Área particular. Mantenha-se afastado!

Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 008]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 008]

A mesa era plena. Algo que, no nordeste brasileiro, chamariam de “pequeno almoço”.
Jezebel estava incomodada, Dom Demétrius não parava de olhá-la. Seus seios eram belos para sua idade, firmes, bem desenhados, de auréolas definidas, mamilos pontiagudos, convidativos. Tão róseos quanto um final de tarde com pôr do sol de luz redondamente avermelhada em amarelo tingindo azul. Aberto e vivo.
Dom levanta-se com uma pequena caixa na mão. Ela já estava ali quando chegaram, mas como muitas coisas naquela mesa, não fora notada.
Ao chegar a frente de Jezebel, a abre e deixa escorrer várias agulhas. De todos os tipos e tamanho. O apetite de Jezebel escorre diante da visão. Ela tinha verdadeiro pavor de agulhas. O medo era tamanho que chegava a tomar calmantes para fazer um simples exame de sangue. Sim. Fazia os exames dormindo. Isso saia mais barato que suar frio diante da possibilidade de se ver invadida por aquele objeto práteo-perfuro-agoniante.
Seu corpo tremeu, o coração disparou de uma forma tão violenta que a vida teve ímpetos de sair de si.
- Rápido! Vamos todos! Corram!
Alguém gritava dentro de si para todos os outros orgãos.
A cor da pele (sempre muito bem colorada devido aos bons tratos) foi a primeira a pular ao mar. Escorreu.
Sua cabeça perdeu os cabelos, que deixou agulhas no lugar. Eram pontadas intensas, vivas, sem a menor noção de ritmo. Cabelos e pele são amigos. Tinham que ir juntos. Escorreram.
Os ombros ainda tentaram fazer a proteção das couraças, curvaram de encontro, um ao outro, caíram com o peso da chegada, e expansão, do exército do medo.
Marcha de mais de mil homens. Pressão, barulho cadenciado, olhares fixos, mas perdidos no salão de dança onde valsam os menos enebriados.
- Morte! Vamos para a morte! Era o coro daquele batalhão invisivelmente visível.
- Soldado do medo onde vaaaai você?!
Gritava, cantando, o vibrador sargento.
- Eu vou mataaaaar ou vou morrer!
Respondiam em coro forte, único e sob a percussão do coração.
A terra tremia abaixo de Jezebel.
A terra temia,  à baixo Jezebel!
Dom Demétrius não precisou fazer absolutamente nada. Só deixou as agulhas caírem na mesa. À frente dela. Só. Mais nada. Foi ela quem fez tudo. Sozinha. Dentro.
Ele sabia que acionara um botão importante.
Passou por trás dela, sentou do outro lado da mesa, ao lado dela, com a distância de uma cadeira. Uma entre os dois. A olhava com sorriso de canto de boca. Ela olhava para Ele, para o chão, para si. Não. Ela não conseguia olhar para as agulhas. Um monte. Várias! Dava para dizer que tinha umas trinta, mas ela via um milhão. A mesa era só agulhas, em sua mente. Seus olhos, que não escorreram com a debandada de "alguns outros", mostravam muito mais do que havia; afinal, sua função era olhar e não processar.
O cérebro, o comandante de um navio que afundava aos poucos, tinha muito para resolver diante dos fatos e os olhos eram masculinos. A prioridade eram as mulheres (a sanidade e a emoção, por exemplo) e as crianças.
A música no ambiente era erudita e incidental, mas não se ouvia nada. Melhor, ela era ouvida pelo corpo daquela mulher que desesperava mais e mais a cada novo segundo.
- Fala algo, Senhor, por favor.
Um suspiro? Um sinal de vida e luz? Ou uma cápsula de sobrevivência, inacreditavelmente, ainda disponível?
Dom Demétrius era experiente. Não respondeu. Não com a fala. Olhou para as agulhas, olhou para aquela forte e, por isso, náufraga mulher, sorriu suavemente. Nada falou.
Ela gemeu um canto gregoriano que chegou a ouvir a si mesma. Suas pernas, que assim já estavam, fecharam ainda mais. Seu coração descompassou. Seu suor. Desceu! Ela molhou-se toda. Sim. O suor queria escorrer para, também, abandonar o navio.
Dom Demétrius joga uma toalha e sinaliza que ela use. Ele evitava a linguagem da fala e abusava da corporal. Dos sinais. O que ela sentia era primitivo demais para chegarem à elegância da comunicação verbal. O que ela sentia era o mesmo que o homem de amanhã sentirá e que o de ontem sentiu: Pavor. Um sentimento que foi descoberto muito antes de fogo e roda, mas que muda o homem assim que se instala, de forma consciente, na prima descoberta.

Homem. Mesmo com a roda e fogo, tu só o será - homem - quando descobrir seu próprio medo e se apavorar ao perceber que ele roda em fogo.

