Área particular. Mantenha-se afastado!

Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dom Demétrius e Jezebel - A insubmissa [Parte 002]

Dom Demétrius e Jezebel - A insubmissa

Saíram de São Salvador, a cidade dos Orixás, passaram por Lauro de Freitas e logo Sauípe, e suas praias, um presente aos olhos.
No caminho ela ainda pensou em pedir para parar em shoppings, lojas e similares para comprar algo, mas optou por calar. Aquele Senhor era astuto e se precisasse comprar algo seguramente Ele diria.
Apenas seguiu.
O percurso entre Salvador e a Costa do Sauípe não demora mais que quarenta e cinco minutos. Eles rodavam a duas horas.
- Senhor, daqui para frente é Sauípe, é o Senhor quem tem que dizer para onde vamos.
- Por favor, Jezebel, siga em frente.
- Então não saímos da estrada, Senhor.
- Se “em frente” for sair da estrada, saia, do contrário, se “em frente” for apenas seguir em frente, por favor, não saia da estrada.
Nesses momentos ela sentia um certo distanciamento Dele, mas não conseguia identificar se era por jogo ou algo natural a Ele.
Chegou a refletir se não estava diante de um psicopata que usava o termo Dominador. Nessas horas seu corpo tremia, sua mente mandava voltar, seus pensamentos viravam um caos.
No intimo, o cômodo vinha de sua tranqüilidade, segurança e total ausência de demonstração de não saber o que fazia.
Conversaram, brincaram, sorriram, mas ainda assim Ele parecia distante, ausente. Era como se a conexão Dele fosse - estivesse - em outra esfera.
Um homem que conseguia ler respiração, transpiração, olhar, gestos e até pensamentos. Isso era amedrontador. Ou será que ela quem somatizava tudo e dava-Lhe super poderes?
Ainda assim, se existiam super poderes, existiria algo que os anulasse. Uma fraqueza que fosse. Ela daria uma lasca de seu couro para saber qual era a criptonita daquele super homem, ou qual a identidade secreta daquele Batman.
- Por favor, diminua, Jezebel.
Ela fora tirada de seus pensamentos.
- Encoste à direita.
Era uma sequencia de algumas muitas lojas á beira da estrada, o estilo era de cidadezinha de uma rua só, design impecável, cores sem igual e algumas com bambus em suas portas.
Segundo a crença local o bambu limpa o espírito.
Ela estacionou, sem falar nada Ele desceu de um salto. Andou até a loja de número dois, entrou, saiu, entrou na de número quatro, saiu, entrou na cinco e saiu. Como em todas, com sacolas.
Pelo tempo que permaneceu, tudo estava separado e pronto. Não daria tempo nem mesmo de pagar.
Quando voltava para o carro, todas as lojas estavam com vendedoras em suas portas. Elas olhavam para Jezebel com curiosidade e para Aquele homem com uma certa intimidade. Ou seria desejo? Alegria por terem vendido uma boa quantia? Quem sabe não conta, quem conta é porque não sabe.
Jezebel, uma compulsiva por controle notou e não segurou a língua. – Elas vieram se despedir do Senhor.
- Sim, a elas não precisei ficar horas em chat, MSN e ligar com antecedência para tentar algo.
Bastou, Jezebel irrita-se e não consegue esconder.
- O Senhor é sempre tão seco, rígido e duro assim? Tem sempre uma resposta para tudo e nada o atinge? Tem emoção aí dentro? Ela estava vermelha, verde, rosa-manjericão e mais algumas cores do alfabeto.
Ele se ajeita na cadeira, olha para os lados, se despede da trupe, olha para a frente e como se nada houvesse acontecido manda Jezebel seguir.
- Segue, mulher que teu tempo é minha hora.
A submissa engole a seco, indigna-se ainda mais, porém recobra o centro e segue sem questionar.
Não percebe-se como, mas aquele homem tinha grande poder de persuasão sobre Jezebel. Nem mesmo ela se dava conta disso e talvez esse descuido podia lhe sair caro mais a frente.

Dez minutos se passaram sem que as palavras fossem verbalizadas.
Jezebel sentia próximo seu destino.
Dom Demétrius olhava para o nada, vez e outra sorria visivelmente e isso intrigava Jezebel, mas o que fazer? Perguntar? O Dom havia se mostrado intolerante a perguntas e rápido nas respostas ferinas. Melhor apenas pensar. Melhor apenas morrer de tanto pensar.
O sol era um algoz e mesmo com ar condicionado sua força se fazia presente.

