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Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa [Parte 006]

Dom Demétrius e Jezebel – a insubmissa – [Parte 006]


Jezebel sentiu um frio na espinha diante daquelas boas-vindas, mas pouco podia fazer. Dom Demétrius, sabiamente, não a amarrara, assim a corda ficava em sua mente. Não movia-se por conta de estar presa, não mexia cegamente. O Seu olhar a amarrava. Sua voz era oscilante, vibrava de uma forma que parecia ter microfone e alto falantes ali. O som vinha de todos os lugares. Era estranho. Ao mesmo tempo sua voz era suave, entrava macia por seus ouvidos e, qual música, a embalava. O suor era por conta da posição incômoda. Jezebel era metidona a mandar todos cuidarem da saúde. Vivia dando cartões de academias para uns, yoga para outros, mas ela mesmo só fazia a doação. Conhecia o local, fazia um discurso pró saúde, ficava amiga de todos que passavam pela sua frente, dava um jeito de saberem de sua posição social na cidade e, com isso, a bajularem e pagava o período mínimo, mas claro, sua agenda não a deixava ir a lugar algum. Era do trabalho para casa (e de casa para as festas). Seus joelhos, também, aproveitavam o momento para mostrar que a idade chegara. Doíam com ferocidade, gritavam alto, claro e forte. Sua coluna fazia cada vértebra mostrar a que veio. Jezebel, de joelhos, mãos para trás, cabeça baixa, seios um tanto a mostra, suando. Era a fome por equilíbrio que fazia, por conformidade, seu corpo vibrar.



- Melhor isso que estar morta, não Jezebel? - interrompeu seus pensamentos, Dom Demétrius.
- Perdoa, Senhor, não ouvi a pergunta.
Sua voz tremia. Até para falar, a posição mais almejada por dez entre dez submissas, era incômoda.
- Ouviu sim. Pode não ter entendido.
- Sim, Senhor. O Senhor sempre tem razão. Eu não entendi. Àquela altura não dava, para cheia de dores e incômodos, ser lady. Jazebel deixou a paciência ir com o sal de seu suor. Paciência trocada pela dor da posição.
Dom Demétrius ou era um sábio ou era um tolo. Simplesmente ignorou o ar ríspido e provocativo da voz de Jezebel e continuou.
- Melhor sentir todo esse incômodo causado por essa posição que estar morta, não Jezebel?

Ele sorri com a voz. Não o sorriso mostrado, o sorriso sentido qual perfume de rosa no desabrochar. Ela não responde. O olha e espanta-se ao ver que Ele está confortavelmente sentado em uma daquelas cadeiras de armar que chamam de “cadeira de diretor”. Só que mais bonita, melhor trabalhada, de cores elegantes. Parecia nunca ter sido usada de tão limpa e, aparentemente, nova. Mas como ela foi parar ali? Ele não abriu nada, a única saída era bloqueada por ela. Atrás deles, duas paredes na lateral e um grande armário na frente, mas esse armário só tinha portas pequenas, pequenas gavetas e a cadeira, mesmo fechada não caberia neles. Ainda que coubesse, ela não O viu abrir nada. Não! Dessa vez estava atenta! Jezebel confundiu-se. Dom Demétrius sentava-se confortavelmente e parecia ler seus pensamentos. Parecia sorrir com os olhos. A olhava com pupilas brilhantes, lábios umedecidos de uma forma que parecia usar batom, rosto tranqüilo, mas centrado, postura confortável e elegante. Pernas tão abertas quanto um homem de fato deve sentar. Ainda usava o costume, ainda tinha a roupa impecavelmente alinhada. Era, sem dúvida, um homem que nasceu para o poder.




