Ali, naquele campo de batalha, ela era vítima e algoz.
O elefante até pode ganhar do rato, o gladiador dos leões, o homem de bem do sem lei, mas a história mostra que nem sempre é assim. Mas... quem era Jezebel naquele contexto? O rato astuto ou o elefante passivo (e grandandão)? O gladiador com medo e pensando mais na sobrevivência que na batalha? Ou o leão que, por puro instinto, só pensa em derrotar o que se move à sua frente? O homem de bem que tem regras, uma imagem e postura engessada ou o sem lei que assume como única premissa estar vivo? Santo Agostinho dizia: A necessidade desconhece leis.
Quais eram as necessidades de Jezebel? Quais leis precisaria desconhecer para ser e estar são e salva de si mesma? Era ela! Ela era tripulação, navio e mar! Não era a tempestade, mas era toda a outra parte do quadro. Até moldura.
Ela saltou muito mais que alguns metros quando Dom Demétrius esticou o braço e chacoalhou as seringas.
Seus olhos arregalaram. Outro gemido. Esse seguido de um canto de gueixa. Só um suave grito acompanhado pelo vibrar de cordas quase sem ritmo. Algo não compreendido pelos ocidentais e tão apreciado pelos povos do oriente.
A saliva não passava por sua garganta, afinal aquilo era entrar e todos queriam sair, lembra? O navio estava sendo evacuado.
Ele mexe nas agulhas. Pacientemente as espalha, parecia procurar alguma em especial. Ela balança a cabeça em negativa, junta o queixo ao peito. Um ato de possível resignação, mas aquilo não durava. Se no momentoA o cérebro entendia que era um jogo, no momentoB ele se perdia e estudava todas as possibilidades (negativas) e só via o pior: ser furada pelo práteo objeto que seu vil metal a possibilitou negar.
Com uma agulha, de insulina, bem pequena, na mão Ele olha para os olhos daquela mulher rato, ou elefante, e fala, descontraído e totalmente alheio ao desespero dela. Usa o verbo depois de longo período usando outras prosas em versos.
- Essa é a menor que tem, Jezebel.
Ela confirma com a cabeça. Confirma sem, de fato, saber ao que confirma. Sem notar que não tratava-se de  uma pergunta. É mulher estressada. Cega, Crua. Cem gloss.
- Seus seios são sabotadoramente sensuais. Belos...
Ele deixa o final no ar e isso foi o suficiente para que ela entrasse em pânico de novo. Ondas imensas empurravam aquele navio, a noite contribuía para um cenário de completo caos, os barulhos, das pessoas, era apavorador. Todos os seus sentidos reclamavam atenção do cérebro e ela não conseguia administrar com toda aquela pressão.
Ele aproxima a agulha de Jezebel.
- Senhor, por favor, eu tenho trauma com agulhas. Não posso com elas, por favor.
Ele a olha, sorri sadicamente.
- E?
Pergunta Ele qual criança testando a paciência da mãe e estudando possíveis limites.
- Aí, Senhor, por favor. Eu não dou conta disso, Senhor, por favor.
A mão Dele para a mais de dois palmos de lonjura, mas o corpo dela continua empurrando a cadeira para trás. Fez isso por quilômetros. Sem parar. Sem olhar para trás seu corpo dirigiu aquela cadeira, nas estradas do medo, feito um piloto em fuga. Seu suor era tamanho que o vestido estava totalmente molhado.
Proposital ou não, o tecido era daqueles que mudam de cor ao ter contato com a água. Será que ele, o vestido, também queria abandonar o navio e começara a evacuar cor por cor? Correr quilômetros, sem parar, na estrada do medo?
Jezebel era de uma confusão mental tamanha que não viu que Dom Demétrius havia largado a agulha e fora, com o dedo, acariciar seu mamilo direito. Ela saltou. Levou a mesa consigo. Derrubou a xícara de café, espalhou o pão, derramou o leite. Adianta chorar? Não. Mas Ele a olhou fixamente e ordenou com a firmeza de um cirurgião:
- Chora, Jezebel.
Com a precisão de um torneiro mecânico (que analogia, não?) ela chorou. Compulsivamente aquela mulher era de um pranto incomum.
O choro não vinha de dentro, afinal todos já haviam abandonado o navio. O choro vinha como se fosse um ciclo onde ela reciclava o suor do corpo, o absorvia, e devolvia como lágrimas.
Ela estava gelada, confusa.
- Chora mais, mulher.
Ele mandou, ela desesperou. Não sabia ao certo porque chorava, mas Ele sabia que era por conta da agulha que furou-lhe a mente. O jogo psicológico.
Seu dedo, para todos, seria somente um dedo, mas para ela era um feroz rato-leão-homem sem lei. Um inocente (será?!) elefante-gladiador-homem de bem.
Entrou fundo, dilacerante. Tão forte e tão devagar que foi impossível não sentir o rasgar da pele, a drenagem das forças, o fogo do ferro. A descoberta do tal fogo e roda. O pavor de existir.
A agulha (dedo?) entrou sem pedir licença, não mandou batedores para abrir caminhos e fechar os principais cruzamentos. Sim. Ela - a Ministra das relações das dores interiores, a agulha - era autoridade, tinha status de Chefe de Estado, mas veio sem avisar. Quebrou o protocolo e entrou tão sem música e sol adentro que a dor fez um espetáculo mambembe. Tão improvisado que somente as crianças achariam graça, na praça. Ela era adulta. Chorou.
O fio do passo, o frio do aço, o filho do ato, o físico do parto era tamanho que todas as luzes do palco se apagaram. Simples assim: acabou a peça.
Esperar? Aplaudir? Cada um sabe de si. Mas só se houver consciência para isso.

