Área particular. Mantenha-se afastado!

Era uma vez um Dominador nada louco que fundiu a fantasia com a verdade e aqui vem contar algumas de suas disparidades.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dom Demétrius e Jezebel - A insubmissa [Parte 001]

Dom Demétrius e Jezebel - A insubmissa

Antes precisamos entender como tudo começou...

Havia um mês que se falavam. A ousada submissa o abordou em uma sala de chat. Sua liturgia era impecável, suas falas – precisas! – e sua postura fascinavam até o menos litúrgico dos Dons.
Na primeira semana ela foi com tudo para cima de Dom Demétrius, enviou todos os dados possíveis, cabíveis e até os inimagináveis.
Ele não precisou pedir nada. Ela, sabedora de suas funções, fez tudo como leu – e mandou – seu figurino. Dentro dos conformes, como diriam no passado.
Para ele foi bom, pois seu trabalho resumiu-se a observar.
Na primeira semana ela foi com tudo para cima do Dom, apresentou seus poucos limites, sua disponibilidade e a lista de Dominadores que já serviu, o motivo da dispensa e quanto tempo passou sem um e outro.
Seus dados eram precisos, seu português irrepreensível, seus e-mails? De muitas páginas. Suas observações, embora coerentes, sempre cercada de preconceito e julgo. Ela era a melhor em tudo. Seu respeitado cargo público não deixava margens para argumentações, afinal quando entrou eram quatro mil candidatos para uma vaga. Ela passou em primeiro, sozinha. 89 pontos quando o segundo melhor colocado conseguira 72. Ela lembra, e fala em qualquer oportunidade, disso até hoje. Conhecia o sujeito. Um fraco de físico que concentrou todas as suas forças no intelecto. Esqueceu do emocional e era chacota por onde passava. Ela conhecia e sabia da história de todos. Afinal sua melhor persona era a de amiga do peito. Real, sincera e acolhedora confidente. Até porque se o problema fosse dinheiro ela resolvia independente do valor. Claro que, com jeitinho, falava a todos depois.
Na primeira semana ela foi com tudo para cima de Dom Demétrius.
Só não agendou jogo porque queria sentir-se mais desejada.
O caríssimo e experimentado Dominador não se mexia. E nem precisava, na primeira semana ela foi com tudo para cima do Dom! Ele não precisou fazer nada. Ainda assim, vez e outra, se assustava com alguns comportamentos e falas daquela mulher.
Louca? Desequilibrada? Demétrius preferia pensar que era uma pessoa de bem com a vida, calejada de tanto repetir padrões e por isso ia com tudo para cima de seus alvos-Dominantes.
Mas ele não cedeu. Como todo bom observador, apenas olhou, ouviu e – quando dava – sorriu.
Passado uma semana toda aquela impulsividade com total ausência de uma resposta a altura, em igual tom, passou. Senhor Dom Demétrius passou a ser chamado apenas de sr (assim, em minúscula e sem ponto. A mesma abreviação de risos na internet).
Mas ele gostava daquele perfil e acreditou que poderia se divertir bastante ao averiguar, in loco, o que aquela baiana tinha.

Era sexta-feira 13 e o telefone dela recebe uma mensagem às 10:23 da manhã: Estou no aeroporto de Salvador, por favor esteja disponível, na praça X, NºY, para me levar à Costa do Sauípe às 16 horas e ficar o final de semana lá comigo.