- Por favor, entre no próximo condomínio, Jezebel.
- A direita ou a esquerda, Senhor.
- No próximo, independendo do lado que esteja esse próximo. Aparentemente a resposta pararia por ali, mas Ele rigidamente e visivelmente irritado seguiu: - Quando desenvolverá o entendimento de que obedecer é somente obedecer? Quem comanda dificilmente dá menos informação do que o necessário. Cabe ao comandado entender que é só obedecer, seu papel é aquele.
- Eu entendo Senhor, mas estou dirigindo e preciso me preparar caso a entrada seja do outro lado.
- Oras, sábia, astuta, perspicaz e inteligente submissa (fala com ironia), sendo eu o comandante, não seria comum, se fosse do outro lado, o comando ser “se prepare para entrar do outro lado”, Jezebel?
- Sim, Senhor. O Senhor tem razão.
- Acredite, queria não tê-la. E o condomínio acabou de passar. Ele diz sorrindo. Ela desespera, enfia o pé no freio e grita. – Aí meu Deus!
Ele cai na gargalhada - A primeira de muitas - diante da confusão mental e erros tão crassos daquela mulher que distante Dele dificilmente erra e nunca admite o erro alheio. Ela se contagia e sorri também, mas logo cai em choro compulsivo.
- Calma Jezebel, eu sei que está emocionada por estar aqui.
- Não Senhor, estou nervosa, sem saber o que fazer e menos ainda sem saber o que vai acontecer. Ela fala sem parar nem mesmo para respirar. – Sempre reclamei das submissas que vão sem planejar e eu estou fazendo o mesmo. Não avisei a ninguém do meio que vinha, cancelei compromissos importantes e estou a Sua mercê. Me comporto feito adolescente, erro qual mulher burra e sinceramente me desconheço. Ele a abraça, ela chora ainda mais.
- Jezebel... Entendo o que diz e concordo com tudo. A solta e olha dentro de seus olhos. – Por outro lado, se fosse diferente não seria. O que faz agora é pagar o preço por estar comigo. Ou paga ou não está.
Posso matá-la? Sem dúvidas que posso, mas que graça teria? Se posso vira-la do avesso, por que tiraria seu sopro de vida?
Vem comigo, relaxa, vamos rir um monte e sofrer um monte que a vida é feita disso. Uma gota de felicidade para cada três temporais de algo que entendemos e interpretamos como infelicidade. E quer saber da melhor? Adoramos tudo isso! História alegre não vira Best Seller se não tiver muito sofrimento no meio. Vem comigo e aprenda a fazer milagres. Mutar sem vergonhice em filosofia de vida.
Ela cai na gargalhada e completa: - Louca! Eu sou louca! Quero isso!!! Muito! Quero!
Ele sorri e pede para que ela dê ré até a entrada do condomínio.
Uns vinte metros para trás e eles estão na cancela. O segurança, estranhamente, não olha para o motorista e sim para o carona e a um manear de cabeça, abre a cancela sem titubear.
Jezebel estava pronta para pegar documentos, dar espaço para o segurança falar com o Senhor e se perdeu ao ver a facilidade e sincronismo de tudo. O carro sai trôpego. Ambos riem.
Já um pouco acostumada com aquele Senhor, ela segue em frente. Rindo explica muito mais pensando em voz alta que realmente explicando.
- Jezebel, nada foi dito, logo siga em frente. Um comandante nunca fala demais, se nada foi dito, siga em frente, Jezebel.
Ele sorri e alegremente a trata feito um cão. – Muito bem, Jezebel, muito bem! Viu como meia dúzia de broncas curam até o mais doente dos dementes?
Ele fecha o rosto. – Esperava uma piada onde ambos fossemos rir. Tentou puxar o humor para o seu lado.
- Sempre espere piadas em que Eu ria, Jezebel. A próxima rua a direita, a última casa, por favor.
Ela não falou nada.
O condomínio tinha apenas três ruas. A de entrada, uma a direita, outra a esquerda. Parecia um T e ao final de cada rua havia uma praça tão grande e bela quanto as casas.
O condomínio parecia vazio.
Um luxo só.
Umas vinte casas imensas no estilo Ville Du Florence Vitoriana, sem cercas em suas varandas, com vasto jardim a sua frente. Pé direito duplo, colunas largas, muito vidro e as poucas cores que surgiam eram claras, quando muito pastéis. A pintura não parecia pintura. Tudo era muito natural. Coisa de outro mundo.
Um luxo de impressionar e ofuscar qualquer tentativa de qualquer outra investida que não fosse tão imponente quanto.
Na rua solicitada as casas eram ainda maiores, mais largas. Estava claro que aquela rua era do crème de la crème daquele local.
Jezebel, sempre acostumada ao luxo, não se impressionaria, mas impressionou. Não tinha como ser diferente. Não comentou uma só palavra, mas seus olhos brilhavam diante de algo tão imponente.
A última casa daquela rua seguia o padrão das outras, mas de alguma forma parecia maior, parecia mais imponente. Combinação de cores? Adornos? Posição?
Na frente dela havia um terreno vazio, por isso era a última.
Quando ela ia subir a rampa que dava acesso a enorme porta principal a garagem se abriu. Ela não fez nada, Ele não fez nada. A garagem se abriu.
Ela olhou para Ele e diante de uma confirmação com a cabeça entrou.
O corredor era largo, suas paredes feitas com cerca viva. Tão verde, tão brilhante que inibia. O perfume daquelas flores invadiam mesmo com o carro totalmente fechado. A cada rolar de rodas ela sentia que entrava em um outro universo.
Cento e oitenta e dois metros lineares de muro, de casa. Algo pouco visto.
Ao final, um espaço ainda maior. Uma mistura de jardim, campo, espaço livre. Difícil explicar, difícil entender.
Ele desce rápido e pede para ela descer. Quando ela ia pegar a bolsa Ele diz que nada do que está ali ela precisará. Óbvio que ela pensa no telefone, mas nada diz.
- Vem.
Dito isso Ele passa para o corredor oposto da casa. Largo, muito largo para pessoas, mas pequeno para passar um carro como o dela. Outra cerca viva, outra espécie de planta, verde do piso às paredes.
Alguns muitos passos e Ele pára de frente para uma porta enorme no tamanho, altura e largura. Um vidro amarelado, côncavo, diferente.
- Quer entrar Jezebel? Ele pergunta olhando-a. Ela apenas move a cabeça em confirmação. Ele não faz nada e a porta se abre.
Mesmo de cabeça baixa ela notou que não foi Ele a abrir a porta, ao levantar a cabeça não viu quem podia ser. Entendeu que não estavam sozinhos.
O que estava por trás da porta era um corredor de teto arredondado, ricamente ilustrado e que assemelhava-se ao teto de igrejas.
Quando houve a total abertura da porta uma forte energia saiu dali. Ela não sentiu somente o vento a mexer em seus cabelos, pareciam fantasmas a lhe averiguar todo o corpo. Sua espinha gelou, seus olhos ficaram turvos, sua lente quase perde o contato. Arrepio!
As paredes eram altas, um pedaço de madeira, outro de cimento rústico. Um pedaço com quadros assustadoramente lindos, impressionistas que mostravam a dor, cenas de uso de escravos, de pessoas, de coisas e animais. O bizarro estava ali, mas mostrado de uma forma tão artística que não causava nojo, asco. Incitava o prazer. Outro pedaço com armaduras de várias épocas, estilos, partes do mundo, espadas de todos os argumentos já existentes, todas com marcas de luta, restos escuros que podiam ser sangue. Acessórios que ela nunca vira. Facas com marcas visíveis de uso, cordas que já foram claras, mas estavam escuras. Coisas, muitas coisas.
Ela tremeu. Congelou. Não sabia o que responder. Aquele lugar entrara nela e a atordoava mais que ópio. Sua coluna estava rígida, uma tremedeira nunca sentida antes. Jezebel sempre buscou cenas em que fosse subjugada e, até então, só achava aquelas em que encenava por fora e duvidava, até mesmo de si, por dentro.
Diante de sua estatuação Ele quebra o gelo. Voz calma, Ele já não era mais a mesmo, seu olhar era negro, seus cabelos voavam mesmo sem vento. Ele não pisava no chão. Estava mais alto do que já era, seu brilho era uma capa de segurança surreal e ar de algo ainda não visto.
- Olha... não precisa entrar. Aqui pode ser o lugar onde nascerá, mas o nascimento implica em morte, então é o lugar que também morrerá.
Não posso obrigá-la a entrar, o primeiro passo deve ser seu, mas uma vez que pise nesse corredor, estará autorizando-me a usá-la como quiser.
Lá dentro o certo e o errado o são segundo conceitos meus e podem ser manipulados segundo minha vontade.
O corredor é longo, a vida é curta e, se eu estivesse no seu lugar, sinceramente, não entraria.
E aí, Jezebel, vai voltar e passar o resto da vida pensando em como poderia ser se entrasse ou vai entrar e enfrentar seus monstros, seus bichos, seus primais?
Eu não entraria. Não mesmo.
Sua voz oscilava de uma forma que parecia o canto de uma sereia, o vibrar de uma gueixa, o gargalhar de uma pomba-gira, o tilintar compulsivo de um vampiro.
Ela era toda pavor. Se olhasse para Ele via seu pavor refletido em Seus olhos. Se olhasse para o corredor algo a seduzia, chamava e ao mesmo tempo implorava para ela não entrar. Ela sentia presenças ali. Pensou em morte, sua mente se permitiu viajar. Foram necessários apenas - e somente - alguns poucos segundos para ela juntar todas as peças do quebra-cabeça. A chegada, o jeito soturno, o ar de psicopata, as respostas tão precisas e rápidas, mas breves, o farto conhecimento acerca do caminho, a aparente intimidade com as meninas das lojas, o mistério natural. Sim, Ele era um psicopata rico e poderoso. Ela não sairia viva dali!
Claro, entrar seria loucura, mas não entrar poderia ser algo sem sentido, afinal Ele estava ali, ela estava ali.