Jezebel ainda chorava quando Dom Demétrius levantou, a levantou e a tirou para dançar.
Em seu ouvido sussurrou: - Você morreu... Agora já pode dançar livre de si mesma.
Ela, intimamente, sorriu, deixou-se levar e achou-se louca em toda aquela sanidade.
O bailar era sério, Dom Demétrius era um condutor, em todos os sentidos, prestimoso, cordial, elegante e justo. Não deixava folga para erros e a dama sempre sentia-se segura diante desse fato.
A dança começou ao lado da mesa e acabou em um enorme salão. Um daqueles apresentados quando ela entrou.
Jezebel estava molhada, suada, ainda tremia. Estava longe das agulhas, mas muito próxima à sensação de medo. Aliás, o medo foi um dos poucos que não abandonou o navio.

A música tocava o esguio corpo daquela mulher, o bailar a acalmava e fazia, aos poucos, resgate de todos os sobreviventes daquele tragedramático naufrágio.
- Tenho sede.
Ela não entendeu aquele sussurro. Optou a imitar os orientais fora de suas terras que, ao ouvir algo que não compreendem, ficam calados e agem como se nada fosse dito. Calou.
- Ainda tenho sede...
Agora ela ouviu, seu corpo tremeu, afinal estava em uma operação de resgate e qualquer mudança de clima poderia ser fatal para os poucos sobreviventes.
Ele a rodopia forte, tão forte que o cérebro pensou em desconectar do corpo. Impossível.
Grita com o aumentar da música: - Sede!!!
Ela, claro, assustou com aquela reviravolta de estado. Um vento sul, sem norte, tão forte que acaba com toda sorte.
Às voltas e rodopios, às músicas e trocadilhos Ele só fazia repetir que ainda tinha sede. Sinceramente? Parecia um vampiro que acabara de beber litros e litros de sangue e, revigorado, queria mais de sua vítima.
Aos rodopios Ele passa próximo a uma das, muitas, velas que ornavam o local e iluminando seu próprio rosto se faz Shakespeare. Olhar de drama. Voz de drama. Ar de verdade. Era um drama. Ele tinha sede.
Com uma das mãos, sem parar de dançar, segura a vela, une seu corpo ao daquela mulher e, com a outra mão puxa seu vestido. O vestido foi submisso ao aceitar o rasgo que lhe foi ofertado.
O barulho do romper das fibras foi instigante(mente) sedutor. Um só puxão. Suave. Um só rasgo para que o dado vestido se deixasse ir naquelas mãos. Mais um e já não havia mais bela peça inteira. Jezebel estava nua. Rodopiando, um tanto perdida, já que não havia nenhuma das mãos do cavaleiro condutor em si. Dessa vez não havia mesa à sua frente, cordas que lhe prendessem as mãos. Podia correr. Quem disse? Os olhos Dele não saiam de dentro dos olhos dela. Era por ali que a dança fazia seus pares. Era dentro que a música da Dominação tocava seus envolvidos.
Não haviam mortos nem feridos. Eram os dois. Olho no olho. Ambos, cada um à sua maneira, nu. Cada um do seu lado. Só. Juntos.
De um salto, Ele a vira. Param de dançar. Agora seu corpo seria o salão para a dança da vela que, com seu calor, deixaria seus pingos. Agora era a vez de outro naufragar naquele Triângulo das Bermudas.
Jezebel fora colocada de pé, abaixada o suficiente para expor suas costas.
A vela fora colocada deitada, suspensa o suficiente para expelir suas crostas.
Um pingo. Um “aí”.
Outro pingo. Um balançar.
Pingo. Reação.
Ação, contra-ação.
Ela tentou andar. Seco. Ele a mandava ficar, voltar, virar, rodopiar.
Era irônico em algumas observações. – Para, Jezebel, volta, Jezebel. Parece pipoca! Sente a vela, Jezebel. Sinta-se, Jezebel.
Eram tantas as Jezebeus que uma só nunca daria.
Seu corpo, antes nu, agora tinha uma nova repaginação. Os pingos da vela. Ela, a vela, na hora do pânico, transferira, para Jezebel, todos os seus tripulantes.
Diferentemente do que ocorrera com ela, que ninguém socorreu os seus, ela socorrera a vela e abrigou todos os seus pintos.
Dom Demétrius a levou para uma parede vazia, pediu que assumisse a posição de revista (mãos no alto da parede, pernas abertas e afastadas...) e lhe colocou uma venda. Ela esperava por tudo. Acreditava que já havia passado por tudo.
Ali, vendada, ela ficou por um sem fim de tempo. Descalça, sem roupa, sentindo o peso do suor, da cera, do medo ela ficou.
Quanto tempo? O que é tempo em um lugar como aquele? O tempo desconhece lugares assim. Seu medo pode fazer cinco minutos virarem uma eternidade, seu prazer pode fazer uma eternidade virar apenas alguns poucos minutos.
Ela não ouvira passos, não percebera movimento. Um novo naufrágio se inicia? Ela, usou o microfone (interno) para pedir calma a todos os passageiros e acionar a tripulação.
Uma importante – e influente – “socialite”, senhora Impaciência Psica Surtado, esposa do Sr. Excelentíssimo Pânico Surtado. Uma das maiores fortunas daquela sociedade. Começou a andar de um lado para o outro e, como tinha uma corja de séquitos, muitos iam com ela. Aquele ato quase inicia um ato de pânico do Sr. Pânico, mas parece que Dom Demétrius não queria isso. Antes que ela o chamasse pela décima vez. Sim. Ela chamou “Senhor” algumas vezes. Não se mexeu, não saiu do lugar, mas chamou. Nove vezes. Ele aparece através da figura de um forte barulho e vento.
Um chicote de muitas caudas fazia a corte e o favor de tirar-lhe a cera das costas.
Jezebel recebeu a visita do Susto, mas senhor desespero não embarcou. Em verdade, ela ficara feliz. O jogo de abandono é um dos piores para quem tem a necessidade de controle.
Com Jezebel não era diferente.