Se para desenhar o perfil dela precisei de uma página para o dele, preciso apenas de um espaço de linha: Sádico, Dominador, Libertino, Filho de puta com puto.
E não necessariamente nessa ordem. A que o leitor desejar, Lhe cairá bem, afinal o mundo tem poucos Demétrius e menos ainda com um perfil tão diretamente desenha. Nanquim com sangue e bico de pena.
Ela recebeu a mensagem, se assustou. Não soube o que fazer, ligou para todas as submissas num raio de dez milhões de quilômetros. Com elas, o chamou de louco, disse que não responderia, mas ao acabar de falar com a submissa de número 321, ligou para Ele.
Claro, Ele nem deu bola para o celular. Estava ligado, ela ligava compulsivamente, Ele via todas as ligações, mas não atendeu nenhuma. Ria por dentro ao ver o desespero daquele rato de laboratório em um labirinto de papelão. Explorava todos os cantos em busca de um saída. Naquele exercício não havia cheiro de queijo, circulação de ar, piso com textura diferenciada. Era tudo tão igual que o diferente não seria notado. Não ali, não com Ele.
Ela ainda chegou a ligar para alguns Dominadores afim de pedir orientação, nenhum, ao saber que se tratava de Dom Demétrius quis dar opinião. Salvo um. Dom Deméntius. Ele desequilibradamente não temia (leia-se respeitava) ninguém e não precisou ouvir toda a história para, cuspindo ao falar compulsivamente, soltar seu julgo padrão:
- Uma porra que Dominador manda mensagem de celular para submissa sem marcar jogo! É um corno! Deve ser mais um desses brochas do meio que não tem disposição para arrumar mulher e fica comendo submissa. Olha: não vai! Deixa esse viadinho esperando para ele ver que é você quem manda, minha filha. Se ao menos fosse eu, vai lá, porra! Mas esse bostinha do Demétrius é um brocha mesmo. Quer ir, vai, mas se prepara que ouvi dizer que ele nem trepar trepa! A esposa – ela interrompe perguntando se Demétrius é casado, pois ouvira dizer que não e ele segue se contradizendo – Se é casado eu não sei, sei que é corno. E manso! Sei não, mas até ouvi dizer que ele gosta de pegar em pau de submisso... Sei não...
A submissa desligou consciente de que Deméntius era muito bom para passar informação, mas nem sempre sabia do que falava.

