela olha para Ele e segura até que não agüenta mais e a vergonha é o alívio de sua dor. Solta.
O barulho é ensurdecedor para ela, Ele sorri, se aproxima, olha, faz graça dizendo que mesmo com a camomila ainda fede muito e pega a mangueira e dá mais um banho em Jezebel. Ela aproveita o barulho da água e solta o que ainda resta. Um alívio sem igual. Na hora não, mas no futuro aquele enema será motivo de muitos orgasmos solitários de Jezebel.
Ele pede para ela pegar uma mangueirinha que está próximo a ela e findar a assepsia.
Ela o faz, recebe uma toalha e a ordem para voltar para a maca.
- Agora de barriga para cima Jezebel.
Constrangida, sentindo-se violada, sem ritmo e quase odiando aquele Senhor, ela deita de barriga para cima.
Sem demora a maca recebe adendos que a transformam em uma cama ginecológica. Suas pernas são afastadas e levantadas.
As luvas foram trocadas, o aparelho agora é um espéculo vaginal. Tem a mesma função do anuscópio, porém é para uso em local diferente.
Ele introduz, com calma, olhando dentro dos olhos dela, ela gosta daquilo e abre – mais – levemente as pernas.
Após a introdução Ele mexe na base do aparelho e vai abrindo-o e junto afastando os lábios.
Ela tem uma sensação de invasão, o frio entra na fenda nunca tão aberta, nunca tão exposta, nunca tão.
A vergonha se apresenta na tela do olhar Dele. Bastava olhá-Lo para sentir mais frio, mais calor, querer não estar ali. Cadê o botão “invisibilidade on”? Ela se perguntava.
Ele enfiava um pouco mais, a olhava, sorria de canto de boca, abria mais o aparelho.
Quando ela virava o rosto, fechava os olhos, Ele a chamava e comentava algo.
- Seu grelo é assim, Jezebel.
- O rosado de seus lábios é interessante, mas eles, se comparados ao tamanho do clitóris, são pequenos, né?
Ela não conseguia responder, quando muito fazia boca de sorriso. Os dentes não vinham, mas os lábios moviam para o lado.
Interessante, Jezebel, sua gruta está inundando.
Ela se perdeu por completo. Seu rosto era passivo, mas seu corpo estava ativo.
Ele olha bem lá dentro e faz um minucioso relato do que vê. Ela constrange, mas gosta.
- Jezebel, por favor, estica seu braço e abre a gaveta 13. Essa que está com um X.
Ela atende ao pedido Dele com naturalidade, mas assusta-se ao puxar algo pequeno, mas pesado.
- Prendedores, meu amor. Trouxe para você, acredita?
- Ai, meu Senhor! - Ela apavora. Odeia prendedores, não tem resistência para eles.
Ele sorri, chega perto de seu rosto, alisa seus cabelos, beija-lhe, suavemente os lábios e pede. Sim, Ele pede, com carinho e paciência. Mas com uma ironia sem igual.
- Ah, meu amorzinho, deixa eu colocar só um pouco, vai... Juro que coloco só um pouco, tá?
Ela percebe a ironia, mas encanta-se. Como aquele homem pode brincar tanto com ela? Como pode ser tão sádico a ponto de seduzir a mulher afim de dobrar a submissa.
Ela não respondeu e Ele foi ajustando os prendedores e alinhando para colocar.
Foram os dois ao mesmo tempo, mas antes Ele se afastou. Mirou nos seios, mas qual fotógrafo que faz tudo olhando para o visor da câmera, olha em sua gruta.
- Aiiii! Puuuuuuttta que o pariu!
Ele olha bem dentro de seus olhos, não é um olhar de reprovação. Ele curtiu cada pedacinho daquele grito real.
Jezebel tem calafrios por todo o corpo, se contorce. A dor não era seu prazer.
Antes que ela conseguisse se refazer, Ele pega um outro prendedor e coloca em dois de seus dedos. Um de cada pé.
Ela já não sabe se dá atenção aos mamilos ou aos dedos. Para completar Ele quebra os gemidos de dor.
- Você está encharcada, submissa. Lindo de ver.
Mais uma vez Ele pega a câmera, sintoniza, coloca a TV ao alcance dela e a mostra. Jezebel se fascina, a dor não vira prazer, mas é esquecida. Está ali, mas qual criança cansada, não fala nada.
Ela vê, pela primeira vez, seu próprio gozo, sua vulva inundada, vertendo leite branco, qual homem, pelas paredes de si.