Uma passada precisa e a cera saía. Não havia dor para Jezebel, pois o chicote não queria sua carne. Estava a enamorar a cera, não tinha olhos para outras. Não queria pele, e tão pouco se importava com um possível concorrente. O suor. Esse vinha abundante, ocupava todos os espaços e forçava passagem até por onde não havia convite.
Ela gemia diante do vento causado pelo chicote e da pressão que, embora sem dor (repito), havia sobre si.
Nenhuma palavra fora trocada naquela dança de chicote, cair de cera e suar de corpo.
Nenhuma palavra fora trocada naquela dança de chicote, cair de cera e suar de corpo.
Nenhuma palavra fora usada na queda da transa do chicote, sair de cena e suar de porto.
Jezebel sentia um tremor agradável, um frescor bem vindo e via a lua brilhar satelizando a órbita de seu prazer.
O chicote para, o barulho some, o vento não volta.
Suavemente a mão daquele homem passa por entre suas pernas, toca seu sino e avisa o horário da missa das seis.
O toque, em seu sino, era tão suave que a vontade era pressionar contra. Ele não permitia e afastava diante das investidas dela.
Ela delirava com aquilo. Era bom, era frescante, prazente e ensurdecedor. Ela não se ouvia quando gemeu alto, gritou forte e bateu os pés contra o chão para puxar aquele que seria um de seus melhores orgasmos do dia.
Ela escorreu pela parede, abandonou o próprio barco, mas dessa vez o motivo foi nobre. Pura falta de forças e completo estado de exctasy.

Dom Demétrius afastou-se e a deixou em seu momento. Sentou e apreciou aquela Ópera da China, aquele teatro de sombras. Espetáculo único. Butoh!

(continua na próxima semana?)


Dom Demétrius e Jezebel chegou ao meio. Que tal escolher a próxima série?

Mestre Riachuelo - Sádico e Sedutor 
ou
Sub_Miss_A - A eterna busca de uma princesa

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 007]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 007]

