Área particular. Mantenha-se afastado!

Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 008]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 008]

A mesa era plena. Algo que, no nordeste brasileiro, chamariam de “pequeno almoço”.
Jezebel estava incomodada, Dom Demétrius não parava de olhá-la. Seus seios eram belos para sua idade, firmes, bem desenhados, de auréolas definidas, mamilos pontiagudos, convidativos. Tão róseos quanto um final de tarde com pôr do sol de luz redondamente avermelhada em amarelo tingindo azul. Aberto e vivo.
Dom levanta-se com uma pequena caixa na mão. Ela já estava ali quando chegaram, mas como muitas coisas naquela mesa, não fora notada.
Ao chegar a frente de Jezebel, a abre e deixa escorrer várias agulhas. De todos os tipos e tamanho. O apetite de Jezebel escorre diante da visão. Ela tinha verdadeiro pavor de agulhas. O medo era tamanho que chegava a tomar calmantes para fazer um simples exame de sangue. Sim. Fazia os exames dormindo. Isso saia mais barato que suar frio diante da possibilidade de se ver invadida por aquele objeto práteo-perfuro-agoniante.
Seu corpo tremeu, o coração disparou de uma forma tão violenta que a vida teve ímpetos de sair de si.
- Rápido! Vamos todos! Corram!
Alguém gritava dentro de si para todos os outros orgãos.
A cor da pele (sempre muito bem colorada devido aos bons tratos) foi a primeira a pular ao mar. Escorreu.
Sua cabeça perdeu os cabelos, que deixou agulhas no lugar. Eram pontadas intensas, vivas, sem a menor noção de ritmo. Cabelos e pele são amigos. Tinham que ir juntos. Escorreram.
Os ombros ainda tentaram fazer a proteção das couraças, curvaram de encontro, um ao outro, caíram com o peso da chegada, e expansão, do exército do medo.
Marcha de mais de mil homens. Pressão, barulho cadenciado, olhares fixos, mas perdidos no salão de dança onde valsam os menos enebriados.
- Morte! Vamos para a morte! Era o coro daquele batalhão invisivelmente visível.
- Soldado do medo onde vaaaai você?!
Gritava, cantando, o vibrador sargento.
- Eu vou mataaaaar ou vou morrer!
Respondiam em coro forte, único e sob a percussão do coração.
A terra tremia abaixo de Jezebel.
A terra temia,  à baixo Jezebel!
Dom Demétrius não precisou fazer absolutamente nada. Só deixou as agulhas caírem na mesa. À frente dela. Só. Mais nada. Foi ela quem fez tudo. Sozinha. Dentro.
Ele sabia que acionara um botão importante.
Passou por trás dela, sentou do outro lado da mesa, ao lado dela, com a distância de uma cadeira. Uma entre os dois. A olhava com sorriso de canto de boca. Ela olhava para Ele, para o chão, para si. Não. Ela não conseguia olhar para as agulhas. Um monte. Várias! Dava para dizer que tinha umas trinta, mas ela via um milhão. A mesa era só agulhas, em sua mente. Seus olhos, que não escorreram com a debandada de "alguns outros", mostravam muito mais do que havia; afinal, sua função era olhar e não processar.
O cérebro, o comandante de um navio que afundava aos poucos, tinha muito para resolver diante dos fatos e os olhos eram masculinos. A prioridade eram as mulheres (a sanidade e a emoção, por exemplo) e as crianças.
A música no ambiente era erudita e incidental, mas não se ouvia nada. Melhor, ela era ouvida pelo corpo daquela mulher que desesperava mais e mais a cada novo segundo.
- Fala algo, Senhor, por favor.
Um suspiro? Um sinal de vida e luz? Ou uma cápsula de sobrevivência, inacreditavelmente, ainda disponível?
Dom Demétrius era experiente. Não respondeu. Não com a fala. Olhou para as agulhas, olhou para aquela forte e, por isso, náufraga mulher, sorriu suavemente. Nada falou.
Ela gemeu um canto gregoriano que chegou a ouvir a si mesma. Suas pernas, que assim já estavam, fecharam ainda mais. Seu coração descompassou. Seu suor. Desceu! Ela molhou-se toda. Sim. O suor queria escorrer para, também, abandonar o navio.
Dom Demétrius joga uma toalha e sinaliza que ela use. Ele evitava a linguagem da fala e abusava da corporal. Dos sinais. O que ela sentia era primitivo demais para chegarem à elegância da comunicação verbal. O que ela sentia era o mesmo que o homem de amanhã sentirá e que o de ontem sentiu: Pavor. Um sentimento que foi descoberto muito antes de fogo e roda, mas que muda o homem assim que se instala, de forma consciente, na prima descoberta.