Às 16 horas ela estava nervosa, aflita, desesperada. Não houve tempo de se arrumar, não houve tempo de se maquiar. Ela foi. Jeans, camiseta e sem mala. O intuito era conversar com Dom Demétrius e combinar uma outra data, falavam a um mês, mas nunca haviam se visto. Nem por cam. Como ela o reconheceria?
Durante todo o percurso tentou, em vão, ligar para Ele. Pensou em desistir mil vezes, pensou em não ir. Mas algo dentro de si, talvez a postura tão segura que Ele empregava, a fez ir.
Estacionou, milagrosamente, em frente ao citado número. Um dos melhores restaurantes da fina flor soteropolitana.
Ficou parada na frente do restaurante, ligou. Ligou de novo, até que um homem de tez clara, alto, bem vestido, barba capitão do mar, bate seguida e suavemente, assustando-a, no vidro da porta do carona de seu carro. Era Ele?
Ela não tinha como saber, mas suas pernas sim. Tremiam.
Ela destravou a porta e Ele entrou de um salto. Ela saltou. Seu coração disparou, o suor, algo que lhe era raro, verteu qual rio, sua maquiagem pouca virou uma sufocante máscara, ela não sabia o que dizer.
Aquele homem de olhar maduro, seguro e fixo a olhou dentro dos olhos como quem procura algo, como quem entra para procurar algo. Ela não conseguiu falar, Ele não precisou falar.
Ao sorrir seus dentes eram alinhados, amarelados pelo uso de cigarro, charuto e vinho.
- Siga, por favor, Jezebel.
Era seu nome verdadeiro. Ela nunca havia dado-o a ninguém do meio. Não gostava dele.
Se assustou e mil coisas passaram em sua mente naquele instante. Alguns pouco segundos são mais que suficientes para que horas passem qual uma tsunami em nossas mentes.
Mesmo trêmula a experiente submissa conseguiu forças para iniciar um diálogo sem sair do lugar.
- Senhor, por favor, podemos falar antes? É que eu tenh..
Antes dela acabar de falar, Ele interrompe. Sua voz era grave, mas harmoniosa, seu ritmo tinha a mescla de um canto gregoriano com ópera rock. Algo incomum e difícil de visualizar, mas encantador ao ouvir. Basta uma canção para a paixão fluir e o vicio de querer ouvir se instalar.
- Por favor, siga, Jezebel.
Ela olhou dentro de seus olhos, queria bufar, gritar e até surtar, mas sua resposta com o olhar firme e sereno a fez voltar-se para a frente, girar a chave do carro, engatar a primeira e se atrapalhar na simples manobra de sair da vaga. Quase bateu no carro a sua frente, no que estava em sua traseira no que vinha pela rua. Uma fatídica sequência de erros que demonstravam o tamanho de seu nervosismo. Ele não se abalou, nada comentou.
Sentou como um arrogante Rei senta em seu imponente trono, olhou para a frente e como se nada, além Dele, existisse.
Dez minutos em silêncio. Os pensamentos da submissa rodavam qual banana, leite e aveia em liquidificador de lanchonete. Não dava para ver nada, ouvia-se um ensurdecedor barulho e o que antes eram ingredientes isolados passavam pela mutação da alta rotação e viravam um só. Uma vitamina densa, revigorante e poderosa.
Aquela mulher de fala farta nunca teve dúvidas de que poderia falar por até dez horas ininterruptamente, já o fizera em treinamento, o que jamais havia imaginado era que conseguiria ficar calada por dez minutos. E ficou. Tensa, apreensiva, suando, tremendo, dirigindo sem nenhuma habilidade, colocando a vida de todos em risco, mas... ao fim, se sentia morta, morrendo.
Não agüentou o silêncio e, tocando um botão de seu moderno carro, ligou o rádio. Media forças? Testava limites? Quem sabe?
Dom Demétrius não falou uma só palavra e a música seguiu por mais dez minutos.
Num repente a submissa pergunta com voz embargada vinda de uma garganta seca: - O Senhor quer que eu troque de estação, Senhor?
Ele não a olha, sorri e sorrindo, mas firme, mas com a mesma voz de encantador de serpente (que são surdas) ele responde secamente: - Jezebel... não me pediu para ligar, por que tem que me pedir para controlar? O ligar, sem pedir, já foi uma forma de pegar o controle para si, afinal se eu quisesse rádio, o teria ligado, vi onde estão os botões.