Estrondo foi o barulho que veio do nada. Água por todos os cantos acordava Jezebel meio a um susto com uma metragem cúbica infinitamente maior que todos os oceanos juntos.
A música era alta, as luzes estavam todas voltadas para seu rosto.
Água! Água! E mais água!
Ela sufocava, não sabia o que fazer. De um salto tentou levantar e buscar um canto, um abrigo, um seguro porto seu.
Estava amarrada. A confusão mental não deixara-a ver que as amarras eram físicas.
Sonho?! Eu pensaria em pesadelo. E daqueles que nem quando acordamos acaba.
Completamente perdida, diante de tanta água só restou gritar. Grito de mulher. Estridente, alto, vivo. Mulher.
Seus pulsos marcavam com a corda, seu corpo molhava com a água. Vinha de cima.
Seu nariz ardia, seus olhos doiam, sua boca tremia e logo ela pode ver Aquele homem com uma corda na mão, um chicote na outra e um sorriso sádico tão à mostra que parecia produto de luxo em loja de excelência. Estava nos lábios.
- Dormiu bem, Jezebel?
A água parou. Já era sábado. Ela O olhou e não respondeu. Ele continuou.
Espero que tenha dormido bem. O seu dia será intenso e estar descansada fará toda a diferença.
O chicote bate, firme, bem ao seu lado. Ela pula, ele sorri.
Qual criança que descobre um novo brinquedo, Ele brilha nos olhos e deixa o chicote descer de novo. E de novo. E de novo. Cada vez mais próximo, cada vez mais junto ao corpo daquela mulher que ainda não acordara e sentia-se perdida.
Como aquele doce de homem de ontem, pode se transformar no monstro de hoje? Ela pensava e O olhava fixamente. Ele não parava de bater com o chicote na cama e o caminho desse couro duro, trançado seguia rumo ao seu corpo.
Pela força e pressão da cama ela sabia que não suportaria. Pela cara Daquele sujeito ela sabia que o chicote desceria com o ar da dor, a força da marca, o calor do fogo e a ardência de um vulcão.
Vulcão arde? Sim, vulcão, quando é dentro de você, arde de fazer doer calado. Arde qual traição de gente fiel que trai inesperadamente, inadvertidamente. Traição arde. Chicote arde. Sadismo não arde. Faz arder. E muito mais que traição ou chicote.
- Acorda, Jezebel! Gritava Ele em tom de brincadeira. Nesse mesmo tom batia o chicote.
- Olha, Jezebel. Ele está indo de encontro a sua pele. Ele a deseja, mulher.
Seus olhos estavam fixos, quase uma hipnose, próximo a uma persona louca e desequilibrada que apaixona-se mais pela peça que pelo ator, mais pela poesia que pelo poeta, mais pela luz que por sua fonte.
- Senhor, por favor, Senhor.
Ela começara a esquivar o corpo, defender a pele. Juntar poeta e poesia em um só contexto.
- Por favor, o quê Jezebel? E batia com o chicote em direção a carne. Não parava. Não diminuía a força, não facilitava. Parecia não ser um jogo de faz de conta. Era a hora da verdade? Qual verdade?
- Ah, Senhor... Eu falei que não sou masoquista, né? Sua voz tremia, seu corpo, que antes estava molhado da água que o banhou, agora estava molhado e quente. Do suor que vertia.
- E eu falei que era sádico. Seu sorriso era pior que suas palavras.
- Ah, submissa, por favor...
Ele a imitava o tom, batia mais forte.
- Vai, vamos fazer um acordo, pode ser?
Ele levanta o chicote qual um policial levanta sua arma para o céu afim de negociar com o bandido.
Ela o olha, mas teme responder. Ele a olha e espera uma resposta. Ela não fala. Ele sorri. Faz menção de descer o chicote e ela pula. Ele sorri de novo e outra ameaça.
- Senhor!
Para Ele o prazer não estava no bater. O maior prazer estava em ouvir o coração de uma submissa bater tão forte que até um surdo ouviria. Seu prazer era o vibrar do motor de uma mente que liquidificava emoções à frente das sensações. Ele queria, mesmo, o fogo gerado pelo cérebro e atingia o corpo por entender que ele era uma porta legalmente constituída e judicialmente empossada.
- Oi, Jezebel, fale filha. Sim. Embora não apreciasse jogos de infantilismo, Sua voz era patriarcal. Um sádico padre a serviço escravo da paróquia que o acolhera (em nome do Pai).
Ela deixa passar o tempo, seu peito estufa, esvazia e lota de novo. Esperança?
Ele, sem tirar os olhos dos olhos dela, deixa o chicote descer na cama. Dessa vez foi mais barulho que força e o ouvido é o órgão mais medroso que o homem pode ter. Ela saltou mais alto e falou.
- O Senhor não propôs um acordo?
Ele bate, dessa vez bem mais próximo. Ela sente o fogo no rabo do chicote, sua pele esquenta, seu coração dispara, seu corpo salta e sua chave de alerta de pânico dispara. O alarme soou dentro e fora: cada um deve cuidar de si. Ela gela, o corpo precisa iniciar o processo de auto preservação, suas pernas travam, sua mente fica confusa e, intermitentemente, manda-a sair dali, ela puxa seus punhos na tentativa de sair da corda, todo o seu corpo adormece.
- Propus, e...?
Ela responde ágil, não queria saber onde o chicote desceria em sua próxima viagem.
- Porque eu quero um acordo, Senhor. Eu quero. Juro que eu quero. Aceito qualquer coisa, Senhor. Olha... não faz assim... Ah, Senhor, eu sou boazinha, olha! Senhor, fala comigo, Senhor. Eu estou nervosa. Ai, meu Deus...
Ele sorria. Adorava ver o pânico instalado, a mente aberta, os olhos saltando e o homem perdendo a única coisa que o difere de outros animais: o raciocínio lógico a bem do poder de negociação.
- Qual acordo quer, Jezebel? Ele fala duro, seco, mas o ar de sorriso ainda impregna o ar qual um incenso indiano entra em todos os cantos e deixa sua marca. Massala!
- Então, Senhor. Quero um acordo. Eu quero. Quero sim, um acordo. Por favor, vamos fazer um acordo, né?
Ela não percebe, em sua loucura, que fora Ele quem propôs o acordo, logo tinha que ser Ele a apresentá-lo. Ele, Senhor de si, diverte-se com tudo e segue a valsa daquele casamento entre submissa e medo de uma dor desconhecida.
- Fale, Jezebel. Eu a ouço. Pode falar, a ouço sim, afinal você é boazinha, né?
Ela não percebe a ironia e que Ele a imita em tom, olhar e postura.
- Sim, Senhor, eu sou muito boazinha. Sou sim, eu não faço besteiras, eu sou gente boa, sou uma menina legal, Senhor.
- Então me diga qual é o acordo, Jezebel.
Ela se perde completamente. Ao buscar um acordo na mente, não havia nenhum. O que fazer? Morrer? Sumir? A exemplo de outras vezes, e fora dali, simplesmente dar as costas? Nada daquilo era possível. Tudo aquilo tinha que ser pensado.
Ficaram mais de dois minutos olhando-se. Ele com ar de sorriso, ela com ar de pânico.
- O Senhor que disse que tinha um acordo, Senhor. A sanidade volta a banhar seu cérebro.
- Ah sim! Fui eu! Pois não!
Ele tripudia.
- Então, quero bater, sabe? Sou sádico. Mas entendo que você não é masoquista (Ele senta ao lado da cama e alisa seus seios, ela salta com medo de um possível alicate com os dedos). Pensei em dar uma chicotada só e pararmos. Até porque quero tomar café, sabe, Jezebel?
Sua postura, seu olhar e até o brilho de sua pele mostravam um homem gozador, mas tranqüilo. Um sádico em busca da compreensão de uma vítima não masoquista.
Ela não sabia o que responder. Assustara-se com o aparente desequilíbrio daquele homem. Sim. Ele parecia ser capaz de fazer o que queria fazer. Seria preciso centro e jogo de cintura para que Ele, com ela presa, não surtasse e fizesse o pior.