O prazer é enorme e aumenta ainda mais quando Dom Demétrius coloca uma pequena cápsula vibradora bem no cume. Ela não suporta, geme, viaja, vai e volta àquele lugar.
Segura firme na maca, rebola um nada sequer.
Com a mão que está livre, Ele coloca um separador bucal em seus lábios. Ela gosta daquilo, se sente vulnerável, volúvel, dada.
Ele coloca uma pequena pedra de gelo em sua boca, e ela fica num engasga não engasga sem igual.
Não sabe se atende aos sinais de dores de seu corpo, ao prazer que a cápsula gera em sua vulva ou ao gelo que a asfixia.
Algo louco, sem igual, mas sentido com intensidade.
Ele aproxima Seus olhos bem próximos aos olhos dela e serenamente dá o comando com força e maestria.
- Escuta, Jezebel. Falarei uma vez só. Não duas, não três. Só uma.
Ela não O ouve, mas entende o que Ele diz. Acena com a cabeça.
- Goza, submissa! Goza, mulher! Goza para mim e não mais para nenhum outro. Goza que te quero ver verter Meu prazer.
Ela assusta, se contorce e sai de si em um gozo nunca antes sentido. A viagem foi longa. Como Ele vai tirando os prendedores aos poucos, não há vontade de voltar. O prazer só aumenta.
Demétrius pega uma vela (sempre de algum lugar, sempre sem preparar nada, parece que tudo fica pronto e quando Ele quer, vem). Não pinga, olha para Jezebel, olha para a vela.
Coloca a vela em um apoio ao lado da maca, tira a cápsula de cima dela e, com movimentos rápidos, imobiliza suas mãos. Um lado, algema, do outro lado, algema.
Na volta para o lado que estava, pega um borrifador. Ao chegar, pega a vela.
- Você tem medo de fogo, Jezebel? Sua voz é serena, seu olhar fixo e no ar uma aura sádica de quem não tem medo do medo que gerará.
Jezebel não intenta o que poderá vir, mas amedronta-se.
- Até hoje, Senhor, não tive medo de fogo.
Sua voz é perdida, ainda não voltou por completo.
- Que bom, mulher, o fogo é uma das descobertas mais antigas e que ainda fascina. É a única entidade que aparece em todas as mitologias e tem passe livre em todas as seitas, filosofias e religiões, é um marco, Jezebel.
Os pensadores vêem nela a luz do saber, os filósofos a luz da metáfora, as crianças o bailar livre, os desesperados a espera do renascimento da fênix, as mulheres o filho.
O fogo é mágico, Jezebel. Na temperatura certa, faz barro virar pedra, cerâmica e luz. Só ele, soberano, forja a espada de um samurai.
Ele se cala, olha dentro dos olhos de Jezebel e borrifando na direção da vela cria uma labareda que a faz pular na maca.
Ela não consegue, pois está presa. Ele repete mais uma, duas, várias vezes e ele se contorce.
- Ué, Jezebel, achei que não tinha medo...
O afastador bucal não a deixa argumentar, Ele ouve grunhidos, tentativas de fala.
- Ah! Você está presa e não pode apreciar o fogo? Entendi.
Ele larga o fogo, solta Jezebel e com a voz tão firme quando doce diz – Fica, cão! Fica!
Seus olhos hipnotizam, ela não ousa se mexer, mas a labareda vai bem próximo a ele. O espéculo em sua vagina incomoda, o afastador incomoda, a louca vontade de ir ao banheiro a incomoda, mas ela já sabe como é o banheiro e não tem motivação para ir.
O fogo avança em sua direção, ela arregala os olhos, tem medo. Ele fica com os olhos fixos, brilhantes. Psicopaticamente brilhantes, um olhar de quem não teme, que ama o medo daquela mulher. Seu peito estufa, parece que o medo dela O abastece.
Ele coloca seu falo para fora. Grande, rijo e mostra o tamanho de seu prazer.
Do extremo do medo, Jezebel vai ao estremo do prazer.
- Se toca, Jezebel. Se toca.
Ela tenta falar algo, não consegue, Ele alinha fogo, borrifador e seu corpo, ela se fasta um pouco, tenta falar de novo.
- Tire isso da boca, mulher. Não vê que eu não entendo esse idioma e quero te queimar?! Ele quase grita, está visivelmente excitado com a possibilidade de queimá-la.
Ela tira o afastador da boca.
- Senhor, por favor, estou com medo.
- Eu também, Jezebel, mas alguém tem que fazer isso. Só o fogo poderá purificar sua alma.
- Aí, meu Deus...