Ela tremeu. Não entendeu se aquele leve sorriso de canto de boca era ironia, sarcasmo, grosseria ou Dominação. Ou tudo. Ela tremeu toda.
Não soube o que responder, se enfureceu, ficou vermelha e quando movimentou o braço para desligar o rádio pensou. Refletiu, congelou e, sem saber o que fazer, pediu desculpas com uma voz quase inaudível.
- Desculpe
- Desculpe, Jezebel, eu não entendi. Pode repetir, por favor?
Ele era de uma educação pouco vista, sua fala saía natural, firme e em cadência de quem não fazia posse, aquele era o seu natural.
- Desculpe, Senhor.
Ela abaixa a cabeça, fixa nas ruas e segue.
Ele responde sorridente e relaxado como quem quer dar colo.
- Relaxa, Jê, o clima está chato mesmo. Um calor infernal, não falamos nada e o rádio ajuda a descontrair.
Ela não comprou, mas ainda assim não se segurou:
- Quer que eu desligue o rádio, Senhor?
- Eu prefiro, afinal ouvir seus pensamentos é melhor que qualquer música.
No íntimo, ela sentiu-se invadida. Tremeu e percebeu que estava ao lado de um jogador à altura. Precisava rever as estratégias.
O rádio não foi desligado. Ele não cobrou, ela entrou em si e deixou tudo que estava fora, ficar fora.
Não agüentou ficar lá dentro mais que dois minutos. Voltou como quem volta do caminho da morte: Com uma forte puxada de ar.
- Senhor! Estamos andando em círculos, podemos conversar?
- Estamos sim, sobre o que quer falar, submissa?
O ser chamada de submissa a remete à sua condição. A esquecida quando recebeu o título de super-sub. Deixou de ser submissa para ser a mentora de um bando de ienas que riam sem saber porque.
Ela pensou, ficou um pequeno tempo olhando o trânsito, agindo como quem busca uma rua que está próxima.
- Eu, infelizmente, não tenho controle sobre a minha vida, Senhor. Não trouxe mala, não consegui organizar a minha vida para estar com o Senhor por todo o final de semana. Se o Senhor não se importar, podemos parar em algum lugar e conversar um pouco e depois eu ir para casa?
- Me importo sim, Jezebel. Você, em seu terceiro mail, falou que estava disposta, disponível e à disposição para me servir.
Quando Ele deu uma pausa para respirar, ela pegou o gancho e fez retórica.
- Sim, eu estava Senhor, mas é preciso
Antes que ela acabasse, sereno e muito firme Ele interrompe.
- Quem disse que acabei e a deixei falar? Por favor, eu falo. Quando for a sua vez, aviso. Obrigado!
Suas frases sempre findavam em “por favor”, “obrigado”, “pois não”. Dificilmente de outra forma.
Vendo-a sem ação, Ele continuou.
- Veja, Jezebel, eu não brinco de Dominar. Por uma semana, me infernizou se ofertando, quando perguntei por sua disponibilidade, disse que era senhora de sua vida, ainda sorriu ao dizer que era submissa por opção, pois a vida havia lhe dado total condições de ser uma bela e independente Dominadora.
Depois de uma semana, vendo que eu não correspondia tanto deu uma esfriada, abriu mão da mulher arrogante que se apresentava como submissa e veio como submissa e mulher.
A vi ali e aqui estou. Ou honre o que foi dito durante um mês em longos e-mails ou encosta na próxima esquina que eu descerei.
Não há um outro caminho, ou está a meu serviço e comigo vem, ou está a seu serviço e sozinha vai.
Ele estava sério, seu olhar a olhava fixamente.
A esquina chegou, o carro não parou e diante de seu olhar em aguardo de resposta, ela abre a boca para falar. A voz era de uma mulher decidida, irritada, visivelmente frustrada por haver perdido o controle da situação.
- Mas Senhor, minha vida particular é importante. Eu tenho meus compromissos, não trouxe mala.
- Mas submissa, isso aqui não é uma empresa de patrocínio em que se escolhe até onde e como ir, ou entra com tudo, ou não me interessa estar em partes. Sendo a poderosa que se diz ser, tem o poder de cancelar qualquer compromisso em nome de um final de semana comigo. A mala é dispensável por dois motivos. 1. Podemos comprar o que for necessário no caminho, 2. Só um louco pinta um diamante. Vestir uma submissa é fazer exatamente isso, logo ficará a maior parte do tempo nua.