- Olha, só, Senhor... (ela, na medida que a corda permite, o alisa. Em verdade estava tão imersa quanto Ele e a loucura era o padre que faria aquele casamento) O Senhor é bonito, né? (ela desconversa e mostra seu fascínio por tudo que acontece) Eu não sou masoquista, Senhor. Não agüento nada. Sou uma falácia quando o assunto é BDSM (Ele só a olha. Só deixa vazar o sorriso de canto de boca). Pronto! Eu sou uma mentira!
Ele não responde nada. Olha para seus seios, afasta sua camisola e olha para sua vulva. Ela tem o corpo arrepiado e temendo o pior busca, com as palavras. mudar o Seu foco.
- Senhor, me desculpe. Eu vim aqui porque me falaram que o Senhor era uma boa trepada, que era um bom papo e eu vim para lhe conhecer melhor. É isso! (pareceu que ela tinha tido uma luz. Achou ouro!) Eu quero mesmo é ser sua amiga.
Ele a olha, para de mexer em sua camisola, puxar seus pentelhos de leve, olhar o bico de seus seios. A olha. Nada diz. Ela fica vermelha, arrepia mais, esquenta mais. Se perde e sem saber o que falar, apenas meneia a cabeça e mescla pergunta com afirmação.
- Né?
Ele sorri de mostrar os dentes, levanta e solta, com força, o chicote bem no centro de sua coxa. Ela aperta bem os olhos, cerra os punhos, espera o pior. Em frações de segundos o chicote diminui sua força e pousa em suas coxas tão suave quanto um experimentado comandante pousaria um imenso avião em uma pista qualquer. O hábito fez o monge.
Ela sente o chicote acariciar seu ventre, não acredita que não doeu. Solta um grito. Alívio? Bem provavelmente era o grito que estava reservado para a dor que viria. O corpo não sentiu, mas o cérebro a registrou. Ardia muito, doía sem parar.
Ele se curva e com força, pressão e agilidade, enfia a mão entre suas pernas. Seus dedos (três?) foram firmes abrindo espaço até chegar ao centro de sua gruta. Com a mesma forma e rapidez que entraram, saíram.
- Olha Jezebel, você está encharcada.
Ele fala, olha os dedos e os cheira.
Ela fica totalmente constrangida. Não seria mais fácil bater logo de uma vez? Ela pensava.
Sim. Para algumas mulheres submissas é mais fácil apanhar, sem apreciar a dor, que ver e ouvir que seu prazer é, também, seu.
Na mesma hora o corpo de Jezebel responde a essa investida e seus pés pairam, um sobre o outro, qual pés de moça envergonhada.
Ele viu a isso também.
O chicote recuou um pouco e voltou a descer. A um palmo de sua coxa esquerda. A meio palmo de sua coxa direita, alguns dedos de sua coxa esquerda, dois dedos de sua coxa direita, um dedo da esquerda, um dedo da direita.
- Senhor! Ela grita.
Ele curva-se e sendo muito ríspido para seu rosto a uma respiração do dela.
- Por favor, submissa, nunca. Eu disse nunca Me interrompa quando eu estiver amando meu chicote.
Ela não entende a totalidade do que Ele fala, mas assente com a cabeça, Ele se afasta e começa tudo de novo.
Antes deposita um ovo de pavor em sua mente.
- Vou bater até chegar a sua coxa, Jezebel. Quando chegar, quero um grito de morte. Porque vou bater para matar. Quero que me acolha como sádico e receba a minha dor como conviva especial na festa de teu prazer. Goze comigo esse momento único e abrace meu chicote como seu melhor amante.
Não esperou resposta e desceu o chicote. Uma. Duas. Três e mais próximo. Quatro e quase escostado. Cinco e o vento do encontro do chicote com a cama gera um furacão de prazeres. Seis e ela desmaia dentro de si. Sete, ela quer a dor. A espera como ordenado, a quer como conviva especial. Oito, ela abandona seu corpo impulsionada pelo foguete do pânico que penetrou sua festa sem convite algum. Burlou a forte segurança. Nove! Raspou, ardeu, deu para sentir o que seria o próximo, mas... ela já não estava ali. Talvez um erro. Dez!
Ela salta, chora. Por não estar ali, fora trazida de volta nas carruagens da dor. Mil viagens. Ela conseguiu estar viva, mas contorcia todo o corpo. Viver é sentir e sentir é estar vivo, mas quem disse que viver era bom?
Seu corpo queimava mais que fogueira de inquisição, seu cérebro lhe cobrava o centro e a culpava por ter prazer naquilo, por ainda estar ali. Sua vulva vertia porra. Ela percebeu o gozo, mas não teve coragem de assumi-lo. Podia parar de gemer de dor e iniciar o gemido de cor. O arco-iris, como sempre, surgia após a forte chuva.
Por ela, teria escondido tudo, não revelaria nada. O momento era dela. Só dela.
Mas Ele era astuto, sabia ler o corpo e com voz suave comandou – Goza mais, Jezebel. Não pare de gozar.
Ela O olhou, assustou-se e atendeu. Deixou verter seu melhor gozo, se permitiu ir em sua melhor viagem. Embarcou, sem passagem naquele cruzeiro. Jurara nunca ir à aquelas ilhas, mas ao chegar, não queria mais sair.
Ele bateu mais uma. Ela mesclou dor e prazer.
Ele bateu mais uma. Ela quase não sentiu dor. Só o prazer.
Ele bateu mais uma. Ela queira pedir mais.
Do chicote veio a vela. Seus pingos eram quentes, desciam pontuais, cobriam pequeno espaço por vez.
Ela sentia e entendia aquilo como um carinho. Se contorcia buscando mais prazer. Precisava de um pouco mais daquela droga que a fazia voar. Virava, voltava, mas não arriscava abrir os olhos. A viagem era longa, profunda demais para prestar atenção a caminhos.
Da vela veio a mescla com o chicote.
Seu corpo doía, sua mente gemia, mas seu bem estar era algo inconfundível. Ela estava bem.
Não sentia só prazer ou só dor. Sentia o que vinha e o grande barato foi poder sentir a ambos.
Ele não se aproximou dela, ninguém se aproximou. Ela foi contorcer-se e viu que não estava mais amarrada. Como? A dor era bem vinda demais para ela prestar atenção a caminhos, lembra?
- Se toque.
Esse foi o comando seco, mas claro e difícil de não atender.
Sua mão esquerda foi para a vulva. Sim, ela era de escorpião. Era canhota. Sua mão direita, para os seios. Para Jezebel seus seios eram fundamentais para seu prazer. Quase uma roda d’água que muitos gostam de ver e não percebem que sem ela não adianta moinho ou água. É o meio do termo.
Não demorou para ela sentir o chicote e percebê-lo como realmente um conviva especial naquela festa. Agradecia pela senhora vela estar presente, pois a admirava de longa data. Ao senhor prendedor logo ofereceu cadeira, garçons e comodidade. Às cordas, jogadas ao seu lado, convidou para o meio do salão. Fora dançar com elas.
Velas, chicotes, prendedores e cordas. Tudo sobre seu corpo. E ela se tocava. E ela gozava sem parar.
- Goza forte, Jezebel.
Ela começa a gemer sem sentido, se contorcer de balançar a cabeça e se (de)bater.
- Goza para mim, submissa
Ela não se entende. Como a voz daquele homem podia ir tão fundo? Tão dentro? Tão certa?
Seu orgasmo foi único. Seu corpo saíra e voltara de sua mente mil vezes.
Ela visitou a Mansão dos Mortos sem precisar de meditação alguma. Apertou tanto seus seios que pareciam estar próximos a uma explosão. Rebolou com força incessante, levantou os quadris, abaixou. Apertou os seios tanto, tanto, tanto. Nas pontas, nas bases. Um, os dois com uma única mão.
Se bateu como quem queria mais. Se permitiu a permissão. Foi!
Gozou tão forte que o corpo morreu após o ato.
Ela estava alto e despencou na cama. Não aterrissou como aquele comandante, baixou qual um meteoro jogado de outro planeta.
Desmaiou ali. Se largou.
Dom Demétrius assistia a tudo e via seu prazer refletido na poesia dela. Sorria e agradecia a Si mesmo pela oportunidade de ser um espectador especial – e único – naquela cena sem igual.