Ela se esquiva, Ele não borrifa, mas alinha, mira, aponta, acerta, espirra álcool nela.
- Eu mandei se masturbar, mulher! Fala alto, mostra aparente descontrole, ela fica completamente arrepiada, suas pernas abertas, ela meio sentada, sem apoio, tenta, mas o espéculo atrapalha.
- Tira! Tira o espéculo, porrraaaa!
Ela até tenta, mas ele não sai.
Demétrius cai na gargalhada. Um riso estridente, gargalhada de psicopata, solta, no ar.
Uma labareda!
- Fogo!!!
Ele grita e gargalha. Ela olha para Ele, olha para o espéculo e de um salto arranca tudo. Quase se traz junto, quase se rasga.
Ele? Ri mais forte e mais alto.
As labaredas não param, cada vez mais próximas de Jezebel. A mão que ia na vulva tenta parar o fogo, mas o fogo não se deixa pegar, passa por sua mão.
Ela faz um gesto de que foi queimada e Dom Demétrius pára para ver.
- Cadê a mão? Queimou?
- Não, Senhor. Senhor, por favor, vamos parar? Que horas tem? Ela está nervosa, tenta conversar.
- É a minha hora, Jezebel! A trouxe até aqui, seu tempo. Deixei que fizesse aquela palhaçada de entra não entra, aceitei seus ares de “puta ofendida” ao dizer que eu não deixava margens para negociação. Oras! Se quer me servir, quer negociar o que Jezebel? E as labaredas não param. Cada vez maiores, cada vez mais próximas, cada vez mais fortes.
- Senhor, eu tenho medo!
Ele começa a dançar e cantar a musica do Raul, Medo de Chuva.

"Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando
Pra terra traz coisas do ar."

Cantava segurando vela e borrifador. Jezebel olhava apavorada. Como Ele conseguia tamanha naturalidade naquela hora?
Pensou em pedir para ir embora, despensou, repensou.
- O Senhor ficaria chateado se eu pedisse para ir embora?
- Eu?! De modo algum, mas... a que preço? Ele não parou de dançar, fazia como se ainda ouvisse a música, voltou a soltar as labaredas para o lado de Jezebel e ela, que já estava quase fora da maca, sobe correndo e se encolhe como quem vê um rio de baratas no chão.
- Como preço, Senhor?
- Pois é, eu não te contei. Aliás, eu não te contei nada, né? Chagamos aqui tão apaixonados, tão envolvidos em nós mesmos que nem negociamos. Ele parecia louco. Agora abre a porta de número 19 e pega um cacho de uvas. Come qual um louco de fome. E fala com a boca cheia.
- mas eu sei tudo e posso te passar as regras aqui desse mundo. Aquele que sai antes de eu mandar embora paga com uma tira de couro, umas mechas de cabelo e todas as unhas do corpo, quero dizer, todas as unhas dos pés e das mãos. Bem, se tiver em outro lugar, terá que dar também.
Ela não fala nada. Olha-O fixamente. Medo, pavor, desespero.
Mas, olha, Jezebel, (Ele a abraça. Em uma mão a vela e a uva, na outra o borrifador) eu posso fazer uma coisa legal com você.
- O que, Senhor?
Ele a beija, dado a proximidade, enche a boca de uva, quase queima seus cabelos e propõe algo como quem conversa com uma criança e oferece um brinquedo pela chupeta.
- Meu amor, olha só. Eu sei que tira de couro é muito, entendo que cabelo é coisa séria e mais ainda que unha de mulher não cresce logo, mas... (afasta-se e enche o peito como um vendedor em praça pública), eu posso trocar tudo isso por um banho de fogo. É! Sempre quis ver uma mulher pegando fogo (não dá espaço para ela falar e segue). Faremos assim: eu te encho de álcool, lanço a vela e logo depois eu ligo a mangueira com água. Nem vai te queimar. O que acha?
Ela pensa que aquilo não pode ser verdade. Passa a mão nos cabelos, sente o fogo queimando sua pele, passa as mãos rapidamente no braço e sente a sedosidade deixada pelos sabonetes.
Não, ela não sabe o que responder. E quando a sua confusão mental atinge o ápice, Ele joga tudo para o alto e a conforta: - Calma, Jezebel, eu hein! Estou brincando, pô.
Qual uma pessoa que acabara de receber um espírito, Ele muda da água para o vinho.
- Pára com isso, vai. Quer ir embora, mesmo?
Ela pensa, sorri, vê o papel de bobo da corte que acabou de fazer e sorrindo começa a chorar com força e descompasso.