De um salto lembrou que, mesmo Ele sendo conhecido no meio ninguém que o serviu estava no meio para contar a história. Será que Ele as matava?
Jezebel era um liquidificador de pensamentos, a porta era uma árvore com frutos maduros, belos e aparentemente saborosos, mas alta e com uma visível e incontestável placa em neon: Pegue, mas pague o preço.
Só que em nenhum lugar estava escrito qual era o preço.
A frente dela um Mercador astuto que não dava margens para muitas negociações, tinha um sorriso de carrasco, o mesmo que sempre usa um capuz tão grande que não conseguimos ver seu sorriso, apenas sentimos. Um algoz sem alma e disposto a tudo por 48 horas de jogo, um viciado, compulsivo.
Será que Ele saberia a hora de parar? Será que existia a intenção de parar?
Sua mente tinha dores de tanto pensar.
Mas será que Ele esperaria todo esse pensar?
Filmes passavam, perguntas surgiam sem respostas e Ele, a sua frente esperava uma posição dela.
- Jezebel? Ele a chama de volta aquele momento.
Ela não respondeu, mas olhou-O dentro dos olhos.
- Esta sol, a hora passa e eu não ficarei todo o final de tarde aqui. Não a obrigo a entrar, mas precisa decidir se entra ou sai.