Ao perceber que ela voltava à Terra, Ele a convidou para o café. Ela, voltando, acordando e sentindo a intimidade do ato, pergunta que horas são.
- Hora do café, Jezebel, e você já está atrasada.
Ela, intimamente, toma um susto, afinal acabara de amar Aquele homem como nunca amou nem mesmo a si própria. Pensou que, algumas vezes, um pouco de carinho é bem vindo. Logo se deu conta que Ele era carinhoso e parceiro.

Rapidamente ela se levanta. Atordoada e perdida não sabia o que fazer.
Ele a guia dizendo para seguir para a área de banho. Logo veio à mente dela o banho que havia tomado e receou acontecer de novo.
Ao chegar no local de banho, Ele solicita que ela pare, pega uma mangueira e começa a banhar-lhe o corpo. A água estava mornamente boa. Um refrigério para aquela alma já penada e sem rumo.
Suas mãos percorrem o corpo daquela mulher como quem alisa uma jóia rara. Uma verdadeira adoração. Algo deveras incomum para Jezebel, uma vez que nunca pensou em um Dominador dando banho em sua peça.
Antes que ela falasse algo, Ele explica. Não. Não precisava, mas Ele explicou.
- É o Dono do cavalo quem deve dar os primeiros banhos nele, assim como a mãe banha seu filho.
Aquela frase fez o coração de Jezebel tremer. Será que aquilo era um ritual de posse? Ela era Dele? Será?
O sabonete usado era macio, cheiroso e elegante. O toque tão preciso que seu corpo tremia diante da cada passear, diante de cada investida.
Ela não sabia se podia, mas silenciosamente gozou inúmeras vezes. A maioria delas quando Ele pediu que colocasse as mãos na parede, abrisse as pernas e ficasse quieta. A posição de revista mexia com Jezebel de uma forma incomum. E isso em seus sonhos, agora imagine pessoalmente. Na realidade.
Para ela, tudo era um sonho lindo.
O banho durou quase uma hora. Para muitos, se isso fosse um filme, seria um banho comum, sem nenhum apelo sexual, sem toques sexuais, sem conotação sexual, sem grandes respirações, sussurros e gemidos. As luzes diferenciariam-se, o posicionamento da câmera seria sempre em partes, poucas vezes no todo. Sépia, meia luz, tom sobre tom, nada forte de ver. Tudo na penumbra do sentir.
A cena seria de um homem banhando uma mulher. Algo sem graça (para alguns).
A graça estaria nos olhos dos cinéfilos que, diante de seu preparo, saberiam ver a comunicação corporal e a viagem solo de cada um.
- Por favor, Jezebel, seque-se, vista a roupa que já esta separada e venha para a mesa.
A roupa estava em um belíssimo cabideiro do século XV. Madeira. Verniz feito com uma técnica que, invariavelmente, comia as mãos do marceneiro depois de algumas dezenas de fabricações. Só era feito para reis, pois só por eles valia o esforço de perder as mãos. A peça única nele era um vestido longo. Só o vestido, eu escrevi.
Amêndoa alaranjado, com pedras variadas. O decote era primoroso e a costura algo ímpar. Especial.
- O Senhor não quer que eu o lave? Jezebel queria retribuir o carinho.
- Quero que entenda que isso não é uma relação onde a balança tem o mesmo valor quando sem nada. Por favor, vista-se.
Ela abaixou a cabeça e sentiu o aço daquelas palavras lhe tirar uma gota de lágrima. Pensou que podia ficar calada, mas acolheu que somente queria retribuir o que recebera.