Ele compadece. – Ah, não Jezebel! Tá chorando porque acha que eu a mandarei embora? Que isso, boba. Você pode ficar, é minha convidada.
A abraça bem apertado, ela chora mais ainda.
Ele olha dentro dos olhos dela. – Acabou... essa parte acabou. Por que chora?
Ela é irônica e tenta mostrar que está tudo bem com sua resposta.
- Eu gosto de chorar, Senhor, é quase um fetiche. Esquenta não.
- Pois é... (ele compra a brincadeira), uma tia minha dizia que só chorava quando não dava para sorrir. Mas, porra, ela não conseguia sorrir nunca.
Ambos caem na gargalhada e Ele a abraça com força.
Passados alguns minutos abraçados, Ele mostra um banheiro ao lado de onde estão. Pede que ela tome um banho de cinco minutos e volte com o vestido que está lá dentro.
Ela pula da maca, sorri, olha para Ele, sorri de novo.
- Posso perguntar uma coisa, Senhor?
- Se falar besteira voltamos para o jogo.
- Como o Senhor consegue ser tão sádico?
- Eu?! A sádica aqui é você, Jezebel.
Ela sai sorrindo e falando sozinha, que tem somente cinco minutos.

Já eram mais de nove horas da noite quando aquela sessão ininterrupta de tortura, banhos, torturas findara.
Ela volta linda do banheiro. Vestido, maquiagem, salto altíssimo.
Um vestido longo, rendado, transparente, creme com verde. Ao descrever pode parecer estranho, mas era lindo. O corpo de Jezebel estava sedoso, ela gostou do vestido.
O usou com prazer e estava admirando-o.
Andou alguns passos, chegou até Ele e com Ele logo estava “na sala” ao lado.
Diferente da sala de banho, ali havia pouca luz. Muitas sobras.
Uma sala ampla, com uma mesa grande. Madeira nobre, vidro, luz de velas com lustres de cristais. A música era um jazz que tocava fundo, bem ao fundo.
Ela se impressionou com tamanho luxo. Uma mesa impecavelmente posta. Mas quem a arrumou?
O fato de, visivelmente ter mais alguém ali a incomodava. Até a mesa podia ser impressão, mas a mesa tão bem posta, e o Senhor não ter saído de perto dela, deixava claro que tinha mais alguém ali.
Quando ela ia sentar-se, Ele pediu que deixasse a pele tocar o estofado da cadeira. Algo comum no meio, mas ela ficou visivelmente constrangida.
- Por favor, Jezebel... Deixe sua pele tocar a pele da cadeira que se segura o corpo.
Ela não segurou a língua e foi direta.
- Senhor, tem mais alguém aqui?
Ela tremia em sua voz, O olhava firme, Ele sorria.
- Sim, Jezebel.
Ela solta o ombro em alívio, mas não durou muito, pois Ele continuou:
- Tem todas as personas que habitam a mim e a você.
- Não é disso que falo Senhor...
Ela é interrompida:
- Vamos comer, não quero que esfrie, Jezebel.
Ela se arruma para comer quando sente a cane levantar seu vestido. Pelo vidro da mesa pode ver que era uma vara fina mas firme o suficiente para agüentar todo aquele pano.
Olhava para Ele, comia, sentia a cane e molhava. Ela gostava daquele jogo.
- É Jezebel... Tem muitos Senhores que mandam submissas comerem em vasilhas, no chão.
- O Senhor quer que eu vá para o chão?
- Se quisesse teria mandado, não?
- Sim, Senhor. Teria, Senhor.
O jantar foi sem novidades. Comeram e conversaram por curtos 70 minutos.
Jezebel ainda comia quando Ele levantou discretamente, colocou uma coleira nela e a puxou para se levantar.
Ela levou um susto, levantou de pronto.
- Todas as vezes que eu levantar, todos se levantam.
Ela não conseguia falar, com os olhos arregalados apenas maneou a cabeça.
Foi levada ao pequeno tanque.
Recebeu a ordem de escovar os dentes e quando abaixou para pegar escovas recebeu um pacote em seu rosto e o comando para abrir.
Era uma escova usada em cachorro e um creme dental de baixíssima qualidade e péssimo sabor. Ou era de cachorro ou era medicinal. Não podia ser comum.
A salada, o peixe, as torradas quase voltaram.
Enquanto escovava, Ele batia em sua bunda com as mãos. Chegou a levantar seu vestido, mas somente olhou e bateu mais ainda.