Homem. Mesmo com a roda e fogo, tu só o será - homem - quando descobrir seu próprio medo e se apavorar ao perceber que ele roda em fogo.

Ali, naquele campo de batalha, ela era vítima e algoz.
O elefante até pode ganhar do rato, o gladiador dos leões, o homem de bem do sem lei, mas a história mostra que nem sempre é assim. Mas... quem era Jezebel naquele contexto? O rato astuto ou o elefante passivo (e grandandão)? O gladiador com medo e pensando mais na sobrevivência que na batalha? Ou o leão que, por puro instinto, só pensa em derrotar o que se move à sua frente? O homem de bem que tem regras, uma imagem e postura engessada ou o sem lei que assume como única premissa estar vivo? Santo Agostinho dizia: A necessidade desconhece leis.
Quais eram as necessidades de Jezebel? Quais leis precisaria desconhecer para ser e estar são e salva de si mesma? Era ela! Ela era tripulação, navio e mar! Não era a tempestade, mas era toda a outra parte do quadro. Até moldura.
Ela saltou muito mais que alguns metros quando Dom Demétrius esticou o braço e chacoalhou as seringas.
Seus olhos arregalaram. Outro gemido. Esse seguido de um canto de gueixa. Só um suave grito acompanhado pelo vibrar de cordas quase sem ritmo. Algo não compreendido pelos ocidentais e tão apreciado pelos povos do oriente.
A saliva não passava por sua garganta, afinal aquilo era entrar e todos queriam sair, lembra? O navio estava sendo evacuado.
Ele mexe nas agulhas. Pacientemente as espalha, parecia procurar alguma em especial. Ela balança a cabeça em negativa, junta o queixo ao peito. Um ato de possível resignação, mas aquilo não durava. Se no momentoA o cérebro entendia que era um jogo, no momentoB ele se perdia e estudava todas as possibilidades (negativas) e só via o pior: ser furada pelo práteo objeto que seu vil metal a possibilitou negar.
Com uma agulha, de insulina, bem pequena, na mão Ele olha para os olhos daquela mulher rato, ou elefante, e fala, descontraído e totalmente alheio ao desespero dela. Usa o verbo depois de longo período usando outras prosas em versos.
- Essa é a menor que tem, Jezebel.
Ela confirma com a cabeça. Confirma sem, de fato, saber ao que confirma. Sem notar que não tratava-se de  uma pergunta. É mulher estressada. Cega, Crua. Cem gloss.
- Seus seios são sabotadoramente sensuais. Belos...
Ele deixa o final no ar e isso foi o suficiente para que ela entrasse em pânico de novo. Ondas imensas empurravam aquele navio, a noite contribuía para um cenário de completo caos, os barulhos, das pessoas, era apavorador. Todos os seus sentidos reclamavam atenção do cérebro e ela não conseguia administrar com toda aquela pressão.
Ele aproxima a agulha de Jezebel.
- Senhor, por favor, eu tenho trauma com agulhas. Não posso com elas, por favor.
Ele a olha, sorri sadicamente.
- E?
Pergunta Ele qual criança testando a paciência da mãe e estudando possíveis limites.
- Aí, Senhor, por favor. Eu não dou conta disso, Senhor, por favor.
A mão Dele para a mais de dois palmos de lonjura, mas o corpo dela continua empurrando a cadeira para trás. Fez isso por quilômetros. Sem parar. Sem olhar para trás seu corpo dirigiu aquela cadeira, nas estradas do medo, feito um piloto em fuga. Seu suor era tamanho que o vestido estava totalmente molhado.
Proposital ou não, o tecido era daqueles que mudam de cor ao ter contato com a água. Será que ele, o vestido, também queria abandonar o navio e começara a evacuar cor por cor? Correr quilômetros, sem parar, na estrada do medo?
Jezebel era de uma confusão mental tamanha que não viu que Dom Demétrius havia largado a agulha e fora, com o dedo, acariciar seu mamilo direito. Ela saltou. Levou a mesa consigo. Derrubou a xícara de café, espalhou o pão, derramou o leite. Adianta chorar? Não. Mas Ele a olhou fixamente e ordenou com a firmeza de um cirurgião:
- Chora, Jezebel.
Com a precisão de um torneiro mecânico (que analogia, não?) ela chorou. Compulsivamente aquela mulher era de um pranto incomum.
O choro não vinha de dentro, afinal todos já haviam abandonado o navio. O choro vinha como se fosse um ciclo onde ela reciclava o suor do corpo, o absorvia, e devolvia como lágrimas.
Ela estava gelada, confusa.
- Chora mais, mulher.
Ele mandou, ela desesperou. Não sabia ao certo porque chorava, mas Ele sabia que era por conta da agulha que furou-lhe a mente. O jogo psicológico.
Seu dedo, para todos, seria somente um dedo, mas para ela era um feroz rato-leão-homem sem lei. Um inocente (será?!) elefante-gladiador-homem de bem.
Entrou fundo, dilacerante. Tão forte e tão devagar que foi impossível não sentir o rasgar da pele, a drenagem das forças, o fogo do ferro. A descoberta do tal fogo e roda. O pavor de existir.
A agulha (dedo?) entrou sem pedir licença, não mandou batedores para abrir caminhos e fechar os principais cruzamentos. Sim. Ela - a Ministra das relações das dores interiores, a agulha - era autoridade, tinha status de Chefe de Estado, mas veio sem avisar. Quebrou o protocolo e entrou tão sem música e sol adentro que a dor fez um espetáculo mambembe. Tão improvisado que somente as crianças achariam graça, na praça. Ela era adulta. Chorou.
O fio do passo, o frio do aço, o filho do ato, o físico do parto era tamanho que todas as luzes do palco se apagaram. Simples assim: acabou a peça.
Esperar? Aplaudir? Cada um sabe de si. Mas só se houver consciência para isso.