A mesa era grande, bem posta, tudo muitíssimo bem arrumado.
Jezebel não conseguia aquietar-se. Até aquele momento aceitou sem peso os acontecidos, mas ao ver a mesa ficara claro que mais alguém auxiliava naquele jogo. Ele não saira de perto dela nem um minuto, ao ir para o banho a mesa estava completamente vazia. Ao voltar, não somente estava repleta de alimentos, como tudo fazia a fumaça que ia ao ar.
Falo? Não falo? Ela entrou em uma roda viva.
- Senhor, me desculpe, mas...
- Por favor, Jezebel, coma. Ele não deixou que ela concluísse. Ela calou.
Calou por dois segundos, mas Jezebel era uma mulher que fora servida a vida toda e não suportaria ter uma dúvida latente.
- Tem mais alguém aqui?!
Para não ser interrompida foi direta.
- E se tiver, qual o problema?
Ele devolve com igual força. Ela não ganhou o saque na cortada. Ele rebateu e a bola quicou bem na ponta da mesa.
- Só queria saber, Senhor.
A bola caiu, ponto para Ele.
Ele não respondeu, seguiram naquela divino café até que Ele se levanta do lado A da cabeceira da mesa, caminha até a cabeceira oposta, onde ela estava, e lhe puxa o vestido. Ela leva um susto, suspira e Ele expõe seus seios.
Volta algumas cadeiras naquela mesa de doze lugares e senta no meio do caminho. Sorrindo qual moleque após travessura. Ela envergonha-se.
- Para uma mulher da sua idade, Jezebel, seus seios são belos, mas fica claro que tem plástica aí. O que é uma pena, pois mostra o quão a mulher não trabalhou seu envelhecimento e o quão usa o dinheiro para comprar juventude.
- Me desculpe, Senhor, mas acho que investir em plástica não é correr atrás de juventude, é envelhecer tendo o que o seu dinheiro pode comprar.
- Pois é, Jezebel. Eu penso que se não existissem os Direitos Humanos o homem, hoje, estaria usando o outro como escravo e matando aqueles de que não gostasse. E sabe qual seria a desculpa? – Ela não responde, Ele segue – Que se pode fazer tudo que seu dinheiro pode comprar.
Ela teria um milhão de respostas, mas naquele único dia aprendera que existe a hora de falar e de calar. Aquela era de calar. Silenciou sem peso e o peso fora para o ar.
- Bem, deguste seu café. Está gostoso, Jezebel.

Definitivamente Ele sabia como provocar.


(continua na próxima semana?)