(continua na próxima semana? - durante a semana volto para revisar e ilustrar.)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 003]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 003]

Pensava, refletia. Quero dizer, buscava pensar, tentava refletir. Sua mente era confusa demais, estava confusa demais para elaborar o novo, seu signo do zodíaco dizia que ela era uma pessoa que não elaborava, resolvia tudo no impulso. Era o fogo do momento.
Vindo de dentro do corredor, um forte som de sino empurra a todos naquela imensa porta. Jezebel assusta-se e dá uma salto para trás, Dom Demétrius nem se mexe. Olha para ela, assiste a seu salto, olha para dentro, dá um leve sorriso como quem sabia o que havia e faz seu derradeiro discurso:
- A grande hora chega, Jezebel. Não a mandarei entrar, não me responsabilizarei por seus atos e nem fomentarei o seu prazer.
É agora, ou fica ou saí.
- Eu não dou conta. Eu saio, Senhor e peço que entenda a...
Quando ela ia concluir seu discurso Ele a interrompe.
- Por favor, Jezebel, se fica tem tudo. Conversa, discurso e argumentações, se sai sai sem nada, não precisa nem mesmo justificar sua ida. Por favor, se vai, não se demore.
Ela levanta sua cabeça, olha dentro dos olhos Dele, o ar era um misto de raiva, sentimento de não acolhida, afinal ela só queria conversar para ter um pouco mais de segurança, indignação.
O ódio lhe subiu à cabeça e Jezebel teve vontade de cuspir na cara Daquele homem, mas não o fez. Uma força a impedia de chegar mais próximo que um metro dele, sua boca trincou de uma forma tão inusitada que nem ela entendeu. Talvez fosse melhor.
Ela virou-se, olhou-O mais uma vez. Queria que Ele a resgatasse do limbo de sua atitude, queria que Ele respondesse por ela. Ele não o fez, em verdade nem mesmo se moveu. A viu ir porque aquela era Sua posição inicial.
Alguns muitos passos e ela estava na esquina. Olhou para trás mais uma vez. Ele estava mexendo no pulso, talvez no relógio e não a viu olhar.
Uma enxurrada de sentimentos e emoções tomou conta daquela mulher. Seu corpo tremia, suas pernas bambeavam, sua cabeça parecia explodir, seu coração disparava, seu peito doía, suas mãos suavam, sua espinha mesclava calor, muito calor, e frio, muito frio, sua roupa estava ensopada. Ela correu. Mais de cem metros e estava jogando-se no carro. Um lugar familiar...
Ali, presa ao volante, pernas soltas, bolsa ao lado ela desfez seus grãos de emoção, qual uma tempestade no deserto ela soltou-se grão por grão, todos ao mesmo tempo. O sol ainda estava alto, mas iniciava seu procedimento de descida.
No carro ela se encontrou com ela. Teve vontade de ligar para um ou outro, mas o que dizer? – Sai com um sádico e não tive coragem de visitar sua masmorra?
Se isso fosse dito para alguém de fora do meio, ela seria taxada de louca, desequilibrada e ainda teria que contar toda a história.
Se isso fosse dito para alguém de dentro do meio, ela seria taxada de louca, desequilibrada e ainda teria que contar toda a história e... explicar como ela, tão renomada, tão forte, tão especial abriu mão de um dos maiores nomes do meio. Ele é o sonho de consumo de 9 entre cada dez submissas, ela O teve, bem ali e – frouxa – correu.
Ali. Ela chorava, pensava no mundo muito mais que em si, não pensava nas possibilidades, mas pensava em como Dom Demétrius foi injusto. Não custava nada conversar um pouco. Ela precisava de conversa! Como um Dominador tão experiente pode deixar passar algo tão básico? Recuperando o fôlego ela pensa em como puní-lo. O que poderia dizer nas listas, nos chats, nos grupos para mostrar a todos quem é esse pseudo-Senhor que se diz Dominador, quando na verdade é um frustrado que só quer usar e abusar de submissas.
Ele veria com quantos paus se faz uma canoa!!!
Feito isso, pensado isso, ela enxuga o rosto, recupera o fluxo de respiração, centra suas ideias e com a ideia de vingança se maquia, arruma os cabelos e liga o carro para partir.
Junto com as luzes padrão do carro, o rádio liga e o CD do Chico volta a tocar. Uma música ainda está em seus primeiros acordes.



Teresinha
Composição: Chico Buarque/Maria Bethânia

O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não

O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração

A música a hipnotizou, não conseguiu dar a partida em seu bólico, não conseguiu dar a partida em si mesma. Travou a mulher, travou a submissa, travou Jezebel.