Jezebel ainda chorava quando Dom Demétrius levantou, a levantou e a tirou para dançar.
Em seu ouvido sussurrou: - Você morreu... Agora já pode dançar livre de si mesma.
Ela, intimamente, sorriu, deixou-se levar e achou-se louca em toda aquela sanidade.
O bailar era sério, Dom Demétrius era um condutor, em todos os sentidos, prestimoso, cordial, elegante e justo. Não deixava folga para erros e a dama sempre sentia-se segura diante desse fato.
A dança começou ao lado da mesa e acabou em um enorme salão. Um daqueles apresentados quando ela entrou.
Jezebel estava molhada, suada, ainda tremia. Estava longe das agulhas, mas muito próxima à sensação de medo. Aliás, o medo foi um dos poucos que não abandonou o navio.

A música tocava o esguio corpo daquela mulher, o bailar a acalmava e fazia, aos poucos, resgate de todos os sobreviventes daquele tragedramático naufrágio.
- Tenho sede.
Ela não entendeu aquele sussurro. Optou a imitar os orientais fora de suas terras que, ao ouvir algo que não compreendem, ficam calados e agem como se nada fosse dito. Calou.
- Ainda tenho sede...
Agora ela ouviu, seu corpo tremeu, afinal estava em uma operação de resgate e qualquer mudança de clima poderia ser fatal para os poucos sobreviventes.
Ele a rodopia forte, tão forte que o cérebro pensou em desconectar do corpo. Impossível.
Grita com o aumentar da música: - Sede!!!
Ela, claro, assustou com aquela reviravolta de estado. Um vento sul, sem norte, tão forte que acaba com toda sorte.
Às voltas e rodopios, às músicas e trocadilhos Ele só fazia repetir que ainda tinha sede. Sinceramente? Parecia um vampiro que acabara de beber litros e litros de sangue e, revigorado, queria mais de sua vítima.
Aos rodopios Ele passa próximo a uma das, muitas, velas que ornavam o local e iluminando seu próprio rosto se faz Shakespeare. Olhar de drama. Voz de drama. Ar de verdade. Era um drama. Ele tinha sede.
Com uma das mãos, sem parar de dançar, segura a vela, une seu corpo ao daquela mulher e, com a outra mão puxa seu vestido. O vestido foi submisso ao aceitar o rasgo que lhe foi ofertado.
O barulho do romper das fibras foi instigante(mente) sedutor. Um só puxão. Suave. Um só rasgo para que o dado vestido se deixasse ir naquelas mãos. Mais um e já não havia mais bela peça inteira. Jezebel estava nua. Rodopiando, um tanto perdida, já que não havia nenhuma das mãos do cavaleiro condutor em si. Dessa vez não havia mesa à sua frente, cordas que lhe prendessem as mãos. Podia correr. Quem disse? Os olhos Dele não saiam de dentro dos olhos dela. Era por ali que a dança fazia seus pares. Era dentro que a música da Dominação tocava seus envolvidos.
Não haviam mortos nem feridos. Eram os dois. Olho no olho. Ambos, cada um à sua maneira, nu. Cada um do seu lado. Só. Juntos.
De um salto, Ele a vira. Param de dançar. Agora seu corpo seria o salão para a dança da vela que, com seu calor, deixaria seus pingos. Agora era a vez de outro naufragar naquele Triângulo das Bermudas.
Jezebel fora colocada de pé, abaixada o suficiente para expor suas costas.
A vela fora colocada deitada, suspensa o suficiente para expelir suas crostas.
Um pingo. Um “aí”.
Outro pingo. Um balançar.
Pingo. Reação.
Ação, contra-ação.
Ela tentou andar. Seco. Ele a mandava ficar, voltar, virar, rodopiar.
Era irônico em algumas observações. – Para, Jezebel, volta, Jezebel. Parece pipoca! Sente a vela, Jezebel. Sinta-se, Jezebel.
Eram tantas as Jezebeus que uma só nunca daria.
Seu corpo, antes nu, agora tinha uma nova repaginação. Os pingos da vela. Ela, a vela, na hora do pânico, transferira, para Jezebel, todos os seus tripulantes.