Reflita, Jezebel. Eu sinceramente não iria, afinal realmente não trouxe mala... Tem seus compromissos... Tem uma vida particular... Eu, educadamente, me pediria para descer e seguiria meu caminho, afinal o que se perde se ficar? Se for, o que se ganha?
Ele faz jogos com a cabeça, mas seu corpo fica fixo à cadeira do carona. No fundo Ele parecia se divertir com aquilo tudo. No fundo Ele sabia que o jogo, que antes era dela, aos poucos, se tornava Dele. Ambos sabiam que alguém poderia perder, que ambos poderiam ganhar e que aquele não era um jogo de jogatina onde um perde e outro ganha, era um jogo intelectual onde não havia perdedores e, independente da cartada, ambos sairiam mais ricos do que quando entraram.
Jezebel só respirava fundo, só pensava. Mesmo com o ar condicionado do carro a 15° sua mente fervia, seu corpo era uma fornalha de 1300°, a mesma temperatura necessária para fazer a espada de um samurai dobrando um bloco de ferro mil vezes.
Pensou, pensou e como Ele não disse nada ela respira fundo e fala como quem pensa sozinha.
- Vamos lá! Eu encaro! Tem que ser assim?! Eu encaro! Eu vou! Seja o que Deus quiser! Não tem como ser tão ruim assim! Eu quero, eu vou! Pronto! Tá decidido! Eu vou! Eu Vou!
Ela dispara e não percebe que se descontrola ao dizer a si mesma o que tem que ser feito. Só não percebe que aquele sereno Senhor, ao seu lado, é quem controla tudo, até seus atos mais impensados.
Ele a olha, ela se toca que está em aparente descontrole. Envergonha-se, respira e sorri com timidez. Ele estava dentro. A partir dali podia configurar, desconfigurar, reconfigurar e fazer o que mais quisesse. Pensariam outros.
Ao retomar o controle de si, ela pergunta como quem nunca surtou. Serena, controlada, segura.
- Para onde vamos, Senhor?
Ele ignora o surto, não diz absolutamente nada sobre ele e responde olhando para a frente.
- Por favor, Jezebel, para a Costa do Sauipe.
- O Senhor se importa se eu for fazendo algumas ligações para cancelar alguns compromissos
- E se eu me importar?
Ela fica constrangida, mas responde sem titubear
- Olha, Senhor, eu preciso avisar o povo que contava comigo para fazer algumas coisas.
- Se precisa ligar, é indiferente eu me importar ou não, submissa.
- Me desculpe, mas para mim não é bem assim. Se o Senhor se importar eu ligo mais tarde, ligo do hotel, sei lá.
Ela não completa sua frase e Ele interrompe com uma pergunta que a desconserta.
- Quem disse que vamos a um hotel?
Ela gelou ao perceber que havia perdido o controle mais uma vez. Aquela mão foi Dele. A mesa estava a favor Dele e sua boca era maior que seu cartão de crédito. Algo realmente descontrolado.
Não houve resposta externa, internamente ela fervia. Sentia raiva mesmo. A serenidade daquele homem beirava a indiferença e isso causava um estranho distanciamento. Ela se via no dia-a-dia com a mesma postura e ao mesmo tempo que aquilo a fascinava, pois em seu entendimento aquilo é segurança e poder, a afastava uma vez que frieza era sinônimo de rejeição.
Tudo que ela alcançou na vida foi justamente para evitar a rejeição. Ela precisava se sentir acolhida, necessária, fundamental, base e se dizia básica. Não era. Já vimos que não era.
Entre indignação e adoração ela seguiu muda. Com raiva, mas muda.
Ele não perguntou duas vezes.
O rádio perdeu sintonia, o carro seguiu pela estrada, eles estavam ali.
Ela desligou o rádio, Ele o ligou de novo.
- Vamos ver que tipo de CD fica pronto em sua cedezeira.
Mexeu para lá, mexeu para cá. Parecia bem familiarizado com os controles do rádio.
Entrou um CD de Axémusic, Ele a olhou dentro dos olhos, ela não entendeu se o olhar foi de aprovação ou reprovação.
Mudou-se o CD antes dos acordes iniciais e os gritos de “Saí do chão”.
O segundo CD era do Chico Buarque. Ao que parece Ele conhecia o CD e disse indo direto a música de número 13.
- Esse é o seu hino nesse final de semana.
A música era Geni e o Zeppelin