Durante a música ela chorou uva-passa, teve corizas de carvalho com pimenta e viu um céu mudar de cor. Do azul límpido passou por um vermelho-constatação e chegou a um negro-noite-lúcida-porém-misteriosa. Mito!
Tudo passou por sua mente e se há dois minutos atrás ela o odiava, agora sentia que precisava voltar para ao menos pedir desculpas, afinal Ele a acolheu, foi cortês, ofereceu sua masmorra, não a obrigou a entrar, pelo contrário, deixou a parte dela nas mãos dela.
Ele foi sábio, ela foi ignorante. O jogo era Dele, em sendo submissa ela não teria o direito de querer se impor, de querer contrapor, de querer.
Sua mente girava mais que núcleo de furacão. Em verdade, não girava na base. Ali era neutro, girava no alto e, por descuido, talvez, levou tudo. Até o que não devia levar. Talvez.
Desligou tudo, desceu do carro correndo, um sapato lhe saiu do pé, mas qual Cinderela não tem tempo de voltar e pegá-lo.
Ao virar para o corredor de onde estava a porta vê que Dom Demétrius está no mesmo lugar, na mesma posição.

Ela, no primeiro instante, se alegra o peito com rosas colombianas, diminui o passo e ao chegar na frente Dele, se joga de joelhos, coloca as duas palmas das mãos para cima, enfia sua cabeça entre as pernas, coloca seu quadril bem para o alto e chorando pede desculpas.
- Por favor, Senhor, me desculpe. Fui imatura, infantil ao não reconhecer sua autoridade. Vim pedir desculpas, pois eu não deveria ter saído daquele jeito.
Ele a olha por cima, volta a conferir o relógio e sorrindo faz seu discurso andando. Ao que parece faz uma revista. A mesma que faria o futuro proprietário de um animal qualquer.
- Veio pedir desculpas, ou pedir para entrar, Jezebel?
Ela fica muda.
- Já ficou muda tempo demais, Jezebel. A noite caiu e as bestas serão soltas para protegerem o terreno. Nem eu as controlo. Ou entramos ou saímos. Me responda, por favor.
Ela não entende nada, mas um frio passa por sua espinha, a bela posição só é bela, a deixa incomodada, não somente o físico, mas igualmente a mente. Sem dúvidas ela queria impressionar, e sem outras dúvidas, Ele não ficara impressionado. Sua frieza era realmente Sua.
- Senhor, eu queria conversar, preciso conversar.
- Quando verá que o jogo é Meu e não seu, Jezebel? Aqui o tempo e o espaço são modos manipulados por mim, em meu mundo eu sou Deus e Diabo, sou plebe e corte, sou Rei e súdito, sou vento e poesia, sou o palácio e o cortejo, as cores e os vendavais. Sou sol, lua e noite. Não quero e não serei dia. Nunca, Jezebel e creia: o meu nunca pode ser nunca, hoje ou mesmo amanhã e os meus hojes e amanhãs podem nunca ser. Tudo é Meu e nada será seu. E ainda se orgulhará por, ao Meu lado, não ter nada, uma vez que somente Eu tenho tudo.
Ele fala isso e dá um tapa tão forte em sua bunda que ela quase cai. Aquilo foi o suficiente para a alma de mulher ser sacudida e a alma submissa descer para agradecer o a última oferenda e encomendar mais uma em qualquer encruzilhada.
- Se tudo que está a vista é Seu, quem sou eu para não seguir o rio da verdade?
- Você é a mina da vaidade. Constante até o momento em que um posseiro qualquer te canaliza para a cocheira e passa a dar de beber somente aos bois.
- Sim, Senhor, sou o que sua visão diz que sou.
Claro que tudo aquilo não passava de um jogo de poder. Ele não acreditava nas palavras dela, ela buscava um meio de derrubar os discursos Dele. Esse era o prazer dos desencontrados até o encontro final.
Ele, sem dar atenção a fala dela, segue seu discurso.
- É Jezebel... 43 minutos é muito tempo para reconhecer a grandeza de um Imperador. Sim, por direito e conquista sou o Imperador de mim mesmo, Aquele que é Dono e Senhor de tudo que pode ser visto.
Mas a esperei, sabia que seria frouxa demais para entrar de pronto e esperta demais para ir embora ao primeiro sinal do sino. Outras foram, outras entraram, nenhuma ao primeiro convite.
Levam-te Jezebel de Bourbon Caspp!
Ela levanta confusa, pois saber o seu nome era aceitável, mas sabê-lo todo? Sem contar a arrogância de saber todos os seus passos. Ela quase morre e Ele se diverte?! Ele sabia o que ia acontecer a todo instante, ela foi a tola.