- Jezebel, conversa comigo.
- Senhor, não agüento mais esta posição, Senhor.
- Não? Por que? O que sente?
Ela solta o ar de seu sorriso, sorri no ar. – Se eu começar a contar, não paro mais, Senhor.
- Conte. Quero ouvir. Quero que não pare.
- Força de expressão, Senhor.
- Pois é, Jezebel, o mundo tem dessas coisas. Falam porque querem falar, mas quando pedem para realmente falarem o que queriam falar, eles calam. Usam de figuras de linguagem para justificarem suas lags de raciocínio. Ela o olha dentro dos olhos. Ele a encara, não se intimida e continua.
- Jezebel, será que animais, supostamente mais inferiores que a gente. Quero dizer, que você, usam figuras de linguagem? Será que um leão diz: - Porra, leoa, faz tudo que minha função aqui é só cuidar do território (ou seja, fazer xixi). Será que ele diz isso? Ela sorri da tirada e Ele continua.
- Aí a leoa vira o bicho. É mesmo, será o que o bicho “vira o bicho”? Mas vamos ao foco. A leoa, vira o bicho e o Senhor leão mijador, afrouxa e diz:
- Pô, mulher... meu lance é outro. O que eu quis dizer era outra coisa. Marcar território era só figura de linguagem.
Jezebel não achou graça. A piada terminava nela e a posição atingia seu ápice em dor.
Seu suor era frio, a sensação de desmaio aumentava, sua mente estava confusa, seus pés adormeciam. O pior: havia uma unha encravada que impossibilitava melhor apoio. Ninguém sabia. Ela não iria contar.
- Senhor, por favor. Eu preciso sair dessa posição, Senhor.
- Por que precisa sair da posição que todas querem ficar, Jezebel?
- Porque acho que vou desmaiar.
Seus olhos brilham, Ele aproxima-se. Olha o conjunto atentamente e, seco, fala:
- Desmaie, Jezebel. Me dê esse prazer.
Ela vê tudo escurecer, os músculos soltarem, a cabeça rodar, mas respira fundo e não desmaia.
- Sabe qual é a diferença de uma mulher comum para uma submissa, Jezebel?
- Qual, Senhor?
Ela não O vê, mas faz as vezes de estar bem, estar firme.
- Porque uma mulher na sua posição ou já teria levantado ou já teria desmaiado. Uma submissa, a mesma que diz querer servir, não entrega-se àquele que oferta sua submissão, de fato.
Afinal o que é ser submissa senão ser você mesma em essência?
Jazebel não estava para debates, qual boi em abate, que olha para o seu executor com cara de pedido de piedade, ela tomba. Seus ossos fizeram forte barulho no chão. Seu rosto bateu forte, firme, duro. Não houve câmera lenta qual filme recordista de bilheteria, mas teve drama.
Ela não conseguiu apoiar-se e a queda foi dura.


















Ainda na masmorra, em uma larga, confortável e bonita cama. Outra roupa (mais fresca), visivelmente de banho tomado, maquiada, cabelos arrumados. Conto de fadas! Ela acordou. Olhou para o alto e havia um espelho. Outros. Dos lados. Em volta.
Olhou para Dom Demétrius, Ele sorriu.
- Ah, me desculpe Senhor. Eu desmaiei, né? Há quanto tempo estou aqui, Senhor?
- Sim, teve uma linda e cinematográfica queda.
Ela se olha, sente o seu perfume, o banho e a mudança de roupas. Insiste:
- Há quanto tempo estou aqui, Senhor? Sua voz era fraca.
- Aqui nunca houve tempo, Jezebel. Aqui o tempo vem em nossas palavras. Se não falamos, ele parou. Há quanto tempo está em você, submissa?
O ar estava pesado. Aquele homem gentil assumia uma voz sádica, um ar de desinteresse e postura de pouco caso.
Sua roupa também mudou. O terno impecável (e belo) deu lugar a uma gola pólo, calça jeans desenho clássico, alinhada e a um sapato mocassim. Ainda elegante, porém mais despojado.
Ela o olhou. Olhou-se através dos espelhos e inundou-se com uma onda de choro. Estava perdida e não conseguia achar-se nos olhos Dele.
O choro veio forte, mais forte que antes. Ele levanta. Ela chora. Ele a olha pelo espelho, ela soluça. Ele se move. Ela acompanha com os olhos. Ele sorri. Ela se mexe e vê que está amarrada.
O choro some tão rápido quanto veio. A descoberta das cordas faz aquela mulher represar mais que seu choro. Ela segura seu sentir.
Sua mente vaga, divaga, ela se perde.
Será que estou na presença de um psicopata? Vou morrer?
- O que fará comigo?
Ela pergunta movimentando os braços presos, as idéias soltas. Queria fazer prosa-poética, mas daquele jeito nem mesmo quadra infantil, com suas rimas pobres, sairia fácil.
Ele sorri. Não um sorriso sádico. Sorriso de homem que quer o que não pode ter, mas que terá porque quer o que não pode ter e terá.
- A usarei com um misto de boa vontade com vontade nenhuma.
Jezebel soltou seu corpo na cama. Soltou mesmo!