Diferentemente do que ocorrera com ela, que ninguém socorreu os seus, ela socorrera a vela e abrigou todos os seus pintos.
Dom Demétrius a levou para uma parede vazia, pediu que assumisse a posição de revista (mãos no alto da parede, pernas abertas e afastadas...) e lhe colocou uma venda. Ela esperava por tudo. Acreditava que já havia passado por tudo.
Ali, vendada, ela ficou por um sem fim de tempo. Descalça, sem roupa, sentindo o peso do suor, da cera, do medo ela ficou.
Quanto tempo? O que é tempo em um lugar como aquele? O tempo desconhece lugares assim. Seu medo pode fazer cinco minutos virarem uma eternidade, seu prazer pode fazer uma eternidade virar apenas alguns poucos minutos.
Ela não ouvira passos, não percebera movimento. Um novo naufrágio se inicia? Ela, usou o microfone (interno) para pedir calma a todos os passageiros e acionar a tripulação.
Uma importante – e influente – “socialite”, senhora Impaciência Psica Surtado, esposa do Sr. Excelentíssimo Pânico Surtado. Uma das maiores fortunas daquela sociedade. Começou a andar de um lado para o outro e, como tinha uma corja de séquitos, muitos iam com ela. Aquele ato quase inicia um ato de pânico do Sr. Pânico, mas parece que Dom Demétrius não queria isso. Antes que ela o chamasse pela décima vez. Sim. Ela chamou “Senhor” algumas vezes. Não se mexeu, não saiu do lugar, mas chamou. Nove vezes. Ele aparece através da figura de um forte barulho e vento.
Um chicote de muitas caudas fazia a corte e o favor de tirar-lhe a cera das costas.
Jezebel recebeu a visita do Susto, mas senhor desespero não embarcou. Em verdade, ela ficara feliz. O jogo de abandono é um dos piores para quem tem a necessidade de controle.
Com Jezebel não era diferente.

Uma passada precisa e a cera saía. Não havia dor para Jezebel, pois o chicote não queria sua carne. Estava a enamorar a cera, não tinha olhos para outras. Não queria pele, e tão pouco se importava com um possível concorrente. O suor. Esse vinha abundante, ocupava todos os espaços e forçava passagem até por onde não havia convite.
Ela gemia diante do vento causado pelo chicote e da pressão que, embora sem dor (repito), havia sobre si.
Nenhuma palavra fora trocada naquela dança de chicote, cair de cera e suar de corpo.
Nenhuma palavra fora trocada naquela dança de chicote, cair de cera e suar de corpo.
Nenhuma palavra fora usada na queda da transa do chicote, sair de cena e suar de porto.
Jezebel sentia um tremor agradável, um frescor bem vindo e via a lua brilhar satelizando a órbita de seu prazer.
O chicote para, o barulho some, o vento não volta.
Suavemente a mão daquele homem passa por entre suas pernas, toca seu sino e avisa o horário da missa das seis.
O toque, em seu sino, era tão suave que a vontade era pressionar contra. Ele não permitia e afastava diante das investidas dela.
Ela delirava com aquilo. Era bom, era frescante, prazente e ensurdecedor. Ela não se ouvia quando gemeu alto, gritou forte e bateu os pés contra o chão para puxar aquele que seria um de seus melhores orgasmos do dia.
Ela escorreu pela parede, abandonou o próprio barco, mas dessa vez o motivo foi nobre. Pura falta de forças e completo estado de exctasy.

Dom Demétrius afastou-se e a deixou em seu momento. Sentou e apreciou aquela Ópera da China, aquele teatro de sombras. Espetáculo único. Butoh!

(continua na próxima semana?)


Dom Demétrius e Jezebel chegou ao meio. Que tal escolher a próxima série?

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