Já de pé, Ele faz mais uma revista.
- Jezebel, perguntarei mais uma única vez. Não quero demora na resposta, não quero nada além de um sim ou não e em caso de não quero que se vire, entre no seu carro e se vá. Fui claro, Jezebel?
- Muito claro, Senhor.
- Jezebel, você quer entrar?
- Quero sim Senhor.
- Então entre, Jezebel.
Ela congelou. Até ali a leitura que ela fizera era que, diante de um sim, Ele faria um discurso e a mandaria entrar, mas Ele não era linear, não existia padrão, não existiam padrões.
Ela respira fundo, entra, Ele a empurra, ela dá alguns passos e assusta-se com o forte barulho que a porta fez ao ser fechada. Mas por quem, se Ele estava exatamente ao seu lado?
Tudo escurece, Ele segura firme em seu braço para que ela não saia correndo, não surte e fala manso – acalme-se e logo seremos luz.
Aos poucos as luzes vão aumentando, parece um dimmer, um controlador. Bem devagar ela vê que o corredor é mais extenso do que se via lá de fora.
Ao ouvir um sino vindo bem de longe e bem fraco Ele a solta e pede que caminhe.
Ela percebe as paredes úmidas, frias, cor de bege, bege de pele de árabe queimado de sol e deserto, de bege, de bege rosa, de bege marrom, de bege vermelho, avermelhado e até de um bege bege.
O piso erra irregular, feito de pedras e blocos. Horas pedras, horas blocos.
Não houve conversa. E nem dava para, afinal tudo era ao mesmo tempo assustador e encantador.
Ela percebeu algumas leves curvas, algumas leves inclinações. Seu senso de direção era bom, mas não conseguia notar que estava passando por baixo daquela casa enorme, passando por baixo da rua que estavam e seguiam para baixo daquele terreno que estava na frente da casa onde entrou. O terreno vazio e muito bem cuidado era o topo da masmorra em que ela seria usada.
Ela percebe que o corredor tem largura irregular, percebe que foi feito de uma forma que só é possível ver 15 metros por vez, ao final disso a arquitetura sofre alguma mudança que impossibilita a visão.
Uma volta e dão de frente para duas portas de ferro pesado e enferrujado. Uma bem grande, larga e alta, uma de um metro e meio, estreita e com alguns detalhes em alto relevo.
Ambos param.
A porta imensa se abre sozinha, o que a faz acreditar que realmente há mais alguém ali, a pequena se mantém fechada. Como estava.
- Abra a porta, Jezebel.
- Essa Senhor. Ela estava nervosa.
- Não, Jezebel, pode abrir esse aqui que já esta aberta. Ela abaixa a cabeça e faz um esforço sobre humano para abrir a porta.
- Não é força, Jezebel, é vontade. Tenha vontade de entrar e ela se abrirá.
- Mas eu estou com vontade de entrar, Senhor.
- Se estivesse ela se abriria.
Ela abaixa a cabeça mais uma vez e ao se apoiar na porta, ela se abre e ela e arremessa da para dentro.
Ele entra pela maior.
Ela levanta sua cabeça e fica encantada com o que vê.

São cinco grandes salões. A divisão é visual, os símbolos são muitos, os aparelhos de todos os tipos. No centro dois grandes círculos fazem um 8 símbolo do infinito. Nas paredes armaduras, quadros, armários imensos, em madeira escura, lindas cristaleiras guardam de tudo um pouco.
Ele para ao lado dela, pede que ela se levante e observa a vontade. Ela olha a tudo sem se mover, se assusta ao ouvir o fechar da porta, não tem coragem para virar e ver quem fecha.
Os brilhos são variados, coisas em dourado, prateado, vermelho, azuis, verdes, esmaltes de todas as cores, esmaltados de todos os formatos.
- Aqui, Jezebel, trago o mundo para perto de mim. Tenho tudo de todo o mundo. Não falta nenhum continente.
Ela o ouve, mas está fascinada demais para ouvi-lo. A iluminação é feita em lugares com lustres de cristal, em outros com velas e em outros tochas. Um encanto!
Ela a leva para uma parede cheia de azulejos, para a uma distancia que ela não consegue ler o que está escrito nele. Percebe que as letras, cores e tamanhos são diferentes, mas não consegue ler.
- Aqui assinam as que saem vivas de meu mundo. Elas colocam o que querem, do jeito que querem.