Jezebel o olhou, uma lágrima escorre de seu rosto. Não foram duas. Somente uma desceu. Visivelmente percorreu seu rosto. Da maça ao queixo. Com uma força incomum a gota de lágrima caiu em seu busto, molhou seu vestido. Ela abaixou a cabeça.



(continua na próxima semana?)

3 comentários:

  1. Senhor, que dificil decisão a de Jezebel.

    Com os detalhes ricos e claros, porém, misteriosos, qualquer pessoa sã, ficaria aterrorrizada e cheia de dúvidas.

    Mas todo jogador sabe que , uma vez dentro do inferno, deve abraçar o capeta.....rs

    Aproveitando para agradecer o elogio que fez ao meu blog.

    Seja bem vindo sempre que desejar.

    Abraços respeitosos,

    ÍsisdoJun

    ResponderExcluir
  2. Continua!!!!!!!!

    Bem, acredito que o momento de recuar já passou...

    Agora é ir até o fim.

    Vida e morte sempre andam de mãos dadas.

    A magia está no ato de renascer.

    ResponderExcluir
  3. Não sei até que ponto é dificil decidir, mas é aterrorizante sim.
    Mas porque nao correr o risco e entrar?
    O jesebel de sorte rsrsrsrs
    Curiosa aqui para os proximos capitulos

    nila

    ResponderExcluir