Viu o sádico na capa do homem. Sua mente até questionou, amedrontou, mas seu sábio corpo não teve dúvida alguma. Relaxou como quem diz: pode vir! Vira bicho e me faz virar fêmea e desperta meu cio. Ela não conseguiu sintonizar seus pensamentos. A vulva molhou. Não. Não foi isso que chamou sua atenção. O calor estava concentrado ali e isso a tirou do centro. Algo novo. Inusitado. Soturno.
Ele aproximou sua mão esquerda (seria canhoto, aquele Senhor?), das pernas de Jezebel. Devagar. Aproximava e olhava-a. Qual uma automática porta de uma loja em desesperada liquidação, abriu-se bem antes Dele chegar. Sim, Ele sentiu o calor.
Sua reação? Poder. O sorriso, de canto de boca, que lustra o poder do homem que pode. Ponto.
Ele não a tocou. Fez melhor. Deixou que o calor de sua mão conversasse com a energia de entre suas pernas. Ela fechou os olhos. Estava mais ali que em qualquer outro lugar e ficar de olhos abertos seria sair dali para algum outro lugar. Não queria. Pela primeira vez naquele dia, sentia o frescor de sentir-se dominada. Não pela força, não pelo medo, não por si. Por seu prazer.
Ele havia entrado nela. Abaixo os muros que cerceiam a mina! Afora as águas que impedem qualquer explorar! Não. Sua mão ainda escrevia poesia no sabor do aquecimento daquela mulher. Não precisava, naquele momento mais que isso. Melhor. Naquele momento era isso o tudo que o nada devia ofertar. E Ele era Mestre, sabia exatamente como fazer. Seu rosto era fechado, mas não pesado. Seus olhos cerrados mostravam que Ele fora atrás dela e que não queria sair dali para lugar algum. Ambos fecharam os olhos para ficarem mais ali. Mais dentro. Ele na mina, ela na parede qual diamante esperando o corte. A seiva que somente o seringueiro sabe fazer.


