Jezebel não se segura e dá um passo a frente. Ao ver os nomes não acredita. Pessoas nunca vistas, mas algumas até suas amigas. Como não avisaram que já haviam jogado com Aquele Senhor? Como?!
Cantária... Fazia o tipo mosca-morta e já entrou aqui?! Ela pensava: eu que sempre me mostrei tão esperta quase fui embora e ela conseguiu entrar e... sair!!!
Gomes? Ele joga com homens? Arrrggg Aquele viadinho é um entojo, mas percebi que de um tempo para cá é outra pessoa, tem sido mais ponderado, coerente e até mais eficaz em suas investidas. Será que isso é obra e graça desse Senhor?
Viu mais nomes, viu mais pessoas.
E poderia ver todos, um a um se não fosse o fato dEle puxá-la para o lado.
Ela vê quadros com fundo branco e fios, pedaços de sujeiras, coisas que ela não consegue identificar.
- Aqui ficam os restos de algumas pessoas. Umas me deram um pedaço de suas peles, outras o pedaço saiu com o chicote e eu os recolhi, outras, eu pedi suas unhas, seus restos e elas me deram.
Jezebel treme e antes que pudesse pensar naquilo, Ele a puxa, mais uma vez para o lado.
Fios de cabelos em molduras. Em algumas muitos cabelos, em outras somente um fio, mas todas com fios. Crespos, lisos, alisados, tratados, naturais, fios. Muito quadros e seus respectivos códigos na base.
- São cabelos, Jezebel. Algumas pessoas não se contentam com o quadro e me dão seus cabelos de presente. Gosto de tê-los em coleção.
Quer me dar seus cabelos, Jezebel? Um fio, uma mexa, todo ele?
Ela esfria, não sabe o que dizer, mas sente um enorme tesão ao pensar na possibilidade de ter algo seu naquela parede. Pediria a caneta grossa, azul e escreverei seu Nick em letra da fôrma para não restar dúvidas.
Pensou mais um pouco, olhou para os quadros e sentiu algo quente subindo de si.
- Mas seriam todos os cabelos ou somente uma mecha, Senhor?
- Por que sempre tem uma pergunta, Jezebel? Por que sim ou não é tão difícil para você.
Ele se mostra emburrado e a puxa para outro canto da masmorra.
Lá havia um paredão semelhante a um banheiro. Ele pegou uma mangueira, pediu que ela ficasse no centro daquela parede e ordenou que tirasse sua roupa.
Ela não sabia onde enfiar a cara. Mas como assim? Perguntava em sua mente.
- Não repetirei, Jezebel. Tire sua roupa, por favor,
Ela tremeu, não sabia para onde olhar, o que fazer, como fazer. Até aquele momento, com todos os Dominadores que jogou, tudo vinha em uma escala lógica. Dava para se preparar, dava para preparar o espírito. Com Aquele homem nada vinha em seqüência, nada era coerente, nada obedecia a um crescendo.
Ela ficou tão vermelha quanto indecisa.
Nessa hora um forte jato de água a pega desprevenida. Sua tamanha força a joga na parede de azulejos azuis, brancos, amarelos e totalmente desenhado. Parecia uma história de banho, mas ela não pensou naquilo. Assustou-se.
A água a sufocou, mesmo na parede não parava de jorrar. Ele tinha o controle e rindo (muito) de seu desequilíbrio dizia - Outros, Jezebel diriam “jogue a trança Rapunzel!” eu digo “tire a roupa Jezebel” e cai em uma gargalhada que mais parecia de criança que de um homem maduro, um sádico de fato.
Jezebel não teve vontade de chorar, teve vontade de pegar a mangueira das mãos daquele moleque e lhe dar uma boas sovas! Porém ainda que infantil, o filho de um rei, embora, menino, ainda é príncipe. Melhor atender e ver se aquilo acaba.
Ela se vira para equilibrar-se e tirar a roupa.
Vez e outra olhava para Ele, o jato estava mais fraco, mas os olhos Dele brilhavam, Ele usava a água para apontar e dizer o que queria que fosse tirado naquela hora.
- Tire essa peça, Jezebel (e a água era direcionada para a tal peça).
- Senhor, vou pegar um resfriado, Senhor.
- Vai nada! Você é cuidada a base de leite de cabra, Jezebel. E essa água ainda está quente. Vai, vira de costas e tira essa peça aqui. E a água era usada como mão.
Mão essa que alisava todo o corpo de Jezebel.
Ela? Sentia-se humilhada em alguns momentos, desejada em outros e, na maioria das vezes, se taxava de louca por estar ali.

(continua na próxima semana?)