- Sim, Senhor.
Sua voz era de quem não estava gostando da brincadeira, havia um “q” de falta de estímulo e um ar de tédio.
Perde-se o prazer pelo jogo? Quando só se perde, sim.
A música entrou como uma faca, mas o efeito foi revigorante. Ao mesmo tempo que a música tocava Ele puxava seu vestido e fazia um bailar de dedos em suas bem tratadas, torneadas, sedosas coxas. Ela teve um misto de tesão e alegria. Seus dedos, apesar de grandes, bailavam qual criança na chuva. A letra não importou, o bailado agradou.
Até o segundo refrão.

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Maldita Geni pra qualquer um, maldita Geni.

Nessa hora Ele pausou o rádio e sorridente soltou a pergunta:

- Quantas vezes, em sua vida, Jezebel, já foi Geni? Quantas vezes foi escolhida mesmo sendo a pior entre as piores?
Ela silencia. Não queria responder, queria pensar. Ele segue fomentando a fornalha de suas lembranças.
- Quantas vezes foi taxada de puta quando ainda era virgem? Quantas pedradas levou por estar em seu canto, Jezebel?
Sua cabeça se abaixa, seu coração dispara e a alegria de antes dá lugar a um pesar. O tempo, mesmo ensolarado, fica cinza dentro de si. Não há sol que faça aqueles dias serem de luz.
Ele repete as mesmas perguntas. Ela olha para a estrada, ele olha no canto de seu olho direito, ela esfria. Não segura e chora.
Se assumiu Geni. Aceitou as pedras, assumiu ter prazer no guerreiro tão vistoso, tão temido e poderoso que era dela prisioneiro. Será que ela, com todos os seus segredos tão seus, teria seus caprichos?
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ele a olhava, pedindo para estacionar o carro, incentivava seu choro. – Bota para fora que não se chora para dentro!
E ela estacionou, e seu mundo desabou qual rio em chuva de verão, são as águas de março...
Quando o choro diminuiu Ele a olhou dentro dos olhos, sem mover muitos músculos aumentou o rádio e a beijou.


Um beijo apaixonado, intenso, vivo. Suas bocas molharam, seus corpos suaram. Sinos? E porque não? Aquela mulher fresqueou ao sentir a boca de um homem buscando a sua. Palmas grandes, dedos longos e força! Seus cabelos recebiam um misto de massagem e puxões, seu cérebro interpretava aquilo como carinho e liberada adrenalina para o corpo. O mundo girava. A outra mão do homem reconhecia o corpo que seria seu, alisava, apertava. Do interno das coxas a nuca, passava pelos seios. Acredito que o sutien de bojo o desestimulou, pouco foi ali outras vezes naquelas gotas de eternidade. Ela visivelmente tremia diante daquele approach. O choro deu lugar a lágrimas de riso, ao ar de prazer que se fazia bailar em si.
Ambos se queriam, ambos se permitiam e ela achou o sentido de estar ali. Era Ele!
Tempos passados, tempos passando, o beijo finda com os olhares fixos em si. Se olhavam quando Ele quebrou a poesia do momento.
- Sendo eu um homem tão nobre, tão cheirando a brilho e a cobre, você vai preferir amar com os bichos, minha Geni?
Ela abaixou a cabeça. Estava totalmente tomada, absorta. Não entendia o que ele falava, não se entendia.
Ele olhou para o rádio, olhou para ela. Abaixou a música e ela entendeu.

A viagem seguiu para a Costa do Sauipe com ele alisando suas coxas e fazendo-a perder a direção por algumas vezes.
Vez e outra, ao ultrapassar um caminhoneiro, ele colocava seus seios à mostra e apertava a buzina para chamar a atenção. Seu carro era alto e não havia como o caminhoneiro ver, mas a buzina em resposta a deixava sem chão. Uma das coisas que havia dito é que não era exibicionista. Gostou do jogo, o acolheu, acatou sem pensar em aceitação.
Certa hora houve uma troca e o que antes eram os seios, passou a serem as coxas. Isso os caminhoneiros viam. Um ou outro aumentava a velocidade, colocando a vida de todos em risco, e os seguia por alguns metros mais.
Ela havia se libertado?
A conversa já era mais solta da parte dela, Ele perguntava amenidades sobre o meio, a vida comum, sobre as pessoas. Ela respondia cuidando do que falava, focando mais no que ouvia.
Vez e outra uma reprimenda. Ela estava com Ele tão dentro que aquilo já não incomodava tanto. Pesava, pois em se autodenominando experiente, uma reprimenda, ainda que por apresentação de conceitos equivocados era de um peso enorme. Sobretudo se acrescido do peso daquele Senhor.





(continua na próxima semana?)

3 comentários:

  1. É... finalmente a sub encontrou um Mestre de verdade... ^^

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  2. Jezebel encontrou um verdadeiro Mestre, e nós, leitores, um escritor sádico
    ( * sorriso).
    Fui rolando a pagina e quando estava no bom da história.....continua na próxima semana ???
    Espero que sim, curiosa para saber o que aconteceu com Jezebel na Praia do Suipe.

    Uma delícia, Le-lo , Szir GanoN.

    Saudações !
    beijos
    ana.mmk

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  3. Esperando a proxima etapa.

    Abraços respeitosos,

    ÍsisdoJun

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