A luz baixou, uma música suave, lounge, começou a tocar. Dessa vez Jazebel não se importou como a magia da produção gerava efeitos. Estava poesia demais para pensar em métricas, rimas e formas. Queria apenas flanar. Era o seu primeiro vôo e, como o Senhor havia ensinado (Sim. Na paixão, há ensinamentos, na dor, adestramentos e no fervor, fibrilamentos), não havia tempo dentro de um tempo que não há. Quanto tempo? Diante de tanta poesia não houve tempo, houve troca. Um balé tão perfeito que parece ter sido feito, ensaiado e apresentado a um Imperador. Aos poucos ela sentiu um vento frio lhe cumprimentar os lábios. Sua calcinha fora puxada com tamanha delicadeza, charme e precisão que ela sentiu, mas não sentiu. É quando estamos sem sentidos que sentimos o sentido, diria Dom Demétrius, mas nada disse. Não com vozes de cordas a vibrar em gargantas. Disse mais. Com seu corpo, falou ao corpo dela. E ela ouviu cada palavra. Um recital que de tão concorrido foi apresentado somente a um. A ela. Indivíduo individual único. Esse é você, rapaz! Um dia falaram isso. O vento ia frio, firme, tão constante que não parecia de boca alguma. Pulmão não segura tanto. O hálito era de homem macho, a pressão era de Deus-fêmea, tamanha a precisão. Jezebel ouvia claramente a música que aquele vento tocava. Odalisticamente contorcia músculos, rodopiava cintura e entendia, sozinha, o que era ser mil em uma, uma à mil. Seus pés eram tocados, igual. Ela percebia que aquilo era mais que prazer. Era mais que ela. Nada foi feito igual antes. O que era aquilo? Se não há tempo para que pensar em espaço? Seu corpo sabia seguir o ritmo daquilo tudo, ela apreendeu a soltar e ao invés de guiar, permitir-se ser guiada. Por seu corpo. Dom Demétrius não era um homem de pouca cultura e saber, logo entendeu que o momento era dela. Aceitou, sem medir forças, e concentrou energia no fazer sentir daquela mulher. Ela respirava forte, mas sem forças. Não era algo que mexeria com a libido de espectadores de filmes de excitação. Era algo que burilaria o perceber de sacerdotes. Era energia que, embora vindo do centro sexual, vinha pura. Era uma cena. De longe, duas pessoas paradas. De perto, duas pessoas paradas. De dentro, nada no centro-par. Tudo era tão ímpar que o encaixe não podia ser mais preciso. Uma obra de cubismo que tinha tudo do impressionismo surreal. Dali e Picasso fazendo (não dividindo, fazendo de compor, por e criar) o mesmo quadro, usando o mesmo esquadro. Não existiria, nunca, examinador com habilitação, habilidade e capacidade para analisar a obra. Competência é algo que nasce, meio a qualquer coisa e pode ser visto como coisa alguma. Quem tem visão, vê. Quem não tem acha bonito, mas ninguém tem coragem de jogar fora. Uns por reconhecerem o valor, mesmo sem saber qual, de fato, é. Outros por reconhecerem o peso, embora não pensem em pegar. O sopro tântrico entrava naquela mulher e fazia sua kundalini subir, descer, oscilar. Demorou muito tempo até que o tempo atingisse seu mais alto sabor. Da troca, da dança da mão com a energia dela, do sopro de Sua boca em boca, aquela saiu um feixe de luz. Jezebel gritou quando sentiu dedos em si. A música era tão suave que aquela balada-rock a assustou. Embora dentro da mesma medida, a assustou. Um susto que a despertou para uma viagem maior.
- É preciso sair do lugar para chegar a lugar algum.
Sim, Ele disse isso.
Sim. Ela, embora totalmente fora do corpo, ouviu.
O toque não precisou ser pleno, foi rápido e de precisão cirúrgica.
Um dedo, rápido.
Dois dedos, zap.
Três e quatro dedos.
Não. Ela nunca passara do um, sentia-se incomodada com dois, abominava três e achava sem noção quatro.
A noção não estava mesmo ali e isso há algum tempo no lugar que não tinha tempo algum.
Seu líquido fornecia mais que lubrificação. Era a permissão carimbada em três vias e assinatura reconhecida em cartório.
Dom Demétrius olhava aquela mulher de olhos arregalados, corpo no ar, cintura contorcida e sentia seu prazer ser mais seu. Era o preço por tê-la ensinado a ir além do jardim e olhar mais atentamente as flores. Agora ela sabia que existia perfume, textura, cor e desenhos. O jardim era mais que um quadro, era uma paisagem composta dentro de nós. Com cordas sem fim.
- Quantos dedos, Senhor?
Aquela louca que se fingia de mulher queria saber. Ela assumia sua real faceta. Um ser disposto, disponível e à disposição para uma plena exploração de prazeres.
- Três? Quatro? Sim. Ele trepava com a mente daquela mulher e não daria tudo tão fácil assim.
- Ah!
Ela estava perdida. O minúsculo jardim era grande demais para ela.
- Três? Quatro?
Ela repetiu essa pergunta algumas muitas vezes (até fora dali, de tudo o que mais ecoou foi áqüea resposta). Ele não respondeu. A olhava com cara de riso, dentes a mostra, olhos brilhantes. Mais que diamantes. Mais que o ambicioso – e suicida! – garimpeiro pode brilhar.
Sua mão era grande. Sim. Grande e daí? Quando se tem prazer, o tamanho importa menos que a excitação gerada naquele momento.
Entrava, saía, voltava a entrar.
Jezebel brilhou inúmeras vezes. Sob a luz da ribalta fez sua glória de uma glória nunca gloriada antes. Gloriosa ventura, aqueles que, a essa altura, ainda conseguem voar.
Mil vezes foram as quantas de seus espasmos.
Mil voltas em estádio lotado.
Mil ladainhas em busca de uma graça e glória (olha ela aí de novo).
Ela não dava conta e ciência de que seu corpo já não agüentava mais. Mas ia. Só ia. Ela não sabia voltar e se Ele ficasse ali, ali seria a sua morte. Verteu toda a água da represa. Seca, gemia sem fim, eram os nós, as cordas.
Sem fim, gemia seca.
Dom Demétrius não parou como começou. Tirou a mão que apertava os bicos de seus seios, puxou todo Ele de dentro de si. Levantou.
Qual um homem que acabou de chegar da rua, sorriu em cumprimento e ofertou uma água que estava em uma bandeja próxima.
Não, a bandeja não estava ali. Chegou enquanto eles estavam ali?
Ele bebeu a água sem se importar com a chegada dela. Poucas coisas ainda importavam depois daquele sentir.
- Agora dorme. Precisa.
Não disse mais nada. As luzes, automaticamente e sem movimento algum Dele, se apagaram, a música mudou para a mesma de ninar criança e se fez breu naquele lugar.
Jezebel estava em outra sintonia. Nem mesmo conseguiu responder o óbvio “Sim, Senhor”.
Adormeceu. Era uma ordem.
























(continua na próxima semana?)

5 comentários:

  1. Essa sensação mágica de sair de seu próprio corpo, como se estivessemos flutuando, sentindo um prazer nirvânico, sem que deste corpo (que aparentemente se encontra inerte), nos afastemos de fato um centimetro sequer, é deliciosa....

    Com certeza, quem ja pessou por algo do gênero, sabe o que Jezebel sentiu.

    Mas é claro, muitas coisas ainda estão por vir, e nem chegou na melhor parte....rs.


    Beijos carinhosos e respeitosos,

    ÍsisdoJun

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  2. faço minhas as palvras de Isis
    e como ser perder e se achar depois
    oh deliciaaaaaaaaaaa

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  3. Essa trama que envolve Dom Demetrius e jezebel nos capta de forma eletrizante. Sedutora história, lindo texto, magnificas imagens que deixam fortes impressões em seus leitores.
    ansiando pela próxima parte.

    bjs respeitosos

    ana.mmk

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  4. ô práxima semana que nunca chega